À medida que a tecnologia se torna cada vez mais modelar, mais fácil de utilizar e capaz de executar mais tarefas, o desafio nas empresas será menos como utilizar a tecnologia e mais sobre como interagir com a tecnologia. Isto significa que a performance das pessoas será avaliada mais pelas suas competências humanas do que pelas suas competências técnicas.
Fala-se muito nos perigos e desafios inerentes à substituição das pessoas por tecnologia. Isto é natural se pensarmos nos múltiplos robots que muito brevemente conseguirão realizar muitas das tarefas que hoje fazemos, ou os computadores que, através de inteligência artificial, são mais eficientes em determinadas tarefas do que as pessoas. Estamos a assistir a uma evolução tecnológica sem precedentes, ou, como gostamos de dizer na Mercer, a fazer hoje, o amanhã. Quando ouvimos que um sistema de inteligência artificial pode funcionar como um membro de uma equipa de RH, que consegue executar com a máxima eficiência tarefas mais rotineiras, como processamento de salários, não restam dúvidas sobre o impacto que a tecnologia terá nas empresas nos próximos anos. Mas o que à partida pode ser visto como uma ameaça, deve ser considerado como uma oportunidade, pois serão sempre precisas pessoas que utilizem, interajam e beneficiem dessa tecnologia. O desafio será pois encontrar novas funções e trabalhar as novas competências necessárias para este novo Mundo do trabalho, ou seja, como interagir com a tecnologia.
É uma mudança e não existem mudanças fáceis. Diria mais, não existem mudanças sem resistências, mas a História conta-nos como temos conseguido sempre superá-las. É curioso verificar como muitas dessas mudanças ocorrem sem nos darmos conta. Senão, vejamos a série intitulada 1986 (passo a publicidade) em que uma das personagens geria um videoclube. Bem, em cinco minutos consegue-se mostrar o que já evoluímos. Primeiro a personagem mostrava o novo logótipo do clube e falava que era o futuro e que perduraria nos próximos 30 anos. Depois mostrava o computador Macintosh da sua loja que era a última geração e tinha 128k de memória. Tudo aquilo é maravilhoso. Agora pensem no que essa pessoa faz hoje? Podemos imaginar várias histórias, mas uma coisa é certa, dificilmente alguém imaginará que mantém a sua loja (pelo menos com o seu intuito original). Tanto já evoluiu desde então que só acompanhando o mercado, a personagem daquela história pode ter sucesso. Se não se reinventou ou se não mudou, então o final pode não ter sido tão feliz.
Hoje, todos nós somos de certa forma “donos de lojas” como a da série 1986 e temos de ter a noção de que o que fazemos no presente não fará provavelmente sentido daqui a poucos anos. Assim, devemos todos ser agentes conscientes da nossa mudança e de forma proativa reinventarmo-nos. Se soubermos interagir de forma inteligente com a tecnologia, estaremos a dotar as nossas organizações de novas funções que vão exigir um novo conjunto de competências mais relacionais ou, se quiserem, mais “humanas”. Atrevo-me a dizer que à medida que a tecnologia “ganha espaço” nas organizações, as pessoas terão mais tempo e oportunidade de desenvolver outro tipo de competências, como sejam a adaptabilidade, empatia, curiosidade, comunicação e pensamento criativo. Neste sentido, as organizações com modelos tradicionais do seu desenho organizacional deverão evoluir para um modelo mais flexível de construção de acordo com a evolução tecnológica e com a revolução a que assistimos no mercado do trabalho. Para isso, terão de focar-se nas funções e competências que irão necessitar no futuro.
O desafio é saber, hoje, quais serão as competências do futuro…
Por Diogo Alarcão, CEO da Mercer
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