Paulo Medeiros
Diretor de consultoria do Great Place to Work® Portugal
Smartphones, internet móvel, impressoras 3D, sensores inteligentes e cloud computing já fazem parte do nosso quotidiano. IoT (Internet of Things), AI (Artificial Intelligence) e a sua atual evolução Deep Learning, Big Data e realidade aumentada são os termos mais recentes. Estes recursos são alguns, entre as muitas tecnologias que surgiram nos últimos anos, que começam a provocar grandes transformações nos modelos de negócio das organizações dos mais diversos segmentos de mercado. Todo este aparato tecnológico inovará, de modo disruptivo, a forma como as empresas irão interagir, a partir de produtos e serviços, com os clientes.
Atualmente a questão não é quando acontecerá a 4.ª Revolução Industrial, denominada Revolução 4.0 ou Indústria 4.0 e a sua face mais visível – a transformação digital. A revolução já começou! Algumas organizações já estão na vanguarda deste processo e, entretanto, a grande maioria embarcará nesta nova onda num futuro próximo.
Ao abrirmos as revistas, jornais e sites constatamos que a transformação digital é o assunto do momento. Razão há, afinal. A transformação digital irá impor-se com uma força avassaladora e colocará a experiência do cliente como principal foco. Claro que não será, apenas, este o principal foco. Há outros fatores importantes, tais como a redução do tempo no desenvolvimento de produtos e serviços, a diminuição de custos aliados ao aumento de produtividade, a tecnologia exponencial e a atividade em constante progresso.
Alguns de nós observamos este cenário com admiração e outros com grande preocupação. Vários investigadores e líderes sugerem que as empresas devem procurar a transformação agora e outros acreditam que as organizações irão passar por um processo gradual. Alguns dizem que não existirá hierarquia, mas sim trabalhos cooperativos sem uma liderança formal, os jobs descriptions não irão limitar a forma de atuar dos profissionais, que passarão a desempenhar papéis, a formação será uma prática obsoleta e a remuneração, tal como é conhecida hoje, não será praticada, entre tantas outras notícias que nos deixam maravilhados e/ou pessimistas. Cerca de 375 milhões de pessoas irão mudar de profissão até 2030. Será a revolução que quebrará com todos os conceitos que surgiram a partir da Primeira Revolução Industrial!
Convido-o a refletir. Toda a transformação é um processo gradual e natural para os organismos vivos como as empresas. Nenhuma organização se tornará digital da noite para o dia. Afinal muitas das empresas/organizações existentes não nasceram neste ambiente altamente tecnológico.
É importante começar a movimentar-se em direção à transformação digital para desenvolver um processo de aprendizagem que permita responder corretamente a um novo ambiente de competitividade digital. Entretanto, a maturidade digital será resultado de um processo de evolução, mais inclusivo para a maioria das empresas que precisará de se adaptar ao longo do tempo, já que não nasceu digital (Kane et al., 2015). Assim, as organizações poderão desviar o foco da transformação instantânea e radical para se concentrarem na maturidade digital, vendo esta revolução como um processo que leva tempo, sem fim, que é gradual e de constante mudança e a adaptação ao ambiente cada vez mais digital.
Muitas organizações perguntam-nos se existe uma receita para aderir a esta mudança com êxito. A resposta é… Não, não há. A transformação digital atingirá todas as áreas de uma organização e todos os segmentos? Não, mas definir quem, quando e como será resultado de reflexão interna e observação externa. A experiência da transformação será única para cada tipo de organização.
Não tenha dúvida. Implementar uma nova tecnologia é apenas uma pequena parte da transformação digital. Outros desafios, tais como estratégia, cultura, gestão de talentos identificados nos ciclos de atração, o desenvolvimento de soft skills e até os processos de retenção, aprendizagem organizacional, estrutura organizacional e liderança são tão importantes, se não mais importantes, do que a tecnologia.
Além de garantir que existe um compromisso da alta liderança para realizar a mudança estratégica, o departamento de recursos humanos irá atuar em várias frentes que irão permitir preparar a sua organização para a entrada no Mundo 4.0:
- Diagnosticar a cultura organizacional e prepará-la para criar um ambiente cooperativo, aberto à inovação e centrada no consumidor;
- Adequar a estrutura tradicional a uma mais flexível. Menos hierarquia e mais autonomia com responsabilidade;
- Identificar e desenvolver líderes que atuem na transformação do mindset digital dos seus colaboradores. A necessidade será eliminar do pensamento das pessoas “a forma como faço as coisas”, que é um conceito estático, para apoiar a transição para o pensamento “a melhor forma de fazer as coisas” que será algo dinâmico, visto que surgirão recursos e ferramentas a todo momento que permitirão à empresa manter-se competitiva. As pessoas terão que estar abertas a experimentá-las;
- Criar plataformas de formação (competências técnicas e comportamentais) das pessoas será, também, essencial no processo de maturidade digital. As organizações que amadurecem digitalmente têm quatro vezes mais probabilidade de proporcionar aos colaboradores as competências digitais necessárias, do que as empresas posicionadas no extremo inferior de maturidade (KANE et al., 2015);
- Criar mecanismos de atração de talentos que possuam um perfil multidisciplinar exigido pelas novas tecnologias e reter os profissionais, culturalmente alinhados, que conduzirão o processo interno de transformação;
- Não menos importante, preparar os indivíduos que não se adaptarão a este novo cenário.
A economia crescerá e incluirá novas atividades. O mercado de trabalho, como hoje o conhecemos, irá mudar nos próximos anos. As novas tecnologias reduzirão os custos de produção, permitirão que cada um tenha acesso a novos recursos e poderemos ocupar-nos de atividades em que haverá realização pessoal e profissional. Talvez a pergunta para cada um de nós seja “qual é a sua ocupação?” ao invés de “qual é o seu emprego?”.
Não há um modelo pronto. Como dica final: relaxe, entenda o que é transformação digital, defina prioridades, prepare-se e faça uma coisa de cada vez. Estamos no início de uma jornada, o caminho será longo e o ponto de chegada ainda não está visível. Faça esta caminhada com os seus colaboradores, pois todas as viagens são mais agradáveis quando são feitas com pessoas especiais e fielmente comprometidas.
O Great Place do Work® participa em projetos de organizações exponenciais que se encaminharão para a transformação digital e notamos que não há uma receita definida para ter sucesso nesta mudança. O que existe de facto é vontade em aprender a construir este novo modelo de organização.
E a sua empresa/organização? Como se está a preparar para este admirável mundo novo? Contacte-nos para mais informações sobre como podemos ajudar a sua empresa neste desafio. Peça ajuda a um dos nossos consultores.
Vamos conectar-nos? Podemos realizar um brainstorming sobre transformação digital.
Fontes:
KANE, G. C., PALMER, D., PHILIPS, A. N., KIRON, D. & BUCKLEY, N. Strategy, not technology, drives digital transformation – Becoming a Digitally Mature Enterprise. MIT Sloan Management Review. July 14, 2015.
SALIM, I., MALONE, M. S. & GEEST, Y. V. Organizações exponenciais: por que elas são 10 vezes melhores, mais rápidas e mais baratas que a sua (e o que fazer a respeito). São Paulo: HSM, 2015.
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