Autora: Filipa Santos, Diretora de Serviços Clínicos da Centralmed
Há dias, em conversa com o responsável de uma empresa, enquanto enumerava as diversas vantagens do wellness empresarial, este confidenciava-me, com alguma angústia, o investimento que já tinha realizado em programas de saúde e bem-estar nos últimos anos e o que considerava ser o fraco retorno que tinha com essas iniciativas: continuava com a mesma taxa de absentismo, as baixas por doença não tinham diminuído, o envolvimento dos trabalhadores com a empresa continuava a níveis anteriores.
Questionei: “Como foi elaborado o Programa de Saúde e Bem-Estar da sua empresa? Ouviu os seus trabalhadores? Auscultou a sua equipa/empresa de SST?” Os motivos pelos quais os programas de saúde e bem-estar podem não estar a produzir o efeito esperado são, possivelmente, multifatoriais, mas acredito que, em muitos casos, a principal razão é por não se aferir as reais necessidades dos trabalhadores antes de se elaborarem e aplicarem os programas.
Esse conhecimento deverá advir muito através daquilo que são as necessidades percebidas pelos trabalhadores, mas também pelos indicadores de saúde e de segurança que as equipas de saúde ocupacional podem transmitir. Dentro de uma determinada organização, há um espectro de pessoas com necessidades variadas e distintas que vão evoluindo ao longo do tempo.
Se nos recordarmos da teoria das necessidades de Maslow, percebemos que as necessidades humanas têm uma relação hierárquica e considera-se necessário atender e satisfazer uma necessidade de posição inferior para que a seguinte se manifeste e seja reconhecida como necessária, ainda que não exista uma estanquidade absoluta entre elas. Daí a premência de percebermos em que níveis se encontram as necessidades dos trabalhadores.
Que retorno poderemos almejar num trabalhador quando, por exemplo, criamos dinâmicas para trabalhar a sua autorrealização, se não foram primeiramente garantidas necessidades como condições de trabalho salubres, seguras e acolhedoras, equilíbrio entre o horário de trabalho e os períodos de descanso, vencimentos que permitam viver dignamente? Atuando sobre as suas necessidades, as organizações poderão influenciar não só o bem-estar individual e grupal, mas também o familiar.
Para desbloquear todo o potencial dos programas de bem-estar no local de trabalho, as organizações devem também criar uma cultura de saúde, que envolva a priorização e a promoção de comportamentos saudáveis por meio de políticas, práticas e normas que apoiam o bem-estar dos trabalhadores. Um programa de bem-estar, em conjunto com uma cultura de saúde, é a chave para desenvolver e sustentar uma força de trabalho saudável.
Artigo publicado na edição 152 da RHmagazine, referente aos meses de maio e junho de 2024