Autor: Rui Malcata, Diretor da Steelcase Portugal
Faltará, ainda, dizer ou escrever alguma coisa sobre a importância estratégica para uma organização em proporcionar uma boa experiência de trabalho aos seus colaboradores? Não creio, assim como não creio que, se não é esse o resultado alcançado, tal não será por ignorar a sua relevância.
Levante a mão o gestor que não vive com a incerteza, com a escassez de recursos e com a pressão dos resultados e, mesmo que mais ligeiro seja o cenário, viverá seguramente a ter de tomar decisões na posse da informação possível de alcançar, correr riscos e fazer escolhas. Gosto de pensar que não se escolhe não escolher as pessoas.
Na última edição da nossa revista “Work Better”, o nosso editor-chefe, Chris Congdon, lembra-nos que podemos, por vezes, encontrar uma pequena centelha de alegria nas nossas tarefas mais mundanas, bastando, para isso, a mentalidade certa – mesmo quando estamos a “limpar” a “confusão” de outras pessoas. Mas, às vezes, a situação exige mais do que um simples assobiar enquanto o fazemos.
O nosso mais recente estudo global sobre o trabalho, divulgado no Fórum RH e que envolveu colaboradores de todos os tipos de organizações ao redor do mundo, confirma o que muitos de nós sentimos: as pessoas estão a passar por dificuldades.
As lideranças procuram aumentos de produtividade e inovação, como é a sua função, mas embora os colaboradores afirmem que a sua produtividade se mantém estável, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional continuou a diminuir ao longo dos últimos três anos. Quase metade afirma não ter a saúde e a energia de que necessita, não considera o seu trabalho interessante ou envolvente e está preocupado com a sua saúde mental.
Embora os colaboradores afirmem que a sua produtividade se mantém estável, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional continuou a diminuir ao longo dos últimos três anos.
A estes resultados, acessíveis no nosso site e que encontram eco no inquérito casuístico efetuado durante o Fórum, juntam-se as dificuldades relatadas para alcançar os níveis desejados de motivação para ir e estar no local de trabalho. Definitivamente, não são bons contributos para uma boa experiência.
Com esse pano de fundo, encontrar “alegria” (“Joy”, no nosso original) no trabalho pode parecer difícil de conseguir. Mas é possível. Tudo começa com a compreensão de que criar alegria não significa deixar todos felizes a cada minuto do dia – trata-se de ajudar as pessoas a sentirem que são importantes como seres humanos e que elas e o seu trabalho têm valor.
Criar alegria […] trata-se de ajudar as pessoas a sentirem que são importantes como seres humanos
As organizações podem fazer a diferença concentrando-se no que as pessoas realmente precisam para se sentirem bem no trabalho. Na verdade, simplesmente perguntar e levar em consideração as necessidades das pessoas aumenta o bem-estar e contribui decisivamente para a experiência do colaborador.
As organizações líderes já adotam uma variedade de ações e políticas para apoiar os seus colaboradores. Podem redesenhar funções para dar a mais pessoas mais autonomia e controlo sobre o seu trabalho e ajudar as pessoas a ligar o que fazem a um propósito maior.
O local onde o fazem também é importante. Porque a realidade é que uma mudança física no espaço é uma forma visível e tangível de moldar o comportamento e comunicar aos colaboradores o quanto estes são valorizados.
Artigo publicado na edição 153 da RHmagazine, referente aos meses de julho e agosto de 2024