Saber “Como construir uma cultura organizacional resiliente: Mente saudável = Ambiente produtivo” foi a temática do webinar que contou com o apoio da Centralmed. Numa semana em que a saúde mental no local de trabalho foi celebrada, esta conversa foi ainda mais pertinente. Colaboradores saudáveis a nível físico e mental são mais produtivos, pelo que contribuem melhor para o sucesso da empresa.
Filipa Santos, Diretora de Serviços Clínicos da Centralmed, foi a moderadora. As oradoras convidadas foram Maria João Jorge, Técnica Superior do Núcleo de Recursos Humanos da Secretaria Geral do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (SGMTSSS), e Sónia Gonçalves, Professora Auxiliar no ISCSP-ULisboa.
O início ficou marcado pelo vídeo de apresentação do IIRH-Instituto de Informação em Recursos Humanos e pela intervenção de Cristina Barros. A Diretora e Founder do IIRH também encerrou a sessão, agradecendo a presença de todos.
Sónia Gonçalves centrou-se na forma como a saúde mental é abordada na academia. Esta temática tem estado cada vez mais na agenda, substituindo a ideia de doença mental. Antes, a saúde mental era encarada como a ausência de doença mental mas, atualmente, é muito mais do que isso. Nas organizações, a doença mental afeta negativamente a produtividade dos colaboradores enquanto, por outro lado, a saúde mental só a incentiva, melhorando também o desempenho.
Outra grande alteração que se tem vivenciado com o passar dos anos é o foco desta temática, que deixou de ser só da responsabilidade de cada indivíduo, para passar a integrar a responsabilidade das empresas. As relações laborais e o próprio trabalho têm um enorme impacto na saúde mental dos colaboradores, conforme partilhado por Sónia Gonçalves.
Algumas das estratégias que incentivam a resiliência organizacional nesta temática passam, segundo Sónia Gonçalves, por dar autonomia aos colaboradores, sem descartar a orientação, implementar mecanismos de feedback positivo, para além do negativo, se necessário, e clarificar as expectativas para cada tarefa. As organizações devem pensar em práticas que incentivem o bem-estar e a saúde mental.
Questionada sobre o papel das chefias intermédias, Sónia Gonçalves garantiu considerar que é “super importante, mas muito desvalorizado”. Da sua perspetiva, são estas lideranças que têm a capacidade de conhecer as equipas, as operações e as expectativas das lideranças de topo. Têm, ainda, uma importante função de gestão de pessoas e das suas tarefas. Desta forma, acabam por ser as principais promotoras da saúde mental no trabalho, o que se revela uma grande responsabilidade.
Quanto ao papel da academia na formação dos líderes do futuro, Sónia Gonçalves declarou que as competências de cariz interpessoal têm vindo a ser integradas nos planos curriculares. Temáticas como segurança e saúde no trabalho são transmitidas, de forma a abordar a sua relevância. Contudo, na opinião da professora, estes tópicos cingem-se, erradamente, aos cursos relacionados com RH. Deveriam ser abordadas nas escolas, desde muito cedo, visto que as crianças são o futuro do trabalho.
Sónia Gonçalves ressalvou, ainda, que há desafios na integração destas disciplinas nos planos curriculares: são áreas multidisciplinares e, por isso, muito mais complexas; e há falta de investigação desta área em Portugal, adaptada ao tecido empresarial do país e, por isso, há falta de fundamento teórico.
Maria João Jorge apresentou uma perspetiva mais empresarial, considerando a sua realidade. Quando se começou a abordar mais a temática da saúde mental no local de trabalho, a SGMTSSS necessitou de formalidade sobre a mesma, para dar resposta aos colaboradores e passar a mensagem aos que entravam. As principais dificuldades na implementação de práticas passavam pelo orçamentos e pelas burocracias (tudo tinha de estar legislado e, o que não estava, era ainda mais difícil de aplicar).
O primeiro passo, segundo Maria João Jorge, foi “saber quais eram as necessidades dos trabalhadores”, pelo que foi realizado um inquérito. De acordo com os resultados, a prioridade foi a saúde mental, pois afetava mais colaboradores, seguida da formação das chefias intermédias. As sessões de psicologia têm sido, hoje em dia, frequentadas por grande parte dos colaboradores, o que é bastante relevante. O propósito tem sido o combate ao estigma, para que todos estejam à vontade para falar sobre saúde mental.
Maria João Jorge abordou, ainda, a questão da segurança psicológica, que considera de extrema importância. A próxima etapa será a de integrar nas consultas de psicologia, também, os descendentes, pela preocupação destes serem o futuro do trabalho.
“Temos muito a mania de ver os líderes como entidades, mas os líderes também são pessoas e também têm necessidades”
Filipa Santos, Diretora de Serviços Clínicos da Centralmed
Segundo Filipa Santos, o líder deve estar bem informado sobre as questões de saúde no trabalho, percebendo o objetivo desejado para um ambiente seguro física e mentalmente. Já para Sónia Gonçalves, “é importante termos em conta uma mudança de crenças”. A desmistificação permite compreender o que é normal e o que não é. A monitorização do próprio e dos outros é essencial e exige que se fale sobre o assunto. Mas de forma informada, para não propagar os erros.
“As boas práticas têm de ser o comportamento diário”
Maria João Jorge, Técnica Superior do Núcleo de Recursos Humanos da SGMTSSS
Para Maria João Jorge, a teoria não chega, é necessário que esta seja implementada, sem esquecer os valores e os princípios de cada um. “As boas práticas devem começar na relação humana”, defendeu. Filipa Santos deixou uma última mensagem, sobre a cultura organizacional resiliente. O importante é desenvolver: práticas consistentes; lideranças comprometidas; ambientes de trabalho onde mais que na competitividade se pensa na colaboração e na cooperação; e mais cuidado com o próximo.
Assista ao Webinar em: https://www.youtube.com/watch?v=5BQ-QqSh9AU&t=599s