O termo “Green Economy” pode ser definido de várias formas. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, em inglês), por exemplo, define-a como algo que resulta de uma melhoria do bem-estar humano e da equidade social, enquanto reduz significativamente os riscos ambientais e escassez ecológica.
Alguns dos temas prioritários para a Green Economy são a energia renovável (hidroelétrica, biocombustíveis e biomassa), a eficiência energética, a mobilidade (qualidade do ar, emissões e som) ou a indústria (ao nível das emissões e do desperdício).
Como o tema da sustentabilidade, ligado à neutralidade carbónica, tem sido cada vez mais discutido nas organizações internacionais, não é de espantar que Portugal queira antecipar ao máximo o fim do desenvolvimento económico com base em combustíveis fósseis. Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente, referiu em março deste ano que “Portugal tem exercido um papel de liderança nos compromissos internacionais na ação climática”.
Ao nível do cumprimento dos propósitos da Green Economy, Portugal têm se esforçado para estar na vanguarda. O Green Economy Tracker, indicador que avalia o posicionamento dos países, observou que Portugal, ao nível da Governance, atingiu os seguintes resultados: Plano nacional de Green Economy (4 em 5); Governance Inclusiva (4 em 5); SDG business strategy (2 em 5); e Wealth accounting (2 em 5).
Com estes dados, as empresas têm sido pressionadas pelos requisitos de novas regulamentações, como o Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) ou a taxonomia, de forma a transformarem os seus modelos de negócio e os seus produtos.

“Adotada em 2021, a CSRD tem como objetivo desenvolver as estratégias de RSE através do conceito de dupla materialidade, impondo a mais de 50.000 empresas um quadro mais restritivo em termos de reporte. As empresas terão, por conseguinte, de ter em conta os impactos das suas atividades baseados em critérios ambientais, sociais e de governação (ESG)”, explica Nathalie Ballan, Senior Partner e Founder da Sair da Casca.
Além de representar um verdadeiro desafio para as empresas e os seus departamentos, Ballan acrescenta que os regulamentos também requerem formação de diferentes direções (operações, marketing, vendas, legal, financeiro, IT e RH) em questões de sustentabilidade para compreender a importância e o interesse deste novo relatório, mas também trabalho colaborativo entre todos em prol do desempenho global.
“Os departamentos de RSE devem trabalhar lado a lado com os CTO e os departamentos financeiros para padronizar a recolha de dados em todas as dimensões dos impactos da empresa e em todas as dimensões de risco associados à sustentabilidade”, acrescenta Senior Partner e Founder da Sair da Casca.
Os riscos macroambientais associados à não-transição para uma Green Economy
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, admitiu no arranque Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável, em Nova Iorque, que apenas 15% das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão no caminho certo para serem alcançadas até 2030 e que existe até uma regressão em alguns dos Objetivos.
“Em vez de não deixarmos ninguém para trás, corremos o risco de deixar para trás os ODS. Excelências, os ODS necessitam de um plano de resgate global”, disse Guterres aos líderes mundiais presentes da sala.
Igualmente importante na compreensão do cumprimento dos ODS são os resultados do Global Risks Report 2023, divulgados pelo World Economic Forum (WEF). Os principais riscos macroambientais listados por parte do organismo global foram: o falhanço em mitigar a mudança ambiental; a perda de biodiversidade e de ecossistemas; a crise de recursos naturais; o falhanço em adotar políticas de mudança climática; e os desastres naturais e clima extremo.

Estes indicadores, por sua vez, causam riscos como migrações em larga escala, erosão da coesão social, proliferação de atividades ilícitas, deterioração da saúde mental, doenças infeciosas ou colapso das infraestruturas e serviços.
No artigo, o WEF referiu que a necessidade de transitar para uma Green Economy, em escala e com os passos necessários, requer novas tecnologias. “No entanto, algumas destas novas tecnologias têm um impacto nos ecossistemas naturais em novas formas, agravado pelas oportunidades limitadas de ‘testar no campo’ os resultados”, complementam.
“Existe uma tensão clara entre as necessidades e os recursos. Muitos dos profissionais que já trabalham nas áreas de sustentabilidade lamentam o baixo orçamento dos seus departamentos, bem como a falta de recursos internos. O gap entre a ambição e a implementação provoca alguma frustração não apenas internamente, mas também junto dos possíveis candidatos”, denota Nathalie Ballan.
Passos que estão a ser tomados pelas empresas em Portugal
Apesar do subdimensionamento e falta de recursos, algumas empresas têm feito passos para assegurar a sustentabilidade.

A Enercon, empresa especializada no fabrico de aerogeradores, tem como base a sustentabilidade e, como tal, tenta manter este mindset no dia-a-dia. “Naturalmente que em produção industrial é muito mais complexo de manter este espírito, sendo uma das preocupações olhar para este tema, minimizando o mais possível a pegada menos positiva”, exemplifica Carla Regina Oliveira, Head of Human Resources and Organizational Development na Enercon.
Na produção, a Enercon tem vários equipamentos e componentes que são alvos de constantes análises e revisões para que as questões ecológicas e ambientais sejam otimizadas, levando igualmente que os fornecedores acompanhem e cumpram os padrões de exigência da empresa. Já ao nível das pessoas, Carla Regina Oliveira sublinha a reconversão profissional de outras áreas energéticas, que resultou na integração de trabalhadores provenientes da indústria petrolífera e cujas competências foram adaptadas para a energia verde.
Outro exemplo também surge na Galp, que tem procurado encontrar um equilíbrio entre a satisfação das necessidades energéticas – através da transformação do nosso portefólio em soluções com baixo teor em carbono – e a descarbonização da atividade. Marco Serrão, CHRO da Galp, afirma que tem sido uma jornada longa para atingir o objetivo macro de zero emissões líquidas até 2050.
“Atualmente, este processo de transição energética decorre em diversos focos: desde a descarbonização das nossas atividades a medidas de eficiência nos nossos postos de trabalho”, explica Marco Serrão.
Marco Serrão admite que a Galp tem como metas até 2030 reduzir emissões absolutas das operações em 40%, reduzir a intensidade carbónica da energia produzida pela empresa em 40% e reduzir a intensidade carbónica da energia vendida pela Galp em downstream em 20%.
Os Green Jobs mais procurados pelas empresas
De modo a implementar estes objetivos, as empresas requerem um conjunto de valências e experiências profissionais. Além disso, novos empregos surgiram dentro das organizações especificamente para o planeamento destas atividades.
“Como todos os anos, a Birdeo revela o seu Top 5 de profissões com um impacto positivo. A biodiversidade, a economia circular, a descarbonização, a CSRD e o aspeto social da RSE são áreas de especialização valorizadas e procuradas pelas organizações de todos os setores”, explica Nathalie Ballan.
Incluído no Top 5 da Birdeo, o cargo de Gestor de Adaptação às Alterações Climáticas é novo no cenário das profissões de impacto e obriga a combinar competências de gestão de negócio e capacidade em elaborar ou entender cenários de riscos.
A Enercon, no caso dos Green Jobs e da Green Economy, tem procurado atrair quem se queira juntar a este espírito verde na sua essência, na procura de soluções e produtos pioneiros, que façam a diferença no benefício e na sua implementação.
“Capacidade e constante desenvolvimento num produto em incessante desenvolvimento técnico e tecnológico, mindset out of the box, mentes inovativas e sem medo de arriscar são características que mais valorizamos”, enumera Carla Regina Oliveira.
No compromisso da sustentabilidade e na implantação da Green Economy, a Galp também tem profissionais das mais diversas áreas de negócio e tem procurado criar oportunidades de emprego especializadas nessa área.

“Sustainable Finance, ESG Compliance, Strategy, Economia Circular Low Carbon Solutions, HSE (Health, Safety & Envirnoment) e toda a cadeia de valor das unidades negócio das Renováveis, Baterias e Hidrogénio”, exemplifica Marco Serrão.
No entanto, além destas funções, a Galp também procura pessoas sem qualificações, que possam colaborar nas áreas mais operacionais, por exemplo, os Parques.
Como a sustentabilidade ambiental vai afetar a contratação e formação
Numa sondagem realizada no LinkedIn, em que foram recolhidas mais de 25 mil respostas, a Hays analisou as preferências dos candidatos quando concorrem a oportunidades de emprego. 81% dos profissionais inquiridos revelou que estão interessados em trabalhar num emprego que se concentre no combate às alterações climáticas.
No entanto, continua a existir uma falta de candidatos para preencher os cargos disponíveis na área da sustentabilidade, o que leva a uma elevada procura de profissionais com foco nesta área e a oportunidades para quem procura emprego e quer entrar no sector.

Fiona Place, Diretora de Sustentabilidade do Grupo Hays, afirmou que muitos candidatos procuram empresas em setores que lhes interessam. “Poderá ser a conceção de produtos no setor dos bens de consumo, com funções relacionadas com a circularidade de um produto, ou a entrada no setor da construção, explorando a forma de reabilitar edifícios existentes ou trabalhando em aquisições para garantir que os programas de abastecimento incorporam considerações ambientais e de direitos laborais.”
Igualmente, a Diretora de Sustentabilidade também alertou para a prática de greenwashing, em que as empresas aparentam ser mais conscientes sobre o ambiente do que realmente são, e como os candidatos devem estar atentos a “ linguagem vaga e chavões que não expliquem realmente as ações que estão a ser tomadas” nas ofertas de emprego.
No caso da Enercon, Carla Regina Oliveira observou que muitos candidatos procuram um compromisso não só com o produto/serviço da empresa, mas uma ligação a todo o negócio e preocupação ambiental.
“Acreditamos que seja muito resultado da consciência da crise energética e também mudança geracional. As gerações mais jovens como tem vindo a ser verificado, tem outro tipo de prioridades quando procuram emprego, valorizam mais o propósito no negócio e a sua ligação ao meio-ambiente é uma preocupação. Muitos candidatos referem especificamente a prioridade de pesquisa de oportunidades em indústrias verdes”, explica Carla Regina Oliveira, Head of Human Resources and Organizational Development na Enercon.
A formação é também outro aspecto importante na sustentabilidade, em que muitos trabalhadores procuram novas competências que assegurem o futuro profissional e o meio ambiente.
“De acordo com o barómetro ‘Colaboradores e empresas responsáveis’ realizado pela ekodev em 2020, 70% dos colaboradores querem investir mais do seu tempo de formação em questões de sustentabilidade. Este número reflete o aumento dos pedidos por parte de colaboradores que desejam empenhar-se numa reconversão”, explica Nathalie Ballan.
A importância dos Green Jobs
É inegável que a sustentabilidade é essencial para o futuro das empresas, especialmente no âmbito da transição energética.
Nathalie Ballan entende que, neste caso, os Recursos Humanos têm um papel a desempenhar na transformação das linhas de negócio para apoiar a gestão da mudança e a transformação sustentável das organizações através do capital humano.
“Além disso, a integração da Responsabilidade Social das Empresas nas estratégias do Diretor de Recursos Humanos funciona de forma sustentável para a transformação da empresa, a retenção e atração de talentos alimentando as noções de propósito e impacto no centro do projeto da empresa”, explica Nathalie Ballan.
“Esta parceria entre os Recursos Humanos e a Responsabilidade Social das Empresas é agora essencial para desenvolver as (novas) profissões”, conclui Nathalie Ballan.
Marco Serrão, enquanto CHRO da Galp, vê os empregos verdes como essenciais para a concretização da transição energética, ao qual acresce a necessidade fulcral de assegurar que, durante este processo, ninguém fica para trás.
“Estamos comprometidos com Upskilling & Reskilling das pessoas para que tenham as ferramentas para atingir o seu máximo potencial nesta jornada de transformação. O impacto a longo prazo da aplicação desta estratégia poderá resultar numa melhoria significativa de performance individual e coletiva”, refere.
“O desafio das organizações será identificar, atrair e reter talentos com experiência em áreas específicas como a energia solar, a energia eólica, a hidroeletricidade, o armazenamento de energia e outras tecnologias verdes. As áreas de RH podem contribuir positivamente para este desafio”, sublinha Marco Serrão.
Já Carla Regina Oliveira entende que o conceito de “verde” deve estar presente em todas as áreas, muito mais do que na indústria e no emprego. Para tal acontecer, mais do que as promessas de cuidar do planeta, surge como fulcral incluir as novas gerações, que já estão no mercado de trabalho e que têm outra visão dele.
“A indústria tem uma excelente oportunidade de se afirmar e crescer com o desenvolvimento verde que temos assistido nos últimos anos e que continuará certamente nos próximos. Deve assim investir em talentos capacitados para poder responder com sucesso a esta demanda crescente (nos que vai contratar mas também nos que já tem dentro de portas)”, denota Carla Regina Oliveira.