Autora: Dora Augusto, Director of the Lifelong Learning Department na Nova Medical School
O burnout relacionado com o trabalho tornou-se numa crise de saúde global, particularmente em ambientes de trabalho com elevados níveis de pressão. Portugal, com uma das taxas mais elevadas de burnout da Europa, evidencia a necessidade urgente de intervenção.
Num estudo realizado em 2022 pela Eurofound, mais de 30% dos trabalhadores portugueses relataram sentir stress e exaustão com frequência, o que evidencia a gravidade da situação. Esta não é uma questão individual, mas sim coletiva, afetando as equipas, o desempenho organizacional e a sociedade em geral.
A psicologia positiva pode contribuir para que as organizações promovam o bem-estar e a resiliência para todos os seus colaboradores. Uma das soluções apresentada pela mesma é promover a segurança psicológica. A segurança psicológica, a partir da qual os colaboradores se sentem seguros para expressar preocupações, assumir riscos e admitir erros sem medo de retaliação, é fundamental.
Um estudo publicado na Frontiers in Psychology, em 2021, concluiu que a segurança psicológica reduz o esgotamento, ao promover a confiança e a colaboração. Os líderes e todos os colaboradores devem ser modelos de vulnerabilidade e incentivar o diálogo aberto para criar um ambiente de trabalho favorável.
A psicologia positiva enfatiza o aproveitamento dos pontos fortes individuais e a adequação do trabalho aos objetivos. Os colaboradores que sentem que as suas contribuições são significativas e estão alinhadas com os seus valores pessoais têm menos probabilidades de sofrerem de esgotamento. O feedback regular baseado nos pontos fortes e as discussões sobre o desenvolvimento da carreira podem reforçar um sentido de objetivo e de realização.
Incentivar o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal é outra medida da psicologia positiva. Embora a promoção da resiliência seja essencial, as organizações devem também abordar questões sistémicas, tais como cargas de trabalho excessivas e expectativas pouco claras. Devem ser implementadas medidas práticas, tais como políticas de trabalho flexíveis, avaliações regulares da carga de trabalho e períodos de descanso obrigatórios.
Estas iniciativas estão em conformidade com as conclusões da Organização Mundial de Saúde, que identifica o equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada como um fator determinante para a saúde mental. Para além destas, as atividades de formação de equipas, os programas de apoio entre pares e as oportunidades de orientação podem criar um sentimento de pertença e apoio mútuo.
Por último, as chefias intermédias e superiores desempenham um papel fundamental na criação da cultura organizacional. Os líderes com formação em psicologia positiva podem influenciar o ambiente de trabalho, reconhecendo as realizações, fornecendo feedback construtivo e apoiando as necessidades de saúde mental dos funcionários.
O burnout não é, apenas, uma condição pessoal; é uma doença da sociedade. Quando os indivíduos se esgotam, as consequências repercutem-se nas suas famílias, nas comunidades e na economia em geral. Porém, o impacto social vai para além do económico. O esgotamento corrói o tecido das nossas comunidades.
Os profissionais com excesso de trabalho tornam-se pais ausentes, amigos distantes e cidadãos desinteressados. Adoecemos não só como indivíduos, mas também como sociedade. A resolução do problema do burnout exige mais do que estratégias individuais de sobrevivência; exige uma ação coletiva, um apelo à ação: “o burnout como uma responsabilidade partilhada.”
As alarmantes estatísticas de burnout em Portugal servem para nos lembrar do que está em causa. Se continuarmos nesta trajetória, o custo para os nossos sistemas de saúde, economia e coesão social será catastrófico.
Devem ser implementadas políticas de prevenção do burnout, os líderes devem defender mudanças sistémicas, os gestores devem promover equipas de apoio e os trabalhadores devem defender o seu próprio bem-estar e o dos seus colegas. Entretanto, podemos construir organizações onde o bem-estar não é um privilégio, mas um padrão, seguindo os princípios da psicologia positiva.
Lembremo-nos: não adoecemos sozinhos. Adoecemos como sociedade e só através da sociedade podemos recuperar. É altura de dar prioridade à prevenção do burnout, promover a positividade e criar locais de trabalho que permitam aos indivíduos prosperar e não, apenas, sobreviver.
Estatísticas e factos principais:
- Portugal – Mais de 30% dos trabalhadores relatam stress e exaustão frequentes, o que faz do nosso país um dos que registam estes problemas mais elevados na Europa (Eurofound, 2022).
- Impacto global – O burnout contribui anualmente com 190.000 milhões de dólares em custos de saúde só nos EUA (Harvard Business Review).
- Prevenção – As organizações com programas robustos de bem-estar registam um envolvimento dos colaboradores 21% mais elevado e taxas de rotatividade 23% mais baixas (Gallup, 2023).
As consequências repercutem-se nas suas famílias, nas comunidades e na economia em geral. Juntos, podemos inverter a tendência para o burnout e construir um futuro mais sustentável e compassivo.