Não é a redução para metade do IRS até 2023, proposta pelo Governo no Orçamento de Estado para 2019, que fará os portugueses a trabalharem no estrangeiro regressarem a Portugal, revela estudo da consultora de recrutamento Hays.
Muitos são os que saem com o desejo de voltar. Partem à procura de melhores oportunidades de emprego e com o objetivo de verem reconhecido o seu potencial. Mas a estabilização da economia portuguesa e o consequente efeito positivo no mercado de trabalho estão a motivar os emigrantes portugueses a voltarem para o país. De acordo com o Guia do Mercado Laboral, desenvolvido anualmente pela consultora de recrutamento Hays e revelado esta terça-feira, 78% dos profissionais portugueses a trabalharem no estrangeiro desejam regressar a Portugal e 43% pretendem fazê-lo já nos próximos dois anos.
Segundo o estudo sobre tendências de emprego e salários, a proposta do Governo para o Orçamento de Estado de 2019, que permite aos trabalhadores portugueses pagarem metade do IRS até 2023, terá “pouco ou nenhum impacto” na sua decisão de voltarem para o país. Pesam, no seu desejo de regresso, os motivos familiares, a vontade de viverem em Portugal, um pacote salarial mais atrativo e projetos interessantes. Quando abandonaram o país, 49% dos profissionais foram à procura de melhores ofertas e de oportunidades de emprego adequadas ao seu perfil – escassas em Portugal. Nos países que os acolheram, 89% dos portugueses viram o seu potencial, capacidades e conhecimentos valorizados.
Hoje, são menos os que querem sair do país. De acordo com os dados do Guia do Mercado Laboral, a percentagem de profissionais interessados em trabalharem no estrangeiro desceu de 80%, em 2013, para 37% em 2018, que foi um ano “de aumentos salariais (74%), aumentos de benefícios (28%) e de promoções (48%)”, em prol da motivação e da retenção dos trabalhadores.
Desafios da gestão de talentos
A escassez de talentos é um desafio que vem sendo apontado pelos empregadores, mas, segundo o estudo da Hays, as dificuldades que enfrentam no atual mercado de trabalho devem-se, adicionalmente à falta de profissionais qualificados (53%), à desadequação entre a oferta de profissionais e as vagas disponíveis (49%) e à pouca articulação entre o sistema de ensino e as empresas (37%). Os dados do Guia do Mercado Laboral revelam que 62% dos empregadores consideram que as instituições de ensino não preparam os profissionais para o mercado de trabalho, o que explica que 65% dos empregadores indiquem que, em 2018, recrutaram pessoas pouco adequadas às oportunidades de emprego que tinham em aberto e que 41% tenham desistido de concluir processos de recrutamento externo para optar por requalificar os profissionais das empresas.
De acordo com o estudo da consultora de recrutamento, os profissionais e os empregadores encontram-se em desacordo relativamente aos fatores valorizados nas organizações. Os empregadores consideram que o ponto forte da sua empresa é o prestígio no mercado (44%), mas para os profissionais é pouco relevante (27%). É a oferta salarial que valorizam (85%) e que, para as empresas, é um fator menos relevante (28%).
Intenções de contratação
“Desde 2016 que se tem vindo a registar uma acentuada clivagem entre as intenções de recrutamento das empresas e a disponibilidade dos profissionais para mudar de emprego, sendo as primeiras superiores”, observa a consultora de recrutamento. Segundo o Guia do Mercado Laboral, 2019 seguirá a tendência que se tem verificado. Os dados revelam que 82% dos empregadores pretendem contratar – percentagem mais alta alguma vez verificada pela Hays – e 70% dos profissionais qualificados assumem ter vontade de aceitar um novo projeto. Os candidatos do Norte são os que, de acordo com o estudo, estão menos predispostos para uma mudança de emprego, em 2019, comparativamente com as regiões do Centro e Sul.
No próximo ano, 30% dos empregadores preveem contratar mais de dez colaboradores e 14% planeiam contratar mais de 30 profissionais. A maioria destes recrutamentos (72%) será consequência direta do crescimento das empresas em território nacional. Entre os perfis mais difíceis de encontrar e os mais prioritários, em 2019, segundo o Guia do Mercado Laboral, que reuniu as respostas de 3.136 profissionais qualificados e 603 empregadores, encontram-se os comerciais (31%), engenharia (30%), tecnologias de informação (26%), administração/suporte (16%) e marketing e comunicação (15%).