Vasco de Mello, Presidente da Business Roundtable Portugal, fala-nos do papel da associação, que junta 42 das maiores empresas e grupos empresariais em Portugal, com o intuito de acelerar o crescimento económico e social do país.
Como descreveria a natureza da Associação Business Roundtable Portugal (Associação BRP)?
A Associação BRP é uma organização colaborativa que junta 42 das maiores empresas e grupos empresariais em Portugal, através dos seus líderes, num único propósito, que é o de acelerar o crescimento económico e social do país, para garantir um Portugal mais justo, próspero e sustentável.
Como país, andamos há demasiado tempo a debater os problemas que travam o nosso desenvolvimento. Sentimos que podíamos contribuir com o nosso conhecimento e experiência para desbloquear o crescimento do país. Para o conseguir, criámos um conjunto de grupos de trabalho integrados em três áreas estruturais para o país – Pessoas, Empresas e Estado – que têm como missão formular e implementar propostas de atuação dirigidas à sociedade, às empresas e ao Governo.
Estamos a trabalhar para proporcionar mais oportunidades de realização pessoal e profissional aos portugueses, aumentar a escala e competitividade das empresas nacionais e promover um Estado facilitador da atividade económica.
Acreditamos na iniciativa privada e, portanto, estamos a olhar para o que mais podemos fazer dentro do enquadramento legal e regulatório, no entanto, não hesitaremos em propor formas de melhorar a legislação, regulação e funcionamento do Estado sempre que for preciso.
No final, queremos desbloquear o crescimento do país e colocá-lo entre os 15 países mais desenvolvidos da Europa.
Como se cruza concretamente esse objetivo com os três eixos de atuação da Associação BRP: “as Pessoas, as Empresas, o Estado”?
Acreditamos que Portugal pode – e deve – crescer muito mais! Só criando mais riqueza podemos ter uma população mais realizada, empresas mais competitivas e um país mais próspero. Ao Estado cabe o importante papel de assegurar a igualdade de oportunidades, para pessoas e empresas, e a sustentabilidade do país e dos nossos recursos.
É daqui que surgem os três eixos de atuação da Associação BRP, que através dos seus grupos de trabalho, pretende ser um parceiro e agente de ação ao serviço do desenvolvimento económico e social nacional. Atualmente, temos em curso quatro grupos de trabalho com 16 subgrupos nas mais diversas áreas, desde a requalificação do talento, ensino profissional, até ao corporate governance e burocracia. No total, estão envolvidas mais de 250 pessoas, maioritariamente quadros superiores das empresas associadas, e ainda um vasto conjunto de especialistas, quer sejam individuais, instituições ou empresas, que nos apoiam no desenho e implementação de algumas das nossas propostas.
Criámos grupos de trabalho integrados em três áreas estruturais – pessoas, empresas e estado – que têm como missão formular e implementar propostas de atuação dirigidas à sociedade, às empresas e ao governo.
Neste contexto de dificuldade, o que se pode esperar da Associação BRP, designadamente na área da gestão de recursos humanos?
Estamos enfocados nos problemas estruturais do país. As dificuldades conjunturais, com toda a importância que têm, não nos podem distrair do que realmente mais importa – desbloquear o crescimento do país.
Nos últimos meses, temos vindo a estudar as principais fragilidades do nosso país em cada um dos eixos de atuação e a desenvolver soluções concretas que respondam a esses desafios. No eixo “Pessoas”, identificámos que existe uma falta de profissionais qualificados para responder às necessidades atuais e futuras do mercado de trabalho, seja por desajuste ou por falta de competências, potenciadas pela transição digital e climática. Ora, uma população ativa qualificada é o motor e alavanca do crescimento económico, logo sentimos que este deveria ser um desafio a endereçar.
Centrámos a nossa atenção em três temas: a requalificação de desempregados e de profissionais ativos em risco de desemprego; o ensino profissional, não universitário e, finalmente, a atração e retenção de talento.
Para o desafio da requalificação juntámo-nos recentemente – com 17 empresas associadas e outras seis empresas externas que trouxemos – ao PRO_MOV, um projeto que tem na sua génese o programa europeu Reskilling for Employment, criado pelo European Round Table for Industry, do qual a Sonae, Nestlé e SAP são membros, e que em Portugal conta com a colaboração do IEFP, ANQEP e Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
A iniciativa visa requalificar 20 mil portugueses em situação de desemprego até 2025, através de 30 laboratórios e 600 turmas de formação em diversas áreas de atividade, desde agricultura, vendas e green jobs, até à assistência médica e digital. Pretendemos responder à estimativa que indica que perto de 300.000 portugueses com baixas qualificações ou sem qualificações estarão em risco de perderem os seus empregos nos próximos anos, em consequência das mudanças tecnológicas, de mercado e demográficas.
Relativamente ao ensino profissional, deve haver uma maior aposta no ensino técnico. É fundamental aumentarmos as oportunidades de formação e desenvolvimento de competências, sobretudo para aqueles talentos que desejam uma maior especialização e proximidade ao mercado de trabalho, e em áreas que são estratégicas para responder às transformações em curso. É um casamento perfeito entre a procura por maior realização profissional e a oferta de carreiras que respondem às necessidades do mercado por novas competências técnicas, com impacto positivo na produtividade, na melhoria dos salários e na qualidade de vida da população.
Ao nível da atração e retenção do talento, será necessário encontrar medidas que permitam reter os milhares de trabalhadores qualificados – na sua maioria jovens – que todos os anos partem em busca de melhores oportunidades. Para ambas as problemáticas, temos neste momento os respetivos subgrupos de trabalho a estudar quais as propostas mais adequadas para responder a estes desafios.
No eixo de “pessoas”, centrámos a nossa atenção na requalificação de desempregados e de profissionais ativos em risco de desemprego; No ensino profissional, não universitário e na atração e retenção de talento
A Associação BRP aderiu recentemente ao programa PRO_MOV. Qual a expetativa para esta iniciativa?
Estamos preocupados com os 300.000 portugueses que não tendo ou tendo muito baixas qualificações se estima que vão perder o seu posto de trabalho no decurso da presente década. Encontrámos no programa “Reskilling for Employment” do ERT um mecanismo eficaz para a requalificação em larga escala e emprestámos a nossa força para que tenha o sucesso e o impacto desejável nas vidas destas pessoas.
No fundo, pretendemos com o PRO_MOV acelerar a requalificação dos portugueses desempregados ou com profissões em risco de extinção, por forma a capacitá-los a responder às transformações no mercado de trabalho, apoiando, em última instância, a sua reintegração profissional. Acreditamos que os membros da Associação BRP poderão ter um papel fundamental na prossecução da missão deste programa, nomeadamente ao promoverem a formação em contexto de trabalho destes indivíduos.
Em termos práticos, cada laboratório irá beneficiar da participação destas empresas a dois níveis: por um lado, enquanto líderes dos laboratórios, responsáveis pela definição dos objetivos do programa, dos currículos formativos e pelo processo de seleção de candidatos e, por outro, enquanto participantes dos próprios laboratórios, prestando auxílio aos líderes dos laboratórios nas decisões-chave, disponibilizando recursos, e apoiando na criação e implementação dos cursos através da participação ativa em workshops e disponibilização de vagas para estágios.
Vemos este projeto como um claro exemplo de colaboração estratégica entre público e privado, e entre empresas, para endereçar um problema crítico ao crescimento do nosso país. Não podíamos estar mais satisfeitos com os resultados que, em conjunto, já alcançámos, no entanto, há ainda muito trabalho pela frente.
Entrevista publicada na edição n.º 142 da RHmagazine, referente aos meses de setembro/outubro de 2022.
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À carência crónica de verdadeiro planeamento e soluções estruturais em Portugal contrapõe-se está grande articulação de vontades de empresários para transformar o país – com uma ambição clara e temas bem definidos.