Autora: Ariana de Alves, Senior Consultant da Michael Page
A saúde mental conquistou, felizmente, uma relevância crescente, sendo agora considerada como uma componente fundamental do bem-estar organizacional e um pilar dos Recursos Humanos. Em Portugal, este tema tem-se destacado como uma prioridade estratégica, impulsionado, principalmente, pelas transformações do mercado de trabalho e pelo aumento da consciencialização sobre o impacto que o bem-estar psicológico dos colaboradores exerce nos resultados das empresas.
Estudos da Ordem dos Psicólogos revelam que um nível elevado de colaboradores portugueses enfrenta desafios relacionados com a saúde mental. Esta realidade destaca a urgência de implementar medidas eficazes que garantam não apenas a segurança física, mas também o bem-estar mental dos colaboradores.
Investir na saúde mental vai além das questões éticas e da responsabilidade social. Trata-se de uma estratégia de negócio que traz benefícios tangíveis para as organizações. As empresas que promovem o bem-estar dos seus colaboradores apresentam taxas mais elevadas de retenção de talento.
A construção de uma marca empregadora (employer branding) forte tornou-se um fator determinante, uma vez que ambientes de trabalho saudáveis contribuem para reduzir os custos relacionados com o absentismo, muitas vezes associados ao stress e à falta de equilíbrio emocional. Desta forma, colaboradores que se sentem seguros e valorizados tendem a ser mais produtivos, criativos e comprometidos com os objetivos da organização.
De que forma é que a Saúde Mental impacta a decisão de permanecer ou sair?
A premissa é: não peça aos seus colaboradores “para vestirem uma camisola que não lhes serve”. A saúde mental e o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional, incluindo a carga de trabalho excessiva e os horários irregulares, desempenham um papel fundamental na decisão dos candidatos de se juntar a uma empresa e, posteriormente, na sua escolha em permanecer ou procurar um novo desafio.
Hoje, os candidatos estão mais atentos à importância do ambiente de trabalho para o seu bem-estar psicológico e procuram organizações que ofereçam flexibilidade e apoio para manter um bom equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. As empresas que implementam estas condições não só atraem os melhores talentos, como também asseguram que os colaboradores se sintam mais satisfeitos e motivados a permanecer na organização.
Fatores como o volume de trabalho equilibrado, horários flexíveis e políticas eficazes de saúde mental são, portanto, decisivos para os colaboradores ao escolherem abraçar um novo projeto profissional. Quando estas condições estão ausentes, a rotatividade tende a aumentar, o que pode afetar a cultura organizacional e gerar custos adicionais com o recrutamento e a formação.
A necessidade de adoção de abordagens preventivas
Para garantir um local de trabalho mentalmente saudável, a adoção de práticas por parte das empresas, como a avaliação de riscos psicossociais, assim como de riscos físicos, deve ser uma prática constante. Como tal, analisar fatores como a carga de trabalho, horários excessivos e a qualidade das interações sociais no ambiente laboral e investir na formação de líderes para a gestão emocional das suas equipas é essencial.
No contexto atual, onde os modelos de trabalho remoto e híbrido são cada vez mais comuns, as políticas de desconexão digital também ganham relevância. Oferecer apoio psicológico confidencial aos colaboradores é outra medida fundamental para garantir um ambiente de confiança e suporte.
Empresas que implementaram programas focados na saúde mental dos colaboradores têm registado resultados positivos. Por exemplo, algumas organizações que integraram práticas como mindfulness e apoio psicológico relataram uma redução significativa no absentismo e um aumento na produtividade. Estas iniciativas não só melhoram o desempenho, mas também contribuem para a satisfação dos colaboradores, reforçando a confiança e lealdade com a organização.
O papel dos profissionais de RH
Enquanto profissionais de RH, temos um papel crucial nesta transformação. Integrar a saúde mental na estratégia organizacional é fundamental: criar indicadores-chave de desempenho que permitam monitorizar o bem-estar dos colaboradores, promover uma comunicação transparente sobre os recursos disponíveis e cultivar uma cultura de inclusão e apoio. Estas ações não só resolvem questões imediatas, como também contribuem para a construção de ambientes de trabalho mais resilientes e sustentáveis a longo prazo.
Os benefícios de investir na saúde mental são evidentes. Para além do aumento da produtividade, estas práticas ajudam a melhorar a imagem da empresa, tornando-a mais atrativa para novos talentos. Organizações que demonstram um verdadeiro cuidado pelo bem-estar dos seus colaboradores registam índices mais elevados de retenção de talento, maior comprometimento das equipas e uma capacidade superior de adaptação às mudanças do mercado.
À medida que o mercado de trabalho evolui, as empresas portuguesas que colocam a saúde mental nas suas prioridades estarão posicionadas para enfrentar desafios e prosperar num ambiente altamente competitivo. A transformação cultural nas organizações começa com ações simples, mas o impacto a longo prazo pode ser significativo. A pergunta que todas as empresas deveriam fazer em 2025 é: “Estamos a cuidar das nossas pessoas?”
Investir na saúde mental não é apenas uma tendência, é uma decisão estratégica que transforma as organizações, tornando-as mais humanas, inovadoras e resilientes. Estas serão consideradas as melhores empresas para se trabalhar no futuro.
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