A forma como uma consultora gere a experiência das suas equipas, estando elas fora da sede da empresa, tem sido fulcral para garantir o bem-estar dos colaboradores e a atração e retenção do talento.
Para conhecer essa dinâmica, a RHmagazine conversou com Fernando Matos, Partner e Co-fundador da Closer Consulting. Uma conversa que abordou os temas do teletrabalho, atração e retenção de talento e o impacto da Inteligência Artificial nas empresas.
Quantos colaboradores têm a Closer Consulting em regime de teletrabalho?
Todos os colaboradores da Closer estão em regime híbrido. São cerca de 350 e têm a possibilidade de escolher onde trabalhar, sendo que os nossos três escritórios (Portugal, Brasil e Reino Unido) estão sempre abertos para todos os nossos profissionais, prontos para os receber.
Muitos dos colaboradores da Closer que trabalham em projetos de clientes, especialmente projetos internacionais, e são aqueles que mais tempo passam em casa. Porque têm reuniões com os clientes em formato online e vão fazendo os seus pontos de situação à distância.
Também importa referir que, atualmente, temos cerca de 160 dos nossos profissionais a trabalhar em regime de outsourcing, ou seja, a passarem o seu dia a dia nos escritórios dos clientes.
Quais têm sido os desafios da Closer Consulting em gerir a experiência das suas equipas em regime de teletrabalho? Quais as principais apreensões dos vossos colaboradores neste regime?
O nosso foco é garantir o bem-estar das nossas equipas, mantendo a sua alta produtividade. Vamos gerindo toda a experiência de forma balançada, equilibrando as tarefas individuais que podem ser feitas à distância com a necessidade de estar em equipa e de pensar em conjunto. Ouvir aquilo que os profissionais da Closer querem também nos ajuda a definir melhor o caminho.
A flexibilidade veio ajudar muito no dia-a-dia de trabalho, não há dúvidas. Existem, nesta área de dados, tarefas que exigem muita concentração, silêncio e grande pensamento crítico. Vemos que os nossos colaboradores preferem, muitas vezes, executar este tipo de trabalho em casa onde estão mais focados. Mas há certas questões que acreditamos que devem acontecer presencialmente, por isso, privilegiamos o regime presencial quando é necessário que a equipa se junte, debata caminho, chegue a conclusões e coloque a criatividade como prioridade.
A curva de aprendizagem, especialmente para quem é recente na empresa, é mais positiva quando se passa mais tempo com a equipa, a ouvir conversas entre pares, a observar o que os restantes colegas fazem, ou mesmo a fazer qualquer pergunta, de forma instantânea, a quem for necessário, sem ser necessário ligar o microfone ou “levantar a mão” numa videochamada. Há tarefas que se tornam complicadas de aprender em casa, sozinho, especialmente aquelas que envolvem competências de socialização e comportamento.
Preocupamo-nos em equilibrar, então, todas estas variáveis. Queremos oferecer condições de bem-estar aos nossos colaboradores, mas também queremos que eles tenham espaço para provar o seu valor, crescer, errar sempre que necessário e, acima de tudo, evoluir.
Os nossos colaboradores têm, claro, perceções diferentes uns dos outros. Há quem prefira ficar em casa, normalmente profissionais com família ou com uma carreira já estabelecida, em cargos onde já têm uma autonomia muito grande e conseguem gerir muito bem a relação com a equipa. Por outro lado, há colaboradores que sentem, de facto, uma necessidade grande de vir ao escritório, estar com pessoas, perceber o que é esperado das equipas. Muitos dos nossos colaboradores mais jovens têm esta “sede” de ir para o escritório e estar com a equipa. Há um crescimento profissional claro para quem opta por este tipo de dinamismo.
O que tentamos fazer é adaptar as condições de acordo com o feedback das equipas e com aquilo que é esperado de cada um na sua função e consoante o seu ponto de evolução.
Como incutem os valores organizacionais, à distância, junto dos vossos colaboradores? Podem dar algum testemunho profissional?
É desafiante. Na Closer, damos preferência à liderança pelo exemplo. E isso, naturalmente, acontece de forma mais eficiente quando é feito presencialmente. Observar as equipas, ouvir, aprender com quem já sabe o que fazer é fundamental para o crescimento profissional. À distância, por mais que nos seja confortável estarmos no nosso espaço, existe um certo bloqueio à exposição comportamental e não há tanto contacto.
Aquilo que fazemos, porque também reconhecemos a importância da flexibilidade, é promover e dinamizar momentos de equipa em conjunto. Temos desenvolvido um conjunto de eventos internos, onde os nossos colaboradores podem estar juntos e conversar. Estamos também a dinamizar uma série de ações internas, como a nossa revista “Closer Magazine”, por onde vamos partilhando notícias e informações pertinentes, e as nossas ações de bem-estar e saúde mental, que são dimensões a que damos especial atenção.
À distância, o que fazemos é garantir que mantemos o contacto, acima de tudo – e aqui as nossas HR Business Partners têm um papel fundamental. É muito importante ir conversando com os nossos colaboradores, perceber como se sentem, que tarefas têm em mãos e como podemos trabalhar em conjunto para uma evolução profissional. Mesmo em casa, os colaboradores da Closer sabem que têm uma equipa com quem podem falar e aprender. Asseguramo-nos sempre que estamos a incutir os nossos valores, mesmo à distância. E tentamos contornar as limitações que não estarmos no mesmo espaço impõem à cultura da organização – é um grande desafio.
Como é feita a gestão de carreiras na Closer Consulting? Que ferramentas aplicam, ou necessitam, para garantir a atração e retenção de talentos?
Temos uma estratégia de gestão de carreiras muito bem definida, que permite que as nossas equipas se sintam motivadas a entregar o melhor output possível, mantendo sempre o nível de bem-estar. Além disso, reconhecemos a competitividade do mercado tecnológico. A Closer trabalha com perfis muito técnicos, muito especializados, e, claro, há um desafio grande na atração e retenção de talentos, que visamos colmatar através dos planos de gestão de carreira e de ferramentas que aplicamos internamente.
Na Closer, temos um guia de carreira base, que depois é personalizado para cada colaborador conforme os seus inputs e interesses de evolução profissional. Definimos neste guia as responsabilidades de cada nível, as competências esperadas e aquilo que os profissionais devem fazer para crescer, como formações específicas para melhorarem progressivamente as suas skills. O nosso objetivo é mostrar e ir adaptando o caminho que cada um deve percorrer para chegar ao topo. Vemos que este guia é uma ferramenta essencial para a motivação dos nossos profissionais para continuarem a dar o melhor de si, sempre com uma meta em mente.
Orgulhamo-nos de ter uma cultura de transparência e honestidade. Os momentos de feedback não são, para nós, focados exclusivamente em trabalho. Preocupamo-nos em ouvir os nossos colaboradores, as suas ambições, os seus receios, para que possamos perceber em conjunto como podemos gerir o seu crescimento, profissional e pessoal. Ligado a tudo isto, utilizamos uma ferramenta a nível interno de gestão de talentos, que se baseia em tecnologia e IA, para garantir que aliamos a produtividade e os objetivos da empresa com o bem-estar e felicidade dos nossos colaboradores. Por exemplo, nesta plataforma é possível que o colaborador acompanhe o seu progresso, relativamente aos objetivos e competências definidos. Isto torna a experiência mais positiva para o profissional, porque consegue gerir, por si, a sua evolução.
A tecnologia está muito presente na forma como fazemos esta gestão e isso traduz-se em resultados bastante positivos.
Sendo uma empresa de Data Science especializada em Business Intelligence, Advanced Analytics e Artificial Intelligence, quais são os desafios que antecipam para os próximos anos à medida que algoritmos tornam-se sofisticados e a Inteligência Artificial torna-se a norma?
É verdade que a IA já faz parte das nossas vidas. Costumo dizer que não é o futuro, mas sim o nosso presente. Todos contactamos com IA, mesmo sem nos apercebermos. Nas redes sociais, em plataformas de streaming, em plataformas de GPS, ou mesmo em videojogos.
Por isso, o primeiro desafio que aponto é o de usar a IA de forma responsável. As práticas da Responsible AI devem fazer parte do quotidiano das empresas que desenvolvem este tipo de tecnologias. Na Closer, damos especial atenção a esta dimensão. É um desafio garantir que conseguimos equilibrar a inovação com a segurança e responsabilidade, e entregar soluções de excelência aos nossos clientes.
Também existe um desafio relativamente à literacia dos gestores face à tecnologia. Aliás, a própria sociedade ainda tem de percorrer um caminho relativamente à educação tecnológica. É importante capacitar as empresas para o conhecimento sobre dados, educá-las sobre aquilo que realmente significa investir na transição digital e maximizar resultados através da tecnologia, dos dados, dos algoritmos. As empresas data-driven têm de o ser transversalmente em todo o negócio, e isto exige que todas as equipas de uma empresa estejam capacitadas para lidar com essa questão.
Por fim, destaco a clara escassez de perfis tecnológicos altamente capacitados para estas áreas. A falta de talento qualificado é já um desafio muito óbvio. À medida que as empresas começarem a entender o potencial dos dados e a apostar em projetos desta dimensão, este desafio vai-se intensificar, claro. Esta dificuldade em contratar e reter perfis muito técnicos e especializados, num mercado tão competitivo, irá sem dúvida mostrar-se cada vez mais impactante no setor.