Nos últimos dez anos, o Global Talent Competitiveness Index (GTCI) tem avaliado e caracterizado a captação de talento por cada país e cidade no mundo. Em comparação com os dados de 2013, o relatório deste ano detalha um hiato crescente entre as nações mais ricas e as economias menos afluentes na captação de talento.
A Suíça manteve-se no primeiro lugar na atração e desenvolvimento do talento, tal como há dez anos. Em segundo lugar, aparece Singapura que tem permanecido nesta posição em todos os anos à excepção de 2020. E, em terceiro lugar, os Estados Unidos da America também aparecem com predominância. O top 10 do GTCI também têm se mantido inalterado nos últimos dez anos, dominado por países europeus como a Dinamarca, Suécia, Finlândia, Noruega e os Países Baixos.
Apesar desta estabilidade, grandes mudanças estão a ocorrer mais abaixo no ranking. Neste sentido, e com base num artigo publicado no LinkedIn, a INSEAD apresentou dez das tendências mais importantes da última década na retenção de talento e que elas significam para o futuro.
1. Economias mais ricas continuam a ofuscar as economias mais pobres
Desde que foi criado, o GTCI tem exposto as situações de pagamento desigual. Não é surpresa que os países mais ricos se situem no topo, enquanto economias mais pobres ficam um passo atrás, sem os recursos necessários para atrair, desenvolver e reter o talento nas suas fronteiras. Os 100 melhores países no ranking revelam que, na última década, apenas poucos países ricos conseguem ter boa retenção de talento consistentemente.
“A correlação entre o PIB per capita e o resultado do GTCI manteve-se robusto na última década, enfatizando a ligação forte entre a riqueza de uma nação e a competitividade de talento”, admite a INSEAD.
2. Economias emergentes continuam a subir nos rankings
Apesar de ser uma subida difícil, as economias emergentes têm revelado um impacto significativo no talento global, rompendo com hierarquias preexistentes.
Segundo as estimativas do INSEAD, o PIB combinado das economias emergentes (Brasil, China, India, Indonesia, México, Rússia e Turquia) já iguala as nações do G7 (Canada, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e os Estados Unidos).
“A evolução da China, da Indonésia e dos Emirados Árabes Unidos nos rankings do GTCI em 2023 sublinham a emergência clara destas economias”, acrescenta a INSEAD.
3. Continua a persistir a desigualdade de género
Em tempos recentes, têm sido feitos grandes passos na implementação de bases legais e regulatórias para tentar reduzir o hiato de género no mercado de trabalho. Mas os dados do GTCI indicam que o progresso continua a ser lento e insuficiente.
“Em muitas partes do mundo, as mulheres continuam a enfrentar situações de salários mais baixos e hipóteses reduzidas para o progresso de carreira, mesmo quando os candidatos têm qualificações equivalentes”, sublinha a INSEAD.
A divisão de género é ainda mais pronunciada em economias emergentes ou mais pobres, onde as mulheres têm acesso limitado à educação, dificultando o seu caminho para obterem uma educação superior e melhores trabalhos. Algo que foi exacerbado pela pandemia, expondo ainda mais as desigualdades e ,em alguns casos, tornando-as irreversíveis.
4. O impacto da Pandemia Covid-19
As práticas adotadas durante a pandemia, como o trabalho remoto ou teletrabalho, tornaram-se norma.
“Novas ferramentas, métodos e formas de organização de trabalho levaram a mudanças nas competências e talentos que são necessários no mercado atualmente”, acrescenta a INSEAD.
Com a vasta escolha de opções para modelos de trabalho, os indivíduos têm agora mais liberdade para escolher onde eles vivem e como trabalham.
5. Qualidade de vida importa mais do que nunca
Um fator crítico para os colaboradores atualmente é a qualidade de vida. Antes da pandemia, o GTCI observou uma ligação crescente entre a retenção de talento e a qualidade de vida num país.
“Esta tendência continuou depois da pandemia e vai continuar a intensificar-se nos próximos anos”, conclui a INSEAD.
6. Como as novas gerações moldam o mercado de trabalho
O objetivo das novas gerações não é apenas almejar para os setores mais dinâmicos de atividade e adquirir as competências mais desejadas, mas sim, como analisa o GTCI, priorizar trabalho com significado, contribuir para a sociedade e para o ambiente e atingir um melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.
Esta mudança, indica a INSEAD, também criou uma geração de trabalhadores que não são fiéis a uma empresa, optando por trabalho freelancer.
7. Menor mobilidade de “grandes cérebros”
“Em 2015, o GTCI apontou as vantagens de considerar os talentos como um recurso fluído, que beneficia por trabalhar e estar exposto a contextos diferentes”, destaca a INSEAD.
Descrito como “brain circulation” pela INSEAD, este benefício tem sido reduzido nos últimos dez anos por causa de dois grandes fatores. O primeiro, e mais evidente, foi a pandemia, algo que foi ligeiramente contornado com a utilização de ferramentas digitais para implementar o teletrabalho.
No entanto, outro fator que prejudicou esta mobilidade foram as crescentes incertezas derivadas de conflitos geopolíticos (ex. Israel-Hamas; Ucrânia-Rússia) ou o ressurgimento de políticas protecionistas e nacionalistas. Estes aspetos, aponta a INSEAD, contribuem para impedir a colaboração cara-a-cara e a polinização do talento além-fronteiras.
8. A influência da tecnologia na competitividade do talento
“O Global Talent Competitiveness Index antecipou bem cedo que as mudanças tecnológicas iriam necessitar de mudanças nas competências do empregador. A edição de 2020 sublinhou a necessidade imperativa para a requalificação dos trabalhadores em resposta à emergência da IA no local de trabalho”, detalha a INSEAD.
Estas tecnologias emergentes vão continuar a redefinir a natureza do trabalho, enquanto gerações mais novas continuam a trazer expectativas de evolução na mesa.
9. Os novos hubs de talento
As cidades e regiões estão a desempenhar um papel cada vez mais importante no panorama global da atração de talento. Matérias cruciais, como a sustentabilidade, inovação e talento estão a transitar dos governos nacionais para o nível local.
“Em anos anteriores, o Global Cities Talent Competitiveness Index (GCTCI) examinam como as cidades estão a desenvolver estratégias de talento inovadoras. Cidades com tamanhos menores ou de “segunda importância” implementaram políticas dinâmicas e atrativas de talento, ultrapassando cidades maiores”, acrescenta a INSEAD.
10. Inequidades do talento podem enfraquecer esforços para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Em 2022, o GTCI revelou que as disparidades crescentes de talento podem impedir os progressos feitos até ao momento para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O index identificou quatro áreas específicas – educação de qualidade, igualdade de género, redução das desigualdades e trabalho decente e crescimento económico – “que demandam atenção focada”, explica a INSEAD.
Em conclusão, a INSEAD sublinha a necessidade de fechar os hiatos de talento, promover a diversidade e criar lugares de trabalho mais inclusivos, de modo a atingir a igualdade e sustentabilidade no mercado do trabalho.