Autora: Rita Soares, Head of People Recruiting, Development & Training no El Corte Inglés Portugal
A
ssim de repente não há uma relação direta. “Recrutar” é definido como “o conjunto de meios que uma empresa utiliza para divulgar uma oferta e captar candidaturas” (uma definição possível entre milhares), enquanto “Amar” pode ser definido como “ter um sentimento profundo por alguém ou algo”, sendo uma definição assumidamente insuficiente. Esta e qualquer outra, concordarão os meus caros leitores.
Então, mesmo sem ser de repente, continua a não existir uma relação, pelo menos evidente, entre os dois verbos. Mas há. E quem faz Recrutamento sabe-o bem. E atenção que não me refiro à dedicação, empenho, resistência à frustração que o ato de Recrutar implica. Apesar de essa poder ser, perfeitamente, uma perspetiva válida, aliás, muito válida! Porque (mais uma vez, quem faz recrutamento saberá), se há atividade nos Recursos Humanos que põe constantemente à prova a resiliência é o Recrutamento e Seleção.
Em todos os anúncios, mais ou menos digitais, nasce e renasce uma enorme fé. Tal Fenix erguida das cinzas. Uma fé de que “é desta”. É desta que este post vai encontrar o candidato ideal. É desta que não vai ser necessário recorrer a mais nenhuma fonte. O primeiro, vá, o segundo CV será perfeito. Fará o “match” ideal com a função. E isso não acontece…, mas de forma determinada lá se continua a procurar, com recurso a todas as técnicas e canais conhecidos.
Depois de reunidos alguns CVS que “até se aproximam” do que procuramos, passamos, com energias renovadas, à fase de Seleção. Dinâmicas de grupo cheias de decisões por tomar, testes de perfil que apontam para padrões de comportamento, entrevistas conduzidas com uma arte aperfeiçoada pelos anos. E finalmente escolhe-se o candidato. “Valeu a pena ter visto tantos candidatos”, é o sentimento que conforta. Avança-se com a proposta, assinatura de contrato, e eis que chega o dia tão esperado. O primeiro dia de integração na Empresa. Um acolhimento digno de um VIP: formação inicial; um tutor à espera e disponível para os muitos dias que se seguem; um Kit de integração sofisticado e personalizado, contendo alguns objetos de utilidade misturados com frases inspiradoras feitas à medida. Porque queremos alimentar a Motivação, logo a partir do primeiro momento!
Mas, passados alguns dias, chega o fatídico email – o candidato resolveu rescindir o contrato. “Este? Não é possível, este candidato era tão bom”. Erro de Seleção? Falta de acompanhamento na Integração? (Sim, porque quem Recruta sabe que a Seleção não acaba com a escolha). Má gestão das expectativas? Qualquer uma destas causas é possível, apesar dos variados programas de Onboarding, Branding, e mais umas quantas designações terminadas em “anding”.
Bom, mas voltando ao início, esta podia ser uma perspetiva válida, mais do que válida, da relação entre Recrutar e Amar. Mas não é essa que eu quero partilhar convosco (ninguém diria…). A perspetiva que me levou a querer falar sobre estes dois verbos tem que ver com o desafio, cada vez maior, que se impõe a quem Recruta, de ter que despertar no candidato o Amor pela Organização. E reparem que, propositadamente não me refiro a paixão, refiro-me a Amor, mesmo. O tal sentimento profundo por alguém ou algo. E de profundo eu retiro sólido, estável, duradouro. Poderão dizer-me que isso não compete só a quem recruta. E eu direi que concordo na íntegra. Compete a quem recruta, a quem forma, capacita, integra, desenvolve, orienta, gere… Sem dúvida que sim. Compete-nos a nós, que trabalhamos com pessoas, sem dúvida que sim.
Mas quem Recruta é quem mantém o primeiro contacto, é quem ouve o candidato pela primeira vez, quem conhece o que ele fez e por que fez. Quem sabe quais são as suas melhores competências, onde estudou, que notas teve, do que é que gostou mais e menos. Porque é que escolheu aquele primeiro emprego, porque é que decidiu mudar para outra empresa, como se perceciona, como é o seu estilo de conduta, que expectativas tem, o que o move…e poderia continuar a dizer muito mais. Quem recruta é quem abre a porta da nova casa, é o primeiro anfitrião que convida a entrar.
O rosto de quem recruta é o primeiro rosto da Empresa. E, à falta de melhor explicação, não há amor como o primeiro.
Por isto tudo, recrutar é amar…e quem o faz sabe-o tão bem como eu.
Crónica em RH
Na minha perspetiva, faz muito e todo o sentido memorizar bem estes verbos. Deveriam ser bem encarados e geridos de melhor forma, antecipando com clareza no ato de recrutamento e seleção. Várias vezes, e muitas situações depois de um recrutamento com sucesso, como a Rita espelha mesmo, é enquadrado o candidato, meses depois a desistência. Mas para mim, diria que, os que teriam mais Amor são os instrutores independentemente do fator económico ou salarial. Mas a parte motivacional deveria ser mais equipada e funcional. Entendo que o recrutamento, é sim, a porta de entrada mas aqui afirmo mais das partes ou sectores que se seguem para o devido acompanhamento melhor.