Ora, se o activo mais importante de uma organização são as pessoas, então, os gestores devem dar uma atenção especial a esse activo, investindo nele para que se possa traduzir em valor acrescentado no futuro e justificar o investimento.
Cabo Verde, um país que conquistou a sua independência há 38 anos, caracterizado por ser um país seguro, democrático, com grande estabilidade social e maturidade política, factor-chave para atrair investimentos externos que possam potencializar o seu desenvolvimento, garantindo uma maior qualidade de vida para a sua população, tem vindo a investir fortemente na formação do seu recurso mais valioso, os cabo-verdianos, através das instituições públicas, empresas privadas e instituições de ensino.
Se nos podemos queixar da nossa pobreza em recursos naturais, devemos vangloriar-nos pelo nosso enorme potencial humano, pela nossa vontade de aprender, conhecer, estudar, desenvolver, factor que tem sido o motor do nosso desenvolvimento político, social e económico. Devido à falta de recursos naturais, Cabo Verde, através dos seus dirigentes, tem vindo a apostar ao longo da sua história na formação e qualificação da sua população. Actualmente, Cabo Verde conta com uma oferta de mão-de-obra bastante qualificada, fruto do investimento na formação que foi e tem sido feito desde a sua independência, podendo as empresas cabo-verdianas aproveitar esta oferta e potencializar o seu desenvolvimento. Prova disto é que estamos a exportar mão-de-obra qualificada para diversos países, principalmente países africanos, nomeadamente Angola.
Não podia deixar aqui um pouco da minha experiência na área de gestão de RH e alguns comentários e observações sobre a gestão das pessoas nas empresas cabo-verdianas sem fazer essa pequena introdução e enquadrar os leitores sobre o tema.
Do meu ponto de vista, a gestão de RH nas empresas cabo-verdianas não é algo novo e recente. Porém, até há pouco tempo, os gestores e dirigentes das empresas focalizavam-se basicamente na gestão administrativa de RH e muito recentemente passaram a ter uma visão estratégica de RH.
Com o surgimento, no mercado cabo-verdiano, de empresas especializadas na área de consultoria de RH, de formação, de quadros formados na área, as empresas nacionais passaram a contar com uma oferta qualificada e especializada em RH e começaram a dar importância a uma gestão focalizada nas pessoas. Hoje em dia, a visão de que investir nas pessoas é um mero desperdício de dinheiro deve ser ultrapassada. Ora, se o activo mais importante de uma organização são as pessoas, então, os gestores devem dar uma atenção especial a esse activo, investindo nele para que se possa traduzir em valor acrescentado no futuro e justificar o investimento.
Penso que os gestores e dirigentes nacionais estão consciencializados de que só conseguem tirar vantagem competitiva num mercado que já se começou a revelar concorrencial se investirem nos seus colaboradores e na contratação de quadros qualificados, da mesma forma como a visão dos mesmos tem vindo a alterar-se com as novas tendências de gestão das pessoas.
As empresas nacionais estão abertas a novas tendências de gestão das pessoas, de inovação tecnológica, de melhoria contínua dos processos com foco na qualidade, investindo fortemente na formação. Os resultados são visíveis, tanto é que cada vez mais empresas estrangeiras procuram o nosso mercado para oferecerem serviços na área de consultoria e formação de RH, respondendo positivamente as empresas nacionais a estas ofertas.
Para além destas ofertas, é de referir que em 2013 foi realizada em Cabo Verde a 1.ª edição da Feira de Recursos Humanos, que contou com a participação de algumas instituições públicas e empresas privadas, compartilhando ideias e desafios comuns. Perspectivando a realização da 2.ª edição em 2014, penso que contará com a participação de um maior número de empresas e instituições públicas, permitindo a troca de ideias entre os profissionais da área.
Partilho um pouco da minha experiência profissional como técnico de RH na empresa Garantia, Companhia de Seguros de Cabo Verde, SA, líder do mercado segurador em Cabo Verde, tendo sido galardoada pela quarta vez consecutiva com o prémio Selo Morabeza, que a distingue como a seguradora em que os cabo-verdianos mais confiam, apresentando ao mercado uma diversidade de soluções de protecção nos ramos vida e não vida a particulares, empresas e profissionais liberais, certificada em 2012 pela APCER nos termos da norma internacional NP EN ISO 9001:2008 como tendo uma gestão orientada pela qualidade e melhoria contínua dos processos internos e externos, pelo que muito me orgulha dizer «minha empresa», pelo sentimento de pertença.
Tudo isto não seria possível sem a contribuição e dedicação dos seus quadros que sinergicamente colaboram todos os dias para atingir os objectivos traçados tendo em conta a missão, visão e valores da companhia.
A certificação de qualidade está a ser fundamental para o processo de mudança nas diversas vertentes da companhia, desde a política de recursos humanos, gestão financeira, sistemas de informação e de organização e sobretudo na gestão e fidelização dos nossos clientes.
No que se refere à política de recursos humanos, o grande desafio tem sido o investimento na formação dos nossos colaboradores, a aposta em quadros jovens e qualificados nas funções estratégicas para o aumento da produtividade e do volume de negócios da companhia.
As apostas têm sido na mudança de metodologias de gestão de pessoas, na implementação de sistemas de avaliação que promovam a melhoria contínua do desempenho dos nossos quadros e que garantam a fiabilidade, justiça e equidade na avaliação e na diferenciação do desempenho, baseada em critérios que remetem para os objectivos, resultados e competências, na articulação do plano de formação com o sistema de avaliação de desempenho, bem como no sistema de gestão de carreiras e desenvolvimento profissional dos nossos quadros.
Neste mercado concorrencial, consideramos a formação dos colaboradores o factor de destaque para a diferenciação, uma vez que trabalhamos, desenvolvemos e actualizamos as competências dos nossos quadros. Está claramente provado, e não é novidade na gestão, que as competências são os factores-chave para o sucesso das pessoas dentro das organizações. Por isso, na nossa política de recursos humanos, estamos a trabalhar fortemente no nosso plano de formação, englobando acções que têm impacto directo no negócio e que desenvolvem competências-chave para o desenvolvimento profissional dos colaboradores.
A bom porto podemos chegar com competência, porque sem ela podemos ficar à deriva.
POR: VICTOR FURTADO[1]
Técnico de RH da Garantia, Companhia de Seguros de Cabo Verde, SA e secretário da Assembleia da ACG-RH – Associação Cabo-Verdiana dos Gestores e Técnicos de Recursos Humanos
[1] O autor não segue o novo acordo ortográfico.
Artigo publicado na RHmagazine.