Nos últimos anos, tem-se verificado uma queda generalizada nas taxas de desemprego a nível global. No entanto, a inflação dos salários não tem acompanhado esta tendência positiva. A situação tem gerado um fenómeno incomum de estagnação salarial nos mercados globais. Está é uma das principais conclusões da 8.ª edição do Hays Global Skills Index.
O relatório deste ano – intitulado de “The Global Skills Dilemma: How Can Supply Keep Up With Demand?” – avalia 34 mercados de trabalho profissionais e investiga as macrotendências, desafios e oportunidades que a força de trabalho enfrenta, a nível mundial. O relatório concentra-se na estagnação salarial e nas mudanças estruturais no mercado de trabalho, que sustentam essa incompatibilidade entre a oferta e a procura e explora tópicos relacionados com as mudanças tecnológicas e com a automação.
Segundo o estudo agora divulgado, as condições de mercado de trabalho altamente qualificado permaneceram semelhantes às do ano passado. Porém, acentuam-se as tendências de estagnação salarial, subemprego e desajuste de talentos.
Mais tecnologia, o mesmo salário
A tecnologia é um fator que tem contribuído para a estagnação generalizada dos salários, mesmo nas economias avançadas do mundo. Uma pesquisa do FMI indica que 50% do declínio na participação do trabalho se deve a melhorias tecnológicas.
Mudanças estruturais no mercado de trabalho
A estagnação salarial atual mostra que altos níveis de emprego não estão associados com o aumento dos salários. Em vez disso, decorrem de mudanças estruturais no mercado de trabalho: regulamentos que restringem a mobilidade dos trabalhadores, reduzem a competitividade e prejudicam as empresas a longo prazo.
Automação e globalização impactam negativamente as mulheres
Os últimos estudos têm vindo a mostrar que os salários nas ocupações dominadas por mulheres são mais baixos e mais suscetíveis às forças da globalização e automação. De acordo com o mais recente, predominância das mulheres em ocupações rotineiras específicas explica quase 5% da diferença de salário entre os sexos. Essas funções revelam-se ainda mais vulneráveis à automação. Da mesma forma, a segregação ocupacional também pode limitar a capacidade das mulheres de aproveitar os benefícios da globalização nas economias em desenvolvimento.
Dilema global de aptidões
O Indicador de Desajuste de Talentos, que no ano anterior apresentava o valor de 6.6, subiu para os 6.7 em 2019, apresentando agora o nível mais elevado desde o início do Index em 2012. Esta tendência global de desajuste de talentos continua a gerar diferenças salariais entre profissionais qualificados e não qualificados, particularmente na região da Ásia-Pacífico. Para além disso, as aptidões mais procuradas tem-se revelado escassas em todo o mundo, causando uma queda nas taxas de participação, principalmente na América do Norte, e contribuindo para o aumento do subemprego – quando as pessoas que desejam trabalhar em período full-time não estão a fazê-lo.
O estudo avança que num cenário de crescente incerteza económica e de progresso tecnológico contínuo, os empregadores devem investir em formação de longo prazo, minimizar o subemprego, por meio da alocação estratégica de capital humano, e capacitar a força de trabalho global para ter sucesso em meio às mudanças nas condições de trabalho.
Alistair Cox, Diretor Executivo da Hays comenta as principais conclusões do Index: “as nossas principais conclusões sugerem que o crescimento dos salários do mundo inteiro estabilizaram e um número crescente de profissionais subempregados. Para aumentar a satisfação dos trabalhadores e melhorar a produtividade do mercado de trabalho, os governos e os empregadores devem procurar resolver a estagnação dos salários e alocar o capital humano de forma mais eficiente.”
O executivo afirma ainda que as tendências de longo prazo apresentadas neste Index têm implicações significativas para os principais stakeholders, empresas, decisores e profissionais, revelando-se crucial que, no futuro, sejam feitos mais investimentos de forma a alinhar a tecnologia, a força de trabalho e a formação. “Dessa forma, os profissionais podem maximizar a produtividade em conjunto, e não em conflito, com os avanços tecnológicos”, conclui.