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Anabela Moreira – Managing Partner UpTogether Consulting
Os empresários devem estar loucos. Devem mesmo. E a mim incluo neste lote.
Em fevereiro de 2017, após uma má experiência profissional, na verdade a pior da minha vida até aquele momento, até aos meus 39 anos, decidi que depois de 15 anos a trabalhar por conta de outrem, já tinha skills para me lançar como freelancer. E assim o fiz.
Liguei-me a networks internacionais de freelancers e trabalhei para muitas multinacionais. Como estava a recibo verde e quando o cliente tinha sede noutro país era complicado, pelo documento e pelos impostos, o meu Contabilista recomendou-me que abrisse empresa, que a faturação seria mais respeitada a nível internacional e seria tudo mais simples. E assim fiz. No dia 14 de fevereiro de 2018, abro a UpTogether Consulting. Assim fiz, e fiz mal.
Da AT e da SS
Para ter uma empresa precisa de cumprir escrupulosamente com estas duas entidades, mas, elas não precisam cumprir consigo. Há que saber isto.
O mínimo deslize, tipo 1 dia de atraso, seja no que for, e as multas são enormes. O contrário não é válido.
Para não falar dos erros da AT e da SS, que são muitos e maus, e do princípio “primeiro paga e depois reclama”, que vigora desde sempre nestes serviços.
Pelo caminho, uma bola de neve de coisas que bem vistas, às vezes nem nossas são.
REGRA Nº 1 DO EMPRESÁRIO/A: fugir de instituições públicas como quem foge do diabo e meter alertas na agenda de papel, no computador, no telemóvel e em três apps diferentes para saber quando é cobrado tudo e não falhar com nada.
Dos clientes que não respondem
Todos dos dias recebo uma média de três pedidos de propostas, para empresas, assim gerais e sem muita fundamentação do pedido. Andando nestas artes por conta de outrem há muitos anos e há dois na minha empresa, tenho uma proposta tipo que mando e que tem todos os nossos serviços.
No início, quando fundei a empresa, ainda me entusiasmava com os pedidos de propostas. Hoje, vejo que é mesmo para conseguirem informações e programas de forma simples e para não terem trabalho nos negócios deles. Gosto de responder cordialmente sempre. E não recebo resposta em 99% das vezes. Vale pelo 1% em que me agradecem ter enviado.
REGRA Nº 2 DO EMPRESÁRIO/A: responda sempre. Fica bem. Não crie expectativas. O mais certo é um dia ver a sua proposta, método, seja o que for reproduzido noutro contexto.
Dos clientes que não pagam
Há imensas teorias e técnicas para evitar isto. Tentei muitas, acredito que não tentei todas. Na verdade, já me revoltei, mas percebo que as pessoas que nos contratam nem querem saber. Fazia o meu trabalho, entregava e cobrava. Não pagavam. E eu não recorria aos tribunais porque sabia que ia ter custos. Depois torna-se um padrão. O ser enganada enquanto freelancer com a conversa do bandido: “Anabela, estamos a começar. Anabela este mês não conseguimos mesmo. Anabela a formação não teve tantas pessoas como queríamos. Anabela…”. Hoje em dia, coloco os processos em tribunal e espero que a justiça faça bem o seu trabalho.
REGRA Nº 3 DO EMPRESÁRIO/A: após 2 meses sem pagamento, rescinda o contrato. Está a gastar tempo valioso seu e das suas pessoas em empresas e pessoas que simplesmente não querem saber e no limite contratam outras pessoas e continuam nesta “cantiga do bandido”. A “cantiga do bandido” tornou-se um método de gestão proveitoso para muita gente.
Das Ordens Profissionais que também não querem saber
Nesta luta pela justiça, e enquanto me indignava, contratei uma advogada e paguei provisões elevadas para me representar. Ora bem, desapareceu e a Ordem dos Advogados, desde outubro de 2019 até ao dia de hoje, nada diz. Liguei, mandei e-mails para todos os lados, cartas registadas com aviso de receção e o prejuízo está do meu lado.
REGRA Nº 4 DO EMPRESÁRIO/A: não é por ser Ordem dos Advogados, ou outra organização de referência, que tem mais credibilidade e que trata das coisas com sucesso. Não acontece. Espere sempre, mas mesmo sempre o pior.
Dos Bancos que são monstros
Sim, os bancos são monstros. E nem precisamos de notícias do Novo Banco ou outras que tais para percebermos que, de facto, não existe segurança. Qualquer coisa serve para empatar o cliente, para reter da pior forma o cliente, para não fazer nada pelo cliente.
REGRA Nº 5 DO EMPRESÁRIO/A: meter o dinheiro debaixo do colchão não dá, mas disperse e abra conta em pelo menos 2 bancos. Os bancos são feitos de pessoas e as pessoas mudam de projeto e outras pessoas que chegam não têm o compromisso que outras (boas) pessoas e profissionais tinham. Divida para reinar. Nesta questão dos bancos é essencial.
Do Covid 19
“Anabela, as minhas pessoas não trabalham: Covid19”. “Anabela, vou fechar a empresa: Covid19”. “Anabela não consigo pagar este mês porque as minhas pessoas têm prioridade, mas preciso muito do seu trabalho: Covid19”.
REGRA Nº 6 DO EMPRESÁRIO/A: não arranje desculpas. Faça tudo para encontrar soluções e planos. Há tanta gente muito boa em soluções no mercado, tantos consultores excecionais e grandes problem-solvers. Há tantas boas práticas. Quando tudo falha, peça ajuda com claridade e humildade. Eu também estou aqui para isso.
Das nossas pessoas
Hoje estou com uma equipa excecionalmente boa. Hoje sinto que posso confiar na minha equipa. Que nos respeitamos todas e que nos entregamos todas. Mas houve momentos em que não foi assim. A empresa que criei, criei para trabalhar remotamente. Sempre viajei muito e queria continuar a viajar. Assim, já tive uma colaboradora que copiou o disco do meu computador na minha ausência e depois tentou vender os projetos que eu tinha feito; outra que quando rescindi contrato, sentiu que deveria ficar com o portátil da empresa (e ficou). Ou um colaborador de marketing que não sabia o que era uma hashtag e, licenciado em marketing e publicidade, dava erros de palmatória e 2 meses de correção de erros não bastaram.
Hoje a minha realidade é a que quero ter: pessoas motivadas, que me apoiam e que se apoiam entre si. Depois de bater com a cabeça nas paredes (muito, confesso) estou finalmente onde quero estar e com quem quero estar.
REGRA Nº 7 DO EMPRESÁRIO/A: as suas pessoas são tudo: são a alma do negócio, são o coração do negócio, os olhos, as mãos e todas as emoções do negócio. Contrate pessoas boas: boas de coração e motivação sobretudo. Para isso, ouça, para isso peça referências antes de contratar. Compense as suas pessoas que sem dúvida que todos os dias o vão compensar a si.
Regra nº 8 do Empresário / Regra de Tungsténio
Deve ser, à semelhança do tungsténio, a regra mais forte da sua empresa e da sua gestão, inclusive gestão de pessoas: persista sempre. Tudo vai falhar? Persista. O banco não fez? Persista. Passou um prazo? Persista.
Persista em tudo. Até em si mesmo. Quando tudo lhe diz “desiste”, eu digo: PERSISTE.
Persista em tudo. Também em si (e se persistir não for suficiente, insista e persista).
E os empresários são “deuses” (deuses intocáveis que nunca erram, pelo menos é o que me dizem) e por isso devem estar loucos mesmo!