Viajar em trabalho não é uma prática recente, contudo, tem vindo a ser impulsionada por vários fatores, tais como a globalização, a expansão de mercados e a necessidade da interação presencial em diversas atividades. Para os profissionais de RH, analisar as oportunidades e os desafios destas viagens é fundamental, para que a sua gestão seja equilibrada, promovendo o bem-estar dos colaboradores e, ao mesmo tempo, contribuindo para o sucesso organizacional.
Segundo o Doutor Finanças, as viagens de trabalho consistem nas deslocações feitas por um colaborador para representar a empresa em eventos profissionais, reuniões, feiras, encontros com clientes, ou outras atividades relacionadas com a sua função. Embora a legislação portuguesa determine que o colaborador deve exercer as suas funções no local constante no contrato, o Artigo 193.º do Código do Trabalho prevê que determinadas deslocações podem ser necessárias para a execução de funções ou formação profissional.
Nestes casos, as empresas são responsáveis por cobrir todos os custos da viagem, incluindo transportes, alimentação e alojamento, desde que não haja disposições contratuais que ditem o contrário. As viagens são, frequentemente, encaradas como uma necessidade no contexto de um ambiente corporativo cada vez mais globalizado e, apesar de representarem um custo para a empresa, podem ser bastante benéficas, quando bem geridas.
Tanto a Okticket como a Event Point reuniram algumas das vantagens das viagens em trabalho, que constituem o turismo de negócios:
- Fortalecimento da cultura organizacional – As viagens de negócios promovem o desenvolvimento de novas competências e oportunidades de networking e contribuem para o fortalecimento da cultura organizacional. A Okticket referenciou, inclusive, um estudo da American Express Global Business Travel e da Harvard Business Review Analytic Services, que revelou que também as viagens de equipas podem ser benéficas, ao nível da colaboração e das relações entre os colaboradores.
Contudo, para os clientes, as reuniões físicas são fundamentais, por incentivarem o desenvolvimento e a criatividade. Estas interações ajudam a fortalecer a cultura organizacional, impactada pela pandemia e pelo trabalho remoto. De acordo com o já referido estudo, 60% dos entrevistados afirmaram que as viagens de negócios contribuem para o seu desenvolvimento profissional. - Oportunidades de networking e expansão de relacionamentos – Participar em conferências, feiras e congressos permite aos colaboradores estabelecer relações mais sólidas com parceiros de negócios. Segundo a Event Point, os encontros presenciais aumentam a probabilidade de identificar oportunidades. Estas experiências também incentivam as aprendizagens cultural e de mercado, permitindo que os colaboradores adquiram novas perspetivas sobre os negócios.
- Desenvolvimento profissional e inovação – As viagens de trabalho proporcionam um ambiente favorável à troca de conhecimento. A exposição a diferentes mercados, culturas e práticas profissionais aumenta a criatividade e promove a inovação dentro da empresa. A troca de ideias e a imersão em diferentes contextos podem gerar soluções inovadoras e um aprimoramento contínuo das competências profissionais.
Contudo, também há questões menos favoráveis, associadas às viagens de trabalho:
- Custos e gestão financeira – As viagens em trabalho representam um custo significativo para as empresas, que têm de cobrir as despesas de transportes, alojamento e alimentação. Ademais, o “tempo perdido” na viagem e a produtividade reduzida representam, igualmente, custos para as empresas. A gestão de custos é, portanto, um ponto crítico para os profissionais de RH.
- Impactos no bem-estar do colaborador – O stress causado pelas longas distâncias, o jet lag e a desconexão do ambiente familiar podem afetar a saúde mental e física dos colaboradores. As viagens constantes podem levar a um desgaste excessivo, caso não haja cuidados adequados com o bem-estar do colaborador. A falta de descanso, a alimentação inadequada e a ausência de tempo para lazer podem comprometer a produtividade e a motivação do trabalhador, conforme referido pela Event Point. Para mitigar esses efeitos, é essencial que as empresas promovam práticas de saúde e bem-estar para os colaboradores em viagem. Isso inclui garantir horários flexíveis, promover cuidados com a alimentação e o exercício físico e proporcionar recursos para que o colaborador consiga equilibrar o trabalho com momentos de lazer.
O papel dos profissionais de RH na gestão de viagens de trabalho
Uma boa gestão das viagens de trabalho requer uma grande preocupação com os colaboradores. Assim, os profissionais de RH devem garantir que as viagens são planeadas de forma estratégica, respeitando os direitos dos colaboradores e promovendo a eficácia organizacional.
Neste seguimento, é importante ter em atenção:
- Planeamento estratégico – As empresas devem identificar as viagens decisivas para o cumprimento dos seus objetivos, considerando o retorno sobre o investimento. Isto envolve equilibrar as viagens com foco nos clientes, com as que que visam fortalecer a cultura interna e promover o desenvolvimento profissional.
- Bem-estar – Os profissionais de RH devem apoiar o colaborador, permitindo que o mesmo se mantenha saudável durante a viagem. Isto inclui garantir que as horas de trabalho e descanso são cumpridas e que a empresa cubra os custos da viagem, conforme exigido pela legislação.
- Viagens em equipa – Segundo o já mencionado estudo, as reuniões internas têm um grande impacto no fortalecimento da cultura organizacional e no incentivo ao envolvimento dos colaboradores, principalmente nos casos de trabalho remoto.
Mariana Canto e Castro, Human Resources Director & Head of Legal Department da Randstad Portugal, falou sobre as viagens de trabalho na sua empresa, em exclusivo à RHmagazine: “São habituais, em território nacional, pois a nossa atividade abrange todo o país. Tratam-se, na maioria das vezes, de idas e vindas no mesmo dia ou, menos frequente, com estadia de uma noite fora. A nível internacional, podem ocorrer deslocações entre cargos de direção.”
“Contudo, toda a política de viagens está a ser repensada: devem acontecer, apenas se forem estritamente necessárias, por via a conciliar o equilíbrio pessoal/profissional na vida de cada um. Por outro lado, também pelo impacto da pegada carbónica, uma vez que a empresa tem o (ambicioso) objetivo internacional de ser Carbon Neutral em 2030.”
Em suma, as viagens de trabalho oferecem diversos benefícios para os colaboradores e para as empresas, desde o fortalecimento da cultura organizacional, até às oportunidades de networking. Contudo, também há desafios, principalmente devido ao bem-estar dos colaboradores e à gestão de custos. Neste contexto, os profissionais de RH desempenham um papel essencial na criação de políticas equilibradas que atendam às necessidades empresariais, sem comprometer a qualidade de vida dos colaboradores.