A pandemia tornou ainda mais gritante a necessidade de as organizações apostarem no bem-estar físico e psicológico dos colaboradores. Agora, com o regresso progressivo aos escritórios, as empresas começam a reativar os programas de bem-estar. A RHmagazine esteve à conversa com Tiago Santos, CEO da Workwell, empresa especializada na implementação de programas de exercício físico e bem-estar, que se adaptou à nova realidade oferecendo serviços totalmente digitais.
Como estão as empresas a planear o regresso à normalidade possível?
As empresas, de forma progressiva, começaram a retomar a ida ao escritório. Embora cautelosamente, muitas organizações estão a reativar programas de bem-estar suspensos e, noutros casos, a transitar algumas atividades para o modelo presencial. Notamos grande procura nesta fase, tanto por empresas que estão a dar os primeiros passos, como por outras que já estão em processo de discussão de orçamento e querem planear 2022. Isto reforça a valorização que a saúde e bem-estar corporativos ganharam no último ano e meio.
Por onde devem as empresas começar a trabalhar o bem-estar?
Em primeiro lugar, é importante que as empresas percebam que a saúde e o bem-estar das pessoas são fundamentais para o negócio e devem estar integrados na sua identidade, cultura e valores. É algo estratégico que deve ser visto a médio e longo prazo, não como iniciativas soltas desenquadradas dos objetivos da empresa. A valorização da saúde é uma tendência mundial e no meio corporativo não é exceção. Sem saúde, não existe nada. Em segundo lugar, devem saber que fatores de risco estão a contribuir para a perda de saúde, que tanto podem ser de cariz mais individual — como o peso, a alimentação e o sedentarismo — como organizacional — como a pressão por resultados e más relações internas com chefias e pares. Em terceiro lugar, é preciso envolver as lideranças neste processo de bem-estar, para que apoiem as pessoas e deem o exemplo, mantendo a coerência na organização. As políticas internas não podem ser opostas ao bem-estar dos colaboradores.
Há mais sintomas de burnout ou de cansaço nos colaboradores, depois destes longos meses de crise sanitária?
Sem dúvida que sim. O burnout é um esgotamento que acontece com a exposição prolongada a um conjunto de fatores de risco e, nesse sentido, percebe-se que as pessoas estão mais vulneráveis após estes meses. Notamos, no apoio psicológico que damos às empresas, que as pessoas estão mais conscientes da necessidade de apoio profissional e chegam em estádios mais precoces. Poderá significar que o famoso estigma da saúde mental está a desvanecer-se.
A saúde e bem-estar das pessoas é fundamental e deve estar integrada na identidade, cultura e valores das empresas
O trabalho híbrido parece estar a impor-se. Como é que afeta a vossa oferta?
Internamente, adotámos um modelo híbrido com a possibilidade de trabalhar dois dias por semana a partir de casa e com a tarde de sexta-feira livre. Não sentimos que a nossa produtividade tenha sido afetada. Externamente, tem afetado positivamente a nossa atividade e aberto um leque de oportunidades, permitindo chegar a mais empresas em localizações remotas, inclusive fora do país. Também conseguimos uma maior medição do impacto das atividades desenvolvidas. A nossa oferta digital não irá desaparecer e será um elemento diferenciador para prestar apoio às empresas, cada vez mais globais e digitais.
Que serviços novos tiveram de criar para responder às necessidades?
A grande revolução foi na forma de entregar os serviços aos nossos clientes: desenvolvemos produtos totalmente digitais, como as teleconsultas, que permitem aos colaboradores terem acesso a um nutricionista, um médico ou um psicólogo de forma cómoda e poupando tempo. Também desenvolvemos ferramentas de business intelligence, de avaliação psicológica e de estilo de vida para análise e apoio à tomada de decisão.
Recomendações DRH como proteger a saúde física e mental dos colaboradores:
- Implementem políticas ou programas de bem-estar adequados à sua realidade e coerentes com as políticas da empresa;
- Desenvolvam e/ou apliquem ferramentas baseadas em dados que avaliem, analisem e interpretem os índices de saúde e bem-estar dos colaboradores;
- Criem canais de comunicação acessíveis e transparentes que permitam ouvir as pessoas e entender as suas necessidades;
- Apostem no desenvolvimento dos colaboradores em temas relacionados com o bem-estar e que aumentem recursos psicológicos, resiliência e gestão emocional.
Entrevista publicada na edição n.º 136 da RHmagazine, referente aos meses de setembro/outubro de 2021.