Apenas 50% das empresas de nearshore em Portugal considera os benefícios extrassalariais como um fator-chave para a retenção de colaboradores.
Esta é uma das principais conclusões do estudo ‘Nearshore em Portugal – Tendências na Gestão de Talento’ realizado em conjunto pela Aon, APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações e Experis, e que teve como objetivo analisar os principais desafios das empresas na gestão de pessoas e a forma como estas perspetivam a gestão desta área nos próximos anos.
De acordo com o documento, que contou com a participação de cerca de 40 mil colaboradores de 30 empresas com negócios em todos os continentes, os benefícios mais valorizados pelas empresas são os seguros de saúde, com 88% das organizações a oferecer este tipo de soluções aos seus colaboradores, e o subsídio de refeição, sendo que 88% das empresas atribuem este valor através de um cartão refeição com um valor médio diário de 7,5 euros.
Em contrapartida, o estudo indica que ao nível da proteção dos colaboradores, menos de metade das empresas (40%) oferece proteções de risco (nomeadamente seguro de vida e para acidentes de trabalho), uma percentagem muito próxima daquela que reflete o número de organizações que tem preparados planos de pensões para os seus trabalhadores (31%).
Para Nuno Abreu, HR solutions director da Aon Portugal, “esta baixa aplicação das soluções acima descritas reflete-se sobretudo pelo desconhecimento destes benefícios e pela sua não valorização junto dos colaboradores mais jovens e sem filhos, os quais representam a maioria dos participantes neste estudo (93% destes têm idades inferiores a 40 anos e 30% menos de 30 anos)”.
E acrescenta: “A proteção na reforma tornou-se um dos temas mais urgentes da atualidade das empresas, uma vez que a tendência de contínua redução da proteção do Estado na reforma poderá conduzir a um aumento da procura de planos de pensões.”
Sobre os benefícios fiscais, menos de 20% dos participantes referem que as empresas têm planos de benefícios flexíveis implementados. Para Nuno Abreu, “esta reduzida aposta assenta na falta de regulamentação clara sobre este tipo de planos e o receio, muitas vezes infundado, do aumento da complexidade administrativa associada à oferta de escolhas e à gestão regular de todas as opções”.
Ainda no âmbito da retenção de talento, o estudo refere que 75% das empresas considera que as medidas de wellbeing e reforço de engagement são a principal ferramenta de retenção de talento. Contudo, alerta Nuno Abreu, “apesar da crescente consciencialização, por parte dos empregadores, da importância das componentes emocional, de bem-estar e de felicidade necessárias ao equilíbrio de todos os colaboradores, 80% destes programas têm o seu foco na componente física, o que demonstra uma evidente dificuldade em relacionar o tema do bem-estar mental e emocional com a temática do wellbeing nas empresas e a necessidade de desenvolver uma cultura empresarial mais preparada para estas estratégias”.
Já ao nível do recrutamento, as empresas que participaram neste estudo apontam como principais desafios a garantia de competitividade no mercado, a capacidade de alcançar e comunicar com os perfis desejados e a gestão de expectativas do profissional face ao que é oferecido. Para Nuno Abreu, “estes pontos ilustram de forma clara a atual dificuldade de recrutamento, nomeadamente a grande concorrência na procura de talento e a reduzida oferta de perfis adequados, sendo que esta última poderia ser potenciada se as empresas realizassem o recrutamento numa perspetiva de procurar a capacidade de adaptação e de desenvolvimento futuro no colaborador e não tanto as suas competências técnicas”.
Sem esta abordagem, termina, “o gap entre o que as empresas precisam, em termos de talento no presente, e os recursos que têm disponíveis nos seus quadros, tendo em conta a forma como estão organizadas, será cada vez maior, sendo que atualmente já se encontra em 3,6 pontos, numa escala de 1 a 5”.