Num mundo cada vez mais globalizado e diversificado, as empresas enfrentam o desafio de integrar equipas multiculturais, promovendo ambientes de trabalho mais inclusivos. Para os profissionais de RH, a gestão eficaz da interculturalidade tornou-se numa exigente tarefa, mas essencial. Desde a adaptação de processos de recrutamento e seleção até ao desenvolvimento de programas de formação e integração cultural, o seu papel é crucial na construção de uma cultura organizacional que impulsiona a diversidade e a colaboração.
A diversidade pode ser analisada segundo várias características, segundo a Thomas, tais como género, raça e etnia, comunidade LGBT+, idade, pessoas com deficiências, problemas de saúde mental, neurodiversidade, perspetivas e culturas, sendo neste último ponto que se foca o presente artigo.
Assim sendo, a mesma fonte reuniu os principais benefícios desta interculturalidade nas empresas:
- Desenvolvimento e maximização de competências – Uma força de trabalho culturalmente diversificada permite que os colaboradores aprendam uns com os outros, promovendo uma troca de conhecimentos que resulta em maior capacidade de resolução de problemas, inovação e produtividade;
- Atração de talentos – Empresas que promovem a diversidade cultural atraem candidatos de diferentes países, que consideram a diversidade um fator importante na escolha de um empregador, tornando-a numa vantagem competitiva no recrutamento.
- Melhoria da criatividade e da inovação – Ao reunir indivíduos com diferentes origens, experiências e perspetivas, as empresas podem abordar problemas e projetos de formas mais eficazes, promovendo um ambiente mais dinâmico e produtivo.
- Aumento do engagement dos colaboradores – Quando os funcionários se sentem respeitados e ouvidos, especialmente num ambiente multicultural, tendem a envolver-se mais com os seus colegas e com os objetivos da empresa, gerando maior motivação, colaboração e lealdade.
- Melhoria da reputação da empresa – Empresas que adotam uma política de diversidade cultural não só melhoram o ambiente interno, mas também constroem uma imagem positiva no mercado, oferecendo um serviço ao cliente mais eficaz e personalizado.
Contudo, também há desafios na gestão da interculturalidade. A Thomas identificou como principais dificuldades os preconceitos enraizados, a falta de compreensão sobre as diferenças culturais e a comunicação entre equipas multiculturais. A superação destes desafios requer tanto um compromisso contínuo por parte da liderança, como a adoção de políticas claras e eficazes de inclusão e diversidade.
Por outro lado, a Vorecol fez referência a estudos de grandes empresas, como a McKinsey & Company e a Deloitte, que demonstram que a diversidade cultural e a inclusão têm impactos positivos tanto na inovação, como nos resultados financeiros.
Ainda assim, problemas de comunicação são frequentemente citados como um obstáculo significativo para a produtividade, como apontado por um estudo da Gallup, citado pela mesma fonte, que relatou que 60% dos funcionários em equipas diversas enfrentam dificuldades, devido a diferenças culturais. Isso pode levar a mal-entendidos e conflitos que, se não forem resolvidos adequadamente, podem comprometer o desempenho das equipes e até mesmo resultar em perdas financeiras substanciais.
É neste sentido que a Vorecol propõe a mediação intercultural como ferramenta essencial. Ao promover uma comunicação eficaz e a compreensão das diferenças culturais, as empresas podem resolver conflitos de maneira construtiva, melhorando o ambiente de trabalho. A mediação intercultural também impulsiona a colaboração e a inovação. Técnicas como a escuta ativa e o uso de ferramentas digitais, como videoconferências e plataformas de colaboração, têm mostrado resultados positivos.
Mais direcionada para os profissionais de RH, a Preply focou-se na sua importante função de gestão intercultural, partilhando dicas que a tornam mais eficaz:
- Autoconhecimento – O primeiro passo para lidar com equipes multiculturais é entender que cada pessoa traz consigo uma cultura única. Reconhecer os seus próprios preconceitos e entender como a sua cultura pode influenciar a percepção dos outros é fundamental para um líder multicultural.
- Habilidades de comunicação – A fluência no idioma comum da empresa é um desafio, especialmente quando se trabalha com colaboradores de diferentes países. Investir na formação de idiomas, ser claro na comunicação e praticar a escuta ativa são estratégias importantes para evitar mal-entendidos.
- Oportunidades iguais de emprego – Garantir que todas as práticas de recrutamento, promoção e remuneração são justas e livres de preconceitos é essencial para criar um ambiente inclusivo. Isso também envolve o uso de tecnologias, para eliminar vieses no processo de seleção.
- Desencorajamento do viés inconsciente – Reconhecer e combater o viés cultural inconsciente é um passo necessário para garantir que todos os colaboradores têm as mesmas oportunidades de sucesso. A formação de líderes de diversidade pode ajudar a identificar e lidar com esses vieses.
- Resolução de conflitos interculturais – Diferenças culturais podem gerar conflitos, especialmente em situações de pressão. A gestão intercultural eficiente envolve a mediação e a resolução rápida desses conflitos, criando um ambiente de trabalho harmonioso.
- Formação intercultural – Investir em programas de formação que ensinem as diferenças culturais e promovam a compreensão mútua é vital. Isto inclui estilos de comunicação, comportamentos e valores que variam entre culturas.
- Comunicação bidirecional – Para garantir que todos se sintam ouvidos, é importante promover um canal de comunicação aberta e bidirecional. Ferramentas digitais ou caixas de sugestões podem facilitar essa troca de feedback e ideias.
- Ambiente seguro e integrado – Criar um ambiente onde todos se sintam acolhidos e seguros, independentemente de sua origem cultural, é fundamental. Isso deve começar na integração dos novos colaboradores e continuar ao longo de sua permanência na empresa.
- Atividades de team building – Promover atividades que incentivem o trabalho em equipa e o conhecimento das diferentes culturas pode melhorar o relacionamento entre os colaboradores e aumentar a coesão no grupo.
- Envolver os colaboradores – Consultar os próprios colaboradores sobre as suas preocupações culturais e incluir as suas opiniões no desenvolvimento de estratégias de inclusão pode resultar em práticas mais eficazes e adaptadas às necessidades da equipa.
Se, na teoria, as práticas de gestão intercultural são amplamente discutidas, na prática, diversas empresas já implementam estas estratégias com sucesso. Neste seguimento, a RHmagazine procurou compreender junto de líderes de RH de que forma é que a interculturalidade é gerida nas suas empresas.
Flávia Costa, Human Resources Employee Partner do Grupo Casais, partilhou: “A interculturalidade é gerida no grupo Casais através da constituição de equipas multiculturais e da capacitação de líderes para gerir estas equipas. Além disso, oferecemos formação e acompanhamento contínuo a colaboradores e líderes, fortalecendo competências.”
“Apoiamos todos os colaboradores no processo de integração, com práticas diferenciadoras no acolhimento dos expatriados, criando um ambiente de trabalho acolhedor. Estas práticas promovem a interculturalidade, transformando-a numa vantagem estratégica que impulsiona o crescimento sustentável da empresa.”, continuou.
E concluiu: “Adicionalmente, temos um histórico sólido de internacionalização, pela capacidade de adaptação e flexibilidade das nossas equipas nos países onde atuamos. Procuramos sempre constituir equipas compostas por elementos sensíveis para lidar com as diversidades culturais. Promovemos, ainda, condições sociais ajustadas às diferentes realidades das nossas equipas, nomeadamente no âmbito da alimentação, alojamento e saúde, assegurando um apoio completo e integrado aos nossos colaboradores.”
“A interculturalidade é gerida no grupo Casais através da constituição de equipas multiculturais e da capacitação de líderes para as gerir”
Flávia Costa, Human Resources Employee Partner do Grupo Casais
Já Sofia Mesquita, DRH da Construo AG, destacou: “A interculturalidade é um dos pilares fundamentais da Construo AG. Enquanto empresa tecnológica com equipas distribuídas por várias localizações geográficas e culturais, encaramos a diversidade como uma oportunidade de crescimento e inovação. Promovemos um ambiente inclusivo, onde a troca de ideias e o respeito mútuo são incentivados em todas as interações.”
“Para garantir que todos os colaboradores, independentemente da sua origem ou localização, se sintam incluídos e atualizados, utilizamos diferentes meios de comunicação. A comunicação diária é realizada através de ferramentas digitais como e-mail, Microsoft Teams e outros, que permitem a partilha rápida de informações e a resolução de problemas de forma colaborativa.”, seguiu.
Acrescentou, ainda: “Além disso, realizamos uma reunião semanal, conhecida como Weekly, que envolve toda a empresa e serve para partilhar atualizações importantes, celebrar conquistas e reforçar o alinhamento dos objetivos coletivos. Complementarmente, organizamos dois grandes eventos anuais – o Spring Event e o Offsite – que não apenas reconhecem o trabalho das equipas, mas também criam um espaço para o fortalecimento de laços entre diferentes culturas e localizações.”
“Encaramos a diversidade como uma oportunidade de crescimento e inovação.”
Sofia Mesquita, Diretora de Recursos Humanos da Construo AG
Susana Silva, Diretora de Pessoas do El Corte Inglés, confessou: “A interculturalidade no El Corte Inglés é gerida através de várias estratégias que promovem a integração e a valorização da diversidade cultural. Entre elas estão: a formação e sensibilização; políticas de inclusão que garantem igualdade de oportunidades para todos os colaboradores; comunicação interna que informa e conta histórias sobre as diferentes culturas presentes na empresa; e vários eventos e atividades que celebram esta diversidade cultural.”
“A interculturalidade no El Corte Inglés é gerida através de várias estratégias que promovem a integração e a valorização da diversidade cultural.”
Susana Silva, Diretora de Pessoas do El Corte Inglés
Por fim, Rita Cadillon, Head of People & Culture da Cegid, explicou: “Na Cegid, celebramos a diversidade cultural através de uma série de eventos, incluindo destaques globais como a ‘Semana da Igualdade de Género’, a ‘Semana da Deficiência’ e o ‘Mês do Orgulho’. Estamos muito orgulhosos por ter comunidades como a Cegid Gender Equality Network, um projeto internacional que inclui representantes de mais de 15 países diferentes.”
“Além disso, queremos reforçar ainda mais o entendimento intercultural na empresa, através de formações regulares sobre diversidade e inclusão. Estas formações incluem sensibilização cultural e promoção de uma comunicação clara, utilizando a tecnologia para reduzir barreiras. Ao formar equipas diversificadas e interculturais, promovemos, naturalmente, a inovação e a colaboração. O próximo objetivo é melhorar os nossos canais de feedback, para nos tornarmos mais atentos às necessidades dos colaboradores.”, rematou.
“Na Cegid, celebramos a diversidade cultural através de uma série de eventos”
Rita Cadillon, Head of People & Culture da Cegid
Para concluir, as práticas de gestão intercultural têm se mostrado fundamentais para o sucesso das organizações a nível global, não apenas criando ambientes de trabalho mais inclusivos, mas também impulsionando a inovação e o crescimento. Empresas como Grupo Casais, Construo AG, El Corte Inglés e Cegid, em Portugal, exemplificam como a interculturalidade, quando bem gerida, pode ser uma estratégia de diferenciação importante.