Uma bênção para uns, uma maldição para outros, uma certeza para todos: os céleres progressos na inteligência artificial e na automação conduzirão a um futuro em que os robots e o software irão reduzir, significativamente, a necessidade de trabalhadores humanos. Em análise, os níveis catastróficos do desemprego e da desigualdade que se avizinham e o que podem os mesmos significar no que respeita às nossas perspectivas socioeconómicas, às dos nossos filhos e, é claro, da sociedade em geral.
“Imagine uma economia completamente automatizada, onde quase ninguém terá um trabalho (ou rendimento) e em que as máquinas farão tudo. Muito antes de atingirmos esse ponto, os modelos de negócio concebidos para os mercados de massas já serão insustentáveis. De onde virá o consumo? E, se ainda existir uma economia de mercado, por que razão a produção deverá continuar se não existirem consumidores viáveis que possam adquirir o seu output?”
Martin Ford, em Rise of the Robots: Technology and the Threat of a Jobless Future
“Estamos interessados em robots que criem e que sejam criativos”, afirma Hod Lipson, professor de engenharia na Cornell University e director do Creative Machines Lab da mesma universidade. Para aquele que é considerado um dos mais reputados especialistas a nível mundial em robótica e inteligência artificial, o futuro está ao virar da esquina e será com máquinas e software com capacidades absolutamente inimagináveis que nós, humanos, teremos de (con)viver. Mas e apesar de apaixonado pelo trabalho que faz, Lipson confessa, numartigo publicado pela revista de tecnologia do MIT, que esta está a avançar a um ritmo tão acelerado que será provável, ou mesmo certo, que os progressos na automação e nas tecnologias digitais irão provocar convulsões sociais graves – muitos postos de trabalho serão eliminados – em conjunto com o aumento da já tão desigual distribuição da riqueza – serão os mais prósperos que, para não variar, retirarão o maior proveito de todo esta “evolução”.
Dentro de uma década, cerca de 90% das notícias poderão ser geradas por computadores
A noção que nos acompanha, pelo menos desde a Revolução Industrial, de que os progressos tecnológicos destroem alguns tipos de trabalho, mas que criam, em simultâneo, outros tantos, tem servido para acalmar as hostes até agora. Mas e desta vez, como sublinha Lipson”, “as evidências demonstram que a tecnologia está a destruir empregos, a criar novos e melhores, mas também em menor quantidade”.
E este temor de que os rápidos progressos na inteligência artificial (IA) e na automação conduzirão a um futuro em que os robots e o software irão reduzir, significativamente, a necessidade de trabalhadores humanos – e, por conseguinte, alterar as estruturas socioeconómicas – consiste numa das tendências mais “quentes” da actualidade, dando origem a um enorme “mercado” no que diz respeito a pesquisas, estudos, relatórios e, é claro, livros. São inúmeros, com perspectivas variadas e temáticas verdadeiramente interessantes, que o VER continuará a acompanhar.
Mas e desta vez, o destaque vai para a mais recente obra de Martin Ford, empreendedor de Silicon Valley e “testemunha” ocular do que apelida como “A ascensão dos robots e a ameaça de um futuro sem trabalho”, tradução literal do título do seu livro, o qual servirá como base para este artigo. E porquê? Porque Ford não acredita que esta nova “revolução” será como as que a precederam na história da humanidade.
Para o autor, poderemos estar no limiar de uma era que é caracterizada pelo desemprego e desigualdade massivos, acompanhada pela implosão da própria economia de consumo. De acordo com a análise que o The New York Times faz do livro, o que mais assusta nas palavras de Ford é o facto de o autor não sucumbir a exageros ou a dramatismos, suportando todas as suas visões e previsões com uma análise minuciosa das consequências económicas das mesmas. Aliás, um dos “truques” da escrita de Ford, sublinhado num artigo publicado no DailyBeast, reside exactamente na forma inteligente que escolhe para apresentar situações reais, que estão já a acontecer, as quais, numa primeira análise, só poderiam ser realizadas por humanos mas, que, na verdade, já passaram para a esfera e competências das máquinas. Ou seja, a “ascensão dos robots” está já a acontecer e à vista de todos nós.
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Fonte: Portal Ver
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