A migração transfronteiriça tem vindo a gerar um produto económico anual de cerca de 9 biliões de dólares. O relatório da BCG, realizado em colaboração com a Organização Internacional para as Migrações das Nações Unidas, estima este valor poderá mais do que duplicar até 2050, para cerca de 20 biliões por ano, oferecendo uma vantagem competitiva de peso que ainda está a passar ao lado de muitas empresas
O relatório da BCG, intitulado “Questões de Migração: Uma Causa Humana com um Business Case de 20 biliões de dólares”, revela que a escassez de mão-de-obra está a custar às empresas mais de 1,3 biliões de dólares.
O mesmo estudo aponta a migração como uma oportunidade que as organizações devem agarrar para ajudar a fazer face a estes custos. De acordo com a BCG, a migração transfronteiriça gera, atualmente, um produto económico anual de cerca de 9 biliões de dólares. Este valor poderá mais do que duplicar até 2050, para cerca de 20 biliões de dólares por ano.
“É essencial que as empresas mudem de atitude em relação à migração se querem ganhar uma vantagem competitiva”, afirma Johann Harnoss, Partner & Associate Director de Inovação da BCG. “O que é hoje um custo de oportunidade de mais de 1 bilião de dólares, pode tornar-se numa oportunidade de 20 biliões até 2050. Há certamente um business case em relação à migração, mas permitir que esta seja segura e legal é também uma questão de justiça global”.
Mais de 280 milhões de pessoas, ou seja, 3,6% da população mundial, vivem atualmente fora do país onde nasceram. Durante as últimas cinco décadas, os EUA têm sido o principal destino dos migrantes. Em 2020, foi o lar de mais de 50 milhões de imigrantes, seguidos pela Alemanha (16 milhões) e pela Arábia Saudita (13 milhões). Nesse mesmo ano, aproximadamente 169 milhões de imigrantes eram trabalhadores, dos quais 70 milhões eram mulheres.
A migração como uma prioridade estratégica
Um recente inquérito, também da BCG, a executivos em dez países revelou que os CEOs apoiam a migração. 72% dos executivos acreditam que a migração é benéfica para o desenvolvimento do país, contra 41% do público em geral nestes países. Mas enquanto 95% dos CEOs afirmam que pretendem criar equipas mais diversas a nível global e 80% tomam algumas medidas a este respeito, apenas 5% o fazem de forma a garantir um impacto de longo prazo. Além disso, a migração não está na lista das cinco principais preocupações sociais dos líderes empresariais, que são pobreza mundial, clima e sustentabilidade, estabilidade geopolítica, educação e automatização.
“Apesar das inegáveis contribuições dos migrantes para as economias globais – segundo a BCG, a migração transfronteiriça gera atualmente um produto económico anual de cerca de 9 biliões de dólares -, ainda há trabalho significativo a fazer para defender os direitos dos migrantes e capitalizar todo o seu potencial”, defende Ugochi Daniels, diretor-geral adjunto da OIM. “Investir em migração segura, ordenada e digna não é apenas o mais correto, mas também o mais inteligente a fazer para o setor privado”.
As organizações com um elevado número de imigrantes na sua equipa de liderança relatam em média uma rentabilidade cerca de 15% mais elevada – 2,2 pontos percentuais, medida pelos ganhos antes de juros e impostos em termos de vendas – e têm 75% mais de probabilidade de serem líderes em inovação a nível mundial. Em 2020, 28% das 2.000 maiores empresas cotadas em bolsa do mundo revelaram a cidadania dos seus membros do conselho de administração e da sua equipa de liderança executiva, e concluíram que 26% dos executivos a nível de conselho de administração eram de um país que não o da sede da empresa.
Escassez de mão-de-obra em 2022 com custos sem precedentes
A escassez global de trabalhadores atingiu um ponto máximo em meados de 2022, com deficiências mais pronunciadas nos EUA, China, Alemanha, Reino Unido e Canadá. Numa análise da BCG às 30 maiores economias do mundo, foram identificados 30 milhões de postos de trabalho em aberto. Entre os vários tipos de competências, a escassez estrutural de mão-de-obra está a custar a estes países mais de 1,3 biliões de dólares por ano. Embora a prática de salários mais elevados, a automatização, a educação e a requalificação sejam todos necessários para resolver este problema, as empresas devem também aceitar a migração. O relatório estima que, se a migração colmatasse apenas 20% da lacuna projetada entre os países que esperam uma diminuição da população e os que esperam um crescimento, o seu valor económico aumentaria para valores entre os 13 e os 25 biliões de dólares por ano até meados do século XXI.
“Líderes inovadores reconhecerão que a migração é mais do que uma causa humana. É tanto uma oportunidade de negócio como uma oportunidade social que promove o bem-estar económico, a inovação e a competitividade global”, acrescenta Janina Kugel, Senior Advisor da BCG, membro não executivo do conselho de administração e ex-diretora de recursos humanos da Siemens.
Estratégias para as empresas adotarem a migração
Embora os casos económicos e humanitários para a migração sejam claros, as empresas também têm um papel importante e a BCG deixa três recomendações:
Desenvolver uma estratégia global para o talento: Adotar novas normas linguísticas, globalizar as contratações, utilizar novas plataformas de recrutamento para descobrir talento ignorado e permitir operações mais remotas.
Implementar uma estratégia de inovação global: Aproveitar a variedade cognitiva de equipas globalmente diversas, através da criação de redes de migração e de programas de “externship”, e defendendo as diferenças.
Defender os direitos humanos a nível global: Aceitar e proteger os direitos dos migrantes antes, durante e depois da migração, assegurando que as práticas empresariais estão alinhadas com os padrões internacionais de trabalho. O envolvimento empresarial reforça as estruturas de governação que protegem e salvaguardam os direitos dos migrantes e é vital para desenvolver percursos migratórios mais sustentáveis e legais.
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