Os recrutadores vão deixar de poder perguntar aos candidatos sobre o seu histórico salarial, ficando os empregadores obrigados a divulgar, logo no anúncio de emprego, no mínimo, o intervalo salarial para a posição em aberto.
Samira Rafaela, uma das relatoras da diretiva, explica que a sua prioridade foi “assegurar aos trabalhadores as medidas mais inclusivas e com maior impacto em matéria de transparência salarial”.
Já Kira Marie Peter-Hansen, outra das relatoras da diretiva, sente-se orgulhosa pelo Parlamento ter conseguido alargar o âmbito da medida. “Com esta diretiva, damos um passo importante para garantir a igualdade de remuneração por trabalho de igual valor”, explica.
Pressão salarial na hora de recrutar ou reter talento
A medida legislativa — que depois de aprovada terá dois anos para ser vertida para a legislação de cada Estado-membro — poderá aumentar a pressão salarial na hora de recrutar ou reter talento. Em declarações ao Jornal Eco, várias empresas de RH alertam para os prós e contras da diretiva europeia.
“Há sempre resistências a mudanças. Todavia não creio que tal venha a ser um problema para as empresas. (…) será uma questão de adaptação e negociação”, antecipa a presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), Carla Tavares.
Acrescenta também que estas duas medidas irão, de certo modo, contribuir para maior transparência do mercado.
Mudanças nos procedimentos habituais de recrutamento
Mário Gonçalves, senior manager da Hays, explica que é bastante comum, em determinadas fases do processo de recrutamento, perguntar o histórico salarial aos candidatos.
“Serve para alinhar e gerir as expectativas salariais dos candidatos face à política salarial das empresas para uma determinada posição”, explica.
Com esta nova medida, na negociação em torno do salário, os empregadores perdem, em certa medida, a perceção do atual patamar remuneratório do candidato, algo muitas vezes utilizado para ajustar a oferta. Mário Gonçalves explica que uma das consequências será “o processo de negociação se tornar mais complexo, tendo por base mais componentes para além da questão salarial até se alinharem expectativas”.
“A componente salarial é muito importante para ambas as partes”
Miguel d’Almeida, responsável pelo recrutamento especializado da Kelly em Portugal, aponta que o tema salário é, “na maior parte das entrevistas”, abordado tanto pelo empregador como pelo candidato.
“Até porque a componente salarial é muito importante para ambas as partes na decisão de se abraçar um novo desafio profissional”, justifica.
Por isso, Miguel d’Almeida mostra-se cauteloso quanto às novidades introduzidas pela diretiva. “Este é um tema complexo porque, se por lado a medida pode de facto trazer mais transparência e equilíbrio global aos processos de recrutamento em termos salariais — o que é bastante positivo –, por outro lado, muitas vezes, o sucesso de um recrutamento tem por base uma análise específica e individual da realidade de cada candidato, que passa pela sua formação, experiência profissional, motivações e expectativas salariais”.
A medida ainda vai passar pelo Conselho Europeu
A diretiva da transparência salarial foi aprovada em plenário do Parlamento Europeu esta quinta-feira, com 427 votos a favor, 79 contra e 76 abstenções.
O Conselho Europeu terá de aprovar formalmente o acordo para que o texto seja promulgado e publicado no Jornal Oficial da UE. As novas regras entrarão em vigor 20 dias após a sua publicação.