Autor: Rui Ramiro, Professor de Português para Estrangeiros e Inglês no Ensino Secundário. Certificado em Coaching e Gestão de Recursos Humanos. Tem vindo a desenvolver a sua carreira em setores como o Futebol Profissional, Minas e Turismo, em mercados como Espanha, Angola, Canadá e China
A Escola enquanto instituição é essencial no que diz respeito à formação dos futuros profissionais e cidadãos, ativos, conscientes, autónomos e donos do próprio destino. Por conseguinte, importa dotar quem nela trabalha de todas as ferramentas que possam contribuir para o cumprimento da sua missão.
Numa sociedade que se caracteriza por um intenso grau de mudança, a Escola enquanto instituição tem vindo a assumir um crescente número de missões, muitas delas até aqui associadas à família. Numa sociedade de intenso grau de mudança e na qual a família enquanto instituição se revela incapaz de contribuir plenamente para o percurso formativo e educacional das gerações mais novas, cabe à Escola levar a cabo desde missões como o apoio ao estudo até outras de maior complexidade como o suporte ao desenvolvimento pessoal dos jovens.
O Coaching é um conceito cuja origem remonta ao século XVI, quando na cidade húngara de Kocs se fabricavam as carruagens mais luxuosas da Europa. O meio de condução de um ponto a outro – uma carruagem – foi evoluindo e passou para a língua inglesa como “coach”, termo que passou a ser associado à figura do treinador. Ou seja, o que nos conduz de um ponto do percurso a um outro ponto mais desejável, no que ao nosso desenvolvimento pessoal diz respeito, é uma ferramenta que faz todo o sentido no contexto escolar, que diariamente se confronta com a exigente missão de proporcionar o necessário suporte ao crescimento pessoal dos jovens que nele fazem o seu percurso rumo ao crescimento.
É neste contexto que se torna importante partilhar uma das boas experiências que tão bons resultados tem vindo a proporcionar junto dos alunos. Implementado pelo Ministério da Educação, o programa de Apoio Tutorial Específico começou em 2018, com o propósito de contribuir para a diminuição do número de retenções no ensino básico, incidindo sobre os alunos com duas ou mais retenções. Passados dois anos letivos, as escolas viram alargado o seu trabalho ao ensino secundário. As escolas possuem equipas de pelo menos três professores afetos ao programa, cada um deles apoiando diariamente o percurso de um grupo de dez alunos. A Direção Geral de Educação tem vindo a proporcionar aos professores e às escolas o necessário suporte formativo, ainda que muitos dos profissionais afetos a este programa exerçam a sua atividade muito com base na sua experiência de vida.
Este texto visa partilhar algumas referências que em termos práticos tão bons resultados proporcionaram, no que ao sucesso escolar e pessoal dos alunos integrados neste programa diz respeito. Na sua implementação, os princípios e os instrumentos do coaching assumem um papel fulcral.
Assim, a primeira questão passa por um contacto regular, transparente e assertivo com os “sponsors” do programa, ou seja, encarregados de educação dos alunos e diretor de turma, sem esquecer a Direção das escolas. É fundamental que os “sponsors” do programa compreendam de forma clara o que irá acontecer, com que propósito e baseado em que regras. A mesma coisa deverá ocorrer logo nos primeiros momentos de contacto com os alunos, ou seja, os “coachees”. Gerir expectativas é essencial para o sucesso destes percursos e a definição dos aspetos atrás referidos é essencial parar que tal aconteça, assim como facultar um feedback regular aos intervenientes nestes processos.
Posteriormente, assume-se como essencial formular um bom diagnóstico dos alunos/”coachees”. Recorrendo a instrumentos como a roda da vida, uma análise SWOT ou a identificação das crenças limitadoras, é possível com relativa facilidade obter um bom manancial de informação dos jovens que participam no programa, para posteriormente auxiliá-los na definição dos seus objetivos de desenvolvimento, a título pessoal e enquanto alunos. A este nível, é possível aferir questões como o foco e compromisso com as tarefas escolares por parte dos jovens que participam neste programa, assim como a capacidade de definir objetivos de médio prazo em relação ao seu futuro e o trajeto necessário à sua concretização.
Recorrendo a instrumentos como a roda da vida, uma análise SWOT ou a identificação das crenças limitadoras, é possível com relativa facilidade obter um bom manancial de informação dos jovens que participam no programa [Apoio Tutorial Específico], para posteriormente auxiliá-los na definição dos seus objetivos de desenvolvimento, a título pessoal e enquanto alunos
Numa fase seguinte do programa, os alunos são acompanhados quinzenalmente, em sessões de entre trinta a sessenta minutos, nas quais o modelo GROW é quase sempre a base de trabalho. Deste modo, é possível fomentar a responsabilidade e a autonomia dos jovens que participam no programa, que por sua vez se tornam progressivamente também mais conscientes em relação ao seu percurso e capazes de mobilizar as suas características, nomeadamente os seus pontos fortes, em prol do seu sucesso educativo e pessoal. A título de exemplo, trabalhando com base nestas técnicas, os jovens tornam-se cada vez mais capazes de gerir as suas tarefas escolares e coordená-las com as suas atividades de tempo livre, pelo desenvolvimento de competências de gestão de tempo.
O contributo dos designados “sponsors” do programa é essencial a cada momento, pelo reforço da responsabilização dos participantes face aos objetivos que eles próprios traçaram para si mesmos. Por outro lado, são os “sponsors” que muitas vezes alertam para determinadas questões que é necessário trabalhar com os jovens, assim como validam os resultados do trabalho que vai sendo realizado.
Em suma, o Coaching aporta ao programa de Apoio Tutorial Específico um importante conjunto de ferramentas que aumentam largamente a possibilidade de sucesso dos participantes. Por exemplo, no ano letivo 2021/2022, na Escola Secundária de Sampaio – Sesimbra, cerca de noventa por cento dos alunos que nele participaram conseguiram obter o almejado sucesso educativo que lhes fugia há vários anos.
Obviamente que há riscos e limitações neste caminho. A insuficiente formação dos professores que nele participam pode tornar o processo menos eficaz. O número insuficiente de professores ou técnicos especializados pode ser outro obstáculo de relevo. Contudo, é importante assumir que a qualificação em Coaching pode proporcionar resultados muito significativos para o sucesso pessoal e escolar dos jovens.
O programa de Apoio Tutorial Específico visa acima de tudo contribuir para o reforço de características como a autonomia, capacidade de gestão de tempo e autoconsciência dos jovens que dele beneficiam. Desta forma, e com o Coaching a assumir um papel fulcral, a Escola consolida sobremaneira o trabalho das famílias enquanto células educativas de referência e proporciona aos alunos importantes ferramentas que os tornarão melhores alunos, mas acima de tudo melhores pessoas e cidadãos, contribuindo para a sua integração plena na sociedade e tornando-os também mais felizes na sua caminhada.
Tenhamos sempre presente que a Escola é um local de grande dinamismo e vivacidade, onde encontramos todas as forças, fraquezas, ameaças e oportunidades de qualquer instituição social. Pela força que o Coaching pode acrescentar, a sua incorporação neste contexto é uma grande oportunidade para valorizar e consolidar a missão da Escola.
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