Autores:
Raquel Soares: CEO Beautiful Branding Agency
&
Luís Silva: Head of People Interaction & Brand na Fabamaq
Ninguém cria uma equipa, vamos começar por aí. Deixemos isso para os gurus e proclamadores das invenções das rodas 3.0. A nós, interessam-nos sobretudo as pessoas e a forma como estas se inserem noutros grupos de pessoas. Até aqui, nada de novo. Paremos de afirmar que vamos “dar um jeito”, como é frequente no nosso português. Os efeitos da pandemia na gestão das pessoas são notórios e vieram para ficar, não há vacina que nos livre deles. Cuidemos das nossas pessoas, com todas as mudanças que a pandemia e agora uma guerra acarretam. Não podemos fazer de conta que tudo voltou ao normal, tão pouco ignorar que tudo mudou.
Uma equipa é formada por um conjunto de pessoas que se inserem num conjunto de valores e pilares de uma organização. Mais do que serem designados de tal, devem sentir que o são. No entanto, descartemos desde já o mito de que haverá uma harmonia ideal entre todos os membros de uma equipa. Não há equipas perfeitas, porque também não há pessoas perfeitas. As verdadeiras equipas discutem, argumentam, têm à maturidade suficiente para discordar e vontade para aceitar perspetivas diferentes, mesmo quando não concordam. Nos processos de avaliações das equipas, podemos caír no erro de as vermos à nossa imagem, criticando ou julgando certas questões a partir dos nossos olhos parciais. Quando as equipas são formadas por diferentes personalidades, têm também uma identidade distinta e há que celebrar a individualidade de cada um. A mistura de vários caráteres e o seu resultado deverão ser apreciados, desde que contribuam para o crescimento do negócio em que estão inseridos e para o desenvolvimento da organização na qual que se movem.
Uma equipa não tem de ser necessariamente liderada de forma tradicional, como aliás nos dizem as metodologias ágeis ou a abordagem team of teams. No entanto, tendo um líder formal, é neste que recai a maior responsabilidade de fazer com que as pessoas estabeleçam conexões e construam relações de confiança. Para tal, um líder precisa de se (re)conhecer, já que sem esse autoconhecimento, será muito difícil identificar os seus próprios erros e, por consequência, os erros dos outros. Utilizemos a metodologia que mais gostarmos, seja o DISC ou MBIT, ou mesmo uma conversa com diferentes pessoas sobre as nossas próprias atitudes. Conhecermos os nossos valores, o nosso percurso, aquilo em que somos menos bons e aquilo que somos muito bons, de forma a encontrarmos pessoas que cubram todas as questões técnicas ou as trending soft skills, é o primeiro passo que podemos dar. Ao líder, compete repartir a atenção e o acompanhamento, gerir progressões de carreira e reconhecimentos, mas sobretudo desenvolver um lugar onde os vários elementos sintam que estão a competir com outra empresa e não entre si. As equipas têm necessariamente de ser um lugar seguro. O mundo já é demasiado competitivo, com clientes internos e externos, fornecedores e novas tendências a a emergir diariamente, já para não falar na sombra maléfica que são os anúncios de palestras que apregoam títulos como “Conheça os empregos que vão deixar de existir, para que os robots nos possam servir sem queixas”.
A substituição dos homens pelas máquinas é, de facto, uma realidade. Por esta razão, o recrutamento e papel dos Recursos Humanos são determinantes e cada vez mais valiosos. Há quem pense que as equipas de Pessoas têm sempre opiniões sobre tudo e pensam que são o cérebro dos x-men… Não são, mas podem ajudar a descortinar várias situações se lhes dermos espaço e reconhecermos que não sabemos tudo. É que muitas das vezes podemos cair no problema de tentarmos contratar apenas pessoas que se parecem connosco, apenas por julgamos ser mais fácil gerir as suas tarefas, quando na verdade, é na diversidade que está a evolução não só das tarefas, mas daquilo a que chamamos Equipas.
Reparem: é muito fácil entender a questão da Diversidade. Se todos pensarmos da mesma forma e tivermos todos a mesma visão sobre as situações e sobre o mundo, há pouco progresso, há pouca diferença nas opiniões e perspetivas, poucos conflitos e pouca inovação. As dúvidas e reflexões são necessárias e muitas vezes provocadas por conflitos e argumentações mútuas. Mas estas situações fazem também com que as pessoas sejam mais transparentes e que estabeleçam pontos de confiança. Entenda-se que por conflitos não falamos de episódios de novelas mexicanas. Por conflito entende-se um diálogo que deve ser civilizado, educado, transparente e honesto, podendo até causar algum desconforto no momento, mas que se bem articulado levará a um ótimo resultado a longo prazo. É que as equipas não são feitas de histórias de uma semana, são construídas a partir de momentos menos bons, nos quais se percebe efetivamente a força e a garra de quem temos ao nosso lado e onde construímos degraus que todos sabemos serem fáceis de derrubar e que se aglomeram numa palavra: confiança. Se não conseguimos construir um terreno de confiança para os outros e para nós próprios, não vamos estabelecer relações verdadeiras e duradouras. Não vamos conseguir pedir ajuda quando precisamos, nem oferecê-la mesmo quando não a pedem.
As equipas são feitas de desafios e emoções, momentos em que tudo parece correr mal e um colega nos dá a mão e nos segura para não cairmos. As equipas são feitas de dias animados e muitos sorrisos. De partilha de bons momentos e celebrações do trabalho dos outros, sem invejas ou comiserações. As equipas são feitas de bem-estar e sucessos, sem ser necessário criticarmos os restantes departamentos que fazem parte da nossa organização. Importante realçar que as equipas não são amigos, nem são família. São aquele núcleo de pessoas que nos ajuda a sermos melhores profissionais e melhores pessoas todos os dias. Que têm o dever de nos chamar à atenção quando erramos, mas a quem devemos também dar esse espaço. São feitas de memórias e esperanças, de objetivos e métricas completas a pares ou triplas e a quem no final do dia dizemos “até amanhã”, certos de que o próximo dia será cansativo e desafiante, mas que tudo correrá pelo melhor porque temos uma equipa connosco, que apesar de próxima, não deixa de ser profissional. Quem achar que isto é utópico, que se engane. É que nós vivemos isso diariamente e como os Xutos e Pontapés cantavam bem alto, “não somos os únicos a olhar o céu”.
Vejamos os 10 sinais que nos ajudam a identificar o que NÃO é uma Equipa:
1. Conjunto de pessoas que não suporta as vitórias dos outros;
2. Conjunto de pessoas que constantemente utiliza esse núcleo para fazer assédio moral;
3. Conjunto de pessoas que faz vingar narrativas negativas sobre o trabalho de outras equipas;
4. Conjunto de pessoas que não consegue suportar no seu âmago visões diferentes;
5. Conjunto de pessoas que não entende a mais valia da Diversidade;
6. Conjunto de pessoas que acha que tem de ter conhecimento sobre tudo o que se passa na equipa;
7. Conjunto de pessoas que pela sua insegurança, sede de poder ou simples incapacidade de confiar nos colegas, torna os dias de todos insuportáveis;
8. Conjunto de pessoas que não ajuda outras equipas ou que se queixa delas, apenas porque fazem o seu trabalho e o forçam a fazer o seu;
9. Conjunto de pessoas cujo propósito não é fazer desenvolver o coletivo, estão apenas focados no seu próprio umbigo;
10. Conjunto de pessoas que tudo critica, só vê problemas, aposta na conversa de corredor, destrói a escuta ativa e rejeita comportamentos empáticos.
Embora este conjunto de sinais não seja uma ciência exata, diríamos que, se identificar pelo menos um ponto desta lista na sua equipa, será necessário desenvolver as competências da inteligência emocional coletiva dos seus membros. Se não identifica nenhum dos pontos desta lista, parabéns, é digno de aplauso e com plateia em pé!
Atualmente, caminhamos para um novo paradigma de cuidadores de equipa, com muitos profissionais em constante aprendizagem. Aconselhamos que mantenha uma comunicação constante com as suas equipas, oferecendo todo o suporte necessário e ouvindo atentamente cada elemento que, por ser único, merece ser valorizado.
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