A Fundação José Neves (FJN) está comprometida com o propósito de ajudar a transformar Portugal numa sociedade de conhecimento. Depois da 1.ª edição do “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal” – que traçou a evolução destas três vertentes ao longo da última década, analisou os impactos mensuráveis da COVID-19 e lançou as metas para 2040 –, é agora lançada a 2.ª edição que, para além de atualizar essas metas e um conjunto de indicadores de progresso do país, foca-se em duas grandes vertentes: o retorno da educação, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista do bem-estar geral e da saúde mental, e a relação entre a educação e a produtividade. Saiba quais os principais resultados e não deixe de acompanhar em direto, a partir das 15h, o evento de apresentação desta nova edição do Estado da Nação.
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Salários dos portugueses com o ensino superior caíram 11% na última década
O rendimento dos portugueses é o sétimo mais baixo da União Europeia e, na última década, o rendimento real aumentou apenas para os menos qualificados (com o ensino básico), em 5%, muito por força do aumento do salário mínimo por decreto-lei e por via da negociação coletiva. Para os mais qualificados (com o ensino superior), a perda chegou aos 11%, o que se traduz numa diminuição dos ganhos associados a mais educação. Ainda assim, Carlos Oliveira, Presidente Executivo da Fundação José Neves (FJN), ressalva, em conversa com a RHmagazine, a importância da formação: “Apesar desta diminuição dos salários médios continua a justificar-se ter um grau de formação mais elevado. Em 2019, quem tivesse uma licenciatura ganharia, em média, mais 50% do que alguém que apenas tivesse concluído o ensino secundário”. Já com o mestrado esse ganho ascende aos 59%.
“Em 2019, quem tivesse uma licenciatura ganharia, em média, mais 50% do que alguém que apenas tivesse concluído o ensino secundário” (Carlos Oliveira, FJN)
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Portugal é um dos países da UE com os rendimentos mais baixos
Em 2019, o rendimento anual médio líquido (em paridade de poder de compra) em Portugal era de 13.727€, o 7.º mais baixo da União Europeia. Os portugueses com o ensino básico e secundário tinham um rendimento médio de 10.976€ e 13.612€ respetivamente (o 10.º mais baixo entre os 27 países membros). Já com o ensino superior o rendimento médio não ultrapassava os 19.755€ (o 8.º mais baixo na UE).
Em 2019, o rendimento anual médio líquido em Portugal era o 7.º mais baixo da União Europeia
Em 2019, o rendimento médio dos trabalhadores portugueses com educação superior era menor do que o dos trabalhadores com o ensino secundário em 13 países da UE (Itália, Chipre, Irlanda, Finlândia, França, Malta, Bélgica, Holanda, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Áustria, Luxemburgo) e do que os trabalhadores menos qualificados em cinco países da UE (Finlândia, Áustria, Holanda, Dinamarca e Luxemburgo).
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O aumento dos salários depende da produtividade e Portugal tem perdido terreno face à média europeia
A produtividade portuguesa caiu de 70% para 66% da média europeia, de 2013 para 2019, e nem o aumento assinalável das qualificações das gerações mais jovens inverteu esta tendência. Para Carlos Oliveira, este é um problema sistémico do país e não um problema de “agora”, motivado pela pandemia.
“Temos um problema de produtividade que leva a salários baixos e esse problema vem a agravar-se. Em termos comparativos, estamos em divergência com a média de produtividade europeia. Este não é um problema da COVID-19; já vem de trás e tem de ser trabalhado em muitas das suas vertentes para que, efetivamente, os portugueses tenham como elevador social para uma vida melhor a educação”, defende.
Em 2019, Portugal era o 6.º país com menor produtividade, apenas acima de países como a Roménia, Polónia, Letónia, Grécia e Bulgária.
É necessário criar as condições para aumentar a produtividade e salários, garantindo que se promovem os incentivos à aposta na educação.
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A aposta na formação dos trabalhadores por parte das empresas promove a produtividade, mas apesar dos benefícios apenas 16% o fazem
Além das qualificações de base, a aposta das empresas na formação dos seus trabalhadores também pode aumentar a produtividade em 5%, mas apenas 16% das empresas portuguesas o fazem.
Quanto maior a empresa, maior a aposta na formação dos trabalhadores, mas não é uniforme para todos os trabalhadores, pois há uma menor aposta na formação dos já menos qualificados e dos mais velhos – possivelmente os que mais beneficiariam de uma atualização de competências. É necessário envolver as empresas na criação de mecanismos que mitiguem os obstáculos à aposta na formação – custo, dificuldade em avaliar necessidades, falta de tempo – e na criação de oferta formativa pertinente e adequada às necessidades.
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A aposta na formação ao longo da vida tem de ser reforçada dada a maior mobilidade entre empregos registada na última década
A percentagem de trabalhadores que mudam de profissão num ano aumentou de 8% em 2015 para 10% em 2019. Apesar de ter sido interrompida na pandemia, esta tendência já começou a recuperar na segunda parte de 2021, o que reforça a importância das competências como elemento central na mobilidade entre empregos.
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As competências são transferíveis entre empregos gerando grupos de profissões – clusters – e um novo paradigma do mercado de trabalho baseado em competências
Como refere Carlos Oliveira, para além do foco da 2.ª edição do Estado da Nação nos benefícios da educação, do ponto de vista financeiro e não só e na relação entre a educação e a produtividade, também se propôs um novo paradigma para o mercado de trabalho, assente nas competências. “Propomos um novo paradigma em que se olhe para o mercado de trabalho não apenas de uma perspetiva de duas ou três profissões que eu possa almejar fazer no meu futuro, mas sim numa perspetiva dos clusters de profissões, isto é, grupos de profissões em que posso navegar ao longo da minha vida profissional com alguma facilidade, desenvolvendo competências através da educação ao longo da vida.”
Em Portugal, os diferentes clusters de profissões variam consideravelmente em termos de emprego, salários e representatividade de jovens e diplomados. Nos últimos anos, os clusters de profissões das TIC, da Saúde e das Artes e meios de comunicação estão entre os mais ganhadores, simultaneamente em termos de emprego e salários. Competências de colaboração, comunicação, gestão e criatividade dão acesso às profissões com maior potencial e promovem a mobilidade profissional.
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A COVID-19 teve implicações na aquisição e desenvolvimento de competências, o que compromete o futuro profissional individual e o crescimento económico do país
O ensino à distância levou a perdas de aprendizagem e foi um indutor de desigualdades sociais. A transição da educação para o mercado de trabalho também foi mais difícil durante a pandemia.
Metas propostas pela Fundação José Neves para 2040
Quanto às metas propostas pela Fundação José Neves para 2040 na 1.ª edição do Estado da Nação, Carlos Oliveira revela à RHmagazine que há uma evolução positiva em quase todos elas – o que é de ressalvar –, com exceção de um dos indicadores que tem como objetivo que 90% dos jovens que terminem um grau de ensino tenham emprego. “Esse indicador, infelizmente, de 2019 para 2021, piorou cerca de três pontos percentuais, portanto, neste momento, temos cerca de 26% de jovens que terminaram ciclos de estudo nos últimos três anos sem emprego. “Este aumento da taxa de desemprego vem inverter uma tendência de diminuição que existia desde 2012. No final de 2021, havia menos 27.500 jovens empregados do que no final de 2019”, acrescenta.
“Neste momento, temos cerca de 26% de jovens que terminaram ciclos de estudo nos últimos três anos sem emprego” (Carlos Oliveira, FJN)
Eis o que a FJN ambiciona para 2040:
- Portugal nos 10 países da UE com mais emprego em tecnologia e conhecimento (de 2019 para 2021 passou de 19.º para 16.º);
- Pelo menos 25% dos adultos devem participar em educação e formação ao longo da vida (atualmente está nos 13%);
- Máximo de 15% dos adultos (25 aos 64 anos) com baixa escolaridade (atualmente está nos 40,5%);
- Pelo menos 60% dos jovens adultos com o ensino superior (atualmente está nos 47,5%);
- Pelo menos 90% dos jovens recém-formados com emprego (em 2021, apenas 74,2% dos jovens entre os 20 e os 34 anos que tinham completado o ensino secundário ou superior nos últimos três anos estavam empregados).
A edição 2022 do relatório será hoje apresentada no evento anual da Fundação José Neves, a partir das 15h, com transmissão em direto na plataforma digital da FJN e nas redes sociais da FJN (Youtube, Facebook e LinkedIn).
O evento conta com oradores como Alanis Morissette, António Damásio, Durão Barroso, António Horta Osório, Nataly Kogan e muitos outros e vai ser ainda o palco para a apresentação das novidades sobre a plataforma Brighter Future e para um ponto de situação do programa de bolsas reembolsáveis ISA FJN e da aplicação de desenvolvimento pessoal, bem-estar e saúde mental 29K FJN.
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