Descreva-nos um pouco a atividade da L’OREAL em Portugal. E a nível dos recursos humanos de que tipo de funções é que exerce?
A L’Oréal está presente em Portugal desde 1962 com todas as divisões do Grupo: grande público, cosmética ativa (farmácia/parafarmácia), Produtos profissionais (cabeleireiros) e luxo (perfumaria).
Na L´Oréal Portugal dispomos de uma variedade de funções e de áreas de negócio que nos permitem oferecer carreiras atrativas dentro de uma única paixão, a Beleza!
Como Diretor de recursos humanos quero reter, atrair e desenvolver os melhores talentos para o crescimento da L’Oréal Portugal. Quero fazer desta filial uma Escola de Talentos para o Grupo L´Oréal.
Pode contar-nos qual foi o seu percurso profissional até chegar à L’Oréal Portugal?
Ingressei na L’Oréal em 2006 após três anos de experiência em outras empresas. Desde então, assumi diferentes funções na área de recursos humanos.
Desde então, geri projetos e pessoas na divisão internacional de produtos de luxo, numa Fábrica Garnier, na divisão de produtos de grande público (DPGP) e na L’Oréal Paris. Foi nesta marca, há cinco anos atrás, que tive a minha primeira função como Diretor de RH.
Em 2012, fui Diretor de recrutamento da “divisão de produtos grande público” no Grupo L’Oréal, um cargo no qual trabalhei numa vertente muito relevante na política de recursos humanos do Grupo – o recrutamento de talentos. Em Portugal, estou como Diretor de RH desde fevereiro de 2014.
Sei que anteriormente foi responsável pela aquisição de talento na L’ORÉAL França. Em que consistia exatamente essa função e que técnicas aplicava para encontrar talento?
Os papéis principais desta função apaixonante são de compreensão e de ação certa.
Eu tive de perceber os desafios principais da empresa em termos de reputação, de atratividade e de imagem, conhecer e compreender as necessidades futuras do Grupo em termos de negócio (novos mercados, novas organizações, novas marcas…), e finalmente definir o perfil dos candidatos que estamos a procurar e que estejam em linha com as necessidades futuras do negócio.
Para cada perfil, eu e a minha equipa, construímos uma estratégia de imagem, de desmistificação, de proximidade e de atratividade. Tivemos de compreender cada perfil a 100%: estilo de vida, projetos, motivações, o que gosta nas grandes empresas, o que não gosta, o que pode fazer a diferença na L’Oréal para ele(a).
Uma vez que isso foi feito, trabalhámos de maneira que pode parecer clássica (campus management, entrevistas, assessment center, graduate program) mas com a obsessão de adaptar-nos ao candidato e reinventar a relação com ele. Também desenvolvemos algumas inovações no sourcing para criar um balanço entre a lógica de um mundo mais digitalizado e o respeito do know-how específico dos nossos parceiros históricos que são os headhunters. Acho que conseguimos bem, num “win-win-win” (HH-L’Oréal-candidato).
Esta necessidade de procurar os melhores talentos em França existe também em Portugal, ou aqui, com os níveis de desemprego atuais é mais fácil encontrar as pessoas certas?
O talento faz parte do nosso ADN desde sempre. É para nós fundamental e estratégico para o desenvolvimento do nosso negócio. O talento é sempre raro e relativo, seja em França, em Portugal ou num outro país.
A busca do talento em Portugal passa por exemplo por uma parceria forte com as melhores universidades do País bem como pelo brandstorm que é muito mais do que um jogo de gestão estratégico. O brandstorm permite uma imersão dos estudantes na nossa realidade e é uma ferramenta de recrutamento muito importante para nós.
Na L’Oréal procuramos sempre os melhores para a nossa realidade empresarial, ou seja a nossa cultura e o nosso mercado da beleza. Para obter sucesso na L’Oréal e na beleza são precisas qualidades e competências específicas que não têm nada a ver com o nível de desemprego. Têm a ver com capacidades para estabelecer uma visão estratégica, liderança, ambição para si e para os outros e uma grande capacidade de juízo… mas também com recetividade e cultura, capacidade para olhar para o mundo, abertura para a diferença… que são qualidades que os Portugueses têm!
Teve a oportunidade de gerir portugueses em França na L’OREAL? Notou diferença entre os portugueses de lá e os que encontrou cá?
Sim já tive oportunidade de gerir portugueses em França. E agora com a experiência em Portugal noto que todos os portugueses, independentemente de onde estejam, têm um amor pelo país, o orgulho de ser português.
Qual é o seu objetivo relativamente aos recursos humanos em Portugal?
Desde que cheguei em fevereiro de 2014 a Portugal tenho consolidado a filial portuguesa como uma referência no mercado em termos de recursos humanos. Quero contribuir para que a L´Oréal Portugal seja uma escola de talentos para o Grupo, promovendo o talento individual e o espírito coletivo; um ambiente diverso, ágil e integrado, para que todos possam evoluir juntos numa empresa que se tem vindo a afirmar como um local de eleição para trabalhar.
Que práticas de RH gostaria de destacar da L’OREAL?
Tenho muitas práticas que queria destacar da L’Oréal, mas entre todas acho que a gestão das carreiras e o espírito coletivo são as mais importantes.
Na L’Oréal, em termos de carreira, tudo é possível. Depende dos resultados, da ambição e da capacidade de mobilização das energias. Acho que com a nossa nova Diretora geral, Inês Caldeira, temos o melhor exemplo. Do seu currículo fazem parte três internacionalizações (duas em Paris e uma em Madrid), experiências diferentes: marketing operacional, desenvolvimento de produtos para Ásia, coordenação de marca para Europa, direção geral de marca e agora direção do Grupo em Portugal. Ela mostra bem a possibilidade para uma pessoa talentosa de poder liderar um negócio e cerca de 300 pessoas aos 35 anos de idade.
Também na L’Oréal importa-nos muito o bem-estar dos nossos colaboradores. Faz parte da nossa cultura e da nossa história. Desenvolvemos um standard mundial de proteção e de cuidado para os nossos colaboradores independentemente do país onde trabalham. Em Portugal temos o orgulho de ter desenvolvido muitas “best practices” na área de compensação e benefícios que hoje inspiram as outras filiais do Grupo… e vamos continuar à frente das práticas do mercado português e do Grupo L’Oréal!
Quando chegou a Portugal surpreendeu-o alguma coisa em relação à gestão de recursos humanos? Não só na L’OREAL mas nos país em geral.
Depois de menos de um ano tenho que ficar humilde e não generalizar o que já vi. Mas posso já dizer que todos os DRH que encontrei foram de um alto nível, com um conhecimento impressionante dos seus negócios e do mercado laboral português. A coisa principal que eu acho que deveria ser trabalhada de maneira diferente é o recrutamento e o headhunting. Parece-me muito clássico e às vezes baseado sobre redes pessoais. Espero poder encontrar iniciativas mais modernas e diferentes de recrutar que correspondem ao nosso mundo 2.0.
O que acha então dos recursos humanos portugueses?
No fundo o que define os recursos humanos de cada país é a sua vivência. A de Portugal é muito interessante, com uma história antiga que traz uma cultura rica, vínculos humanos e familiares fortes e universidades de nível europeu.
Revejo nos portugueses competências como uma abertura de espírito, dedicação, solidariedade e qualidades de comunicação únicas.
Este potencial tem de ser às vezes estimulado para os Portugueses poderem conquistar o mundo outra vez.
A liderança é um tema recorrente em Portugal. O que é para si um bom líder?
Para mim um bom líder é uma pessoa: capaz de realizar a suas ideias; capaz de estabelecer relações humanas diversificadas; excelente comunicador; com uma grande ambição pessoal e coletiva também; capaz de tomar decisões rápidas; tenha olho para inovação. Mas também com um grande respeito pelas pessoas, pelo seu tempo, pelas suas opiniões, pelo seu equilíbrio profissional e pessoal; capaz de criar um espírito de equipa; capaz de partilhar vitórias e assumir as responsabilidades dos fracassos; excelente a desenvolver indivíduos; capaz de antecipar e agir como um agente de criatividade.
Agora já fora do âmbito profissional: está a gostar desta experiência portuguesa? O que mais gosta e o que menos gosta no nosso país?
Gosto muito. Pode parecer uma resposta óbvia mas é mesmo do coração.
Primeiro, o mercado português é muito interessante, tanto como mercado de beleza como mercado de talentos. Para um DRH é um “terreno de jogo” fantástico e muito rico.
Depois o país em si é realmente especular. Eu e a minha família gostamos da história, da riqueza da cultura portuguesa, da grande simpatia dos portugueses e da luz indescritível de Lisboa!
E como “sem vinho não há caminho”, tenho de dizer (mesmo como francês) que Portugal tem um vinho e uma comida que ajudam muito para aproveitar o nosso tempo cá que espero que seja o mais longo possível!