Autora:
Lúcia Palma
Ágil= ser leve, ligeiro, que se movimenta com facilidade
A Metodologia Agile, tão proclamada nas grandes multinacionais, em especial na área tecnológica, consiste num movimento, que surgiu em meados dos anos 90 em resposta aos pesados métodos de gestão e desenvolvimento de software que predominavam na época, os chamamos “métodos tradicionais”, que se caracterizam por uma sequência de fases de desenvolvimento, em que cada fase somente se inicia quando a anterior se encerra, e a saída de uma fase é a entrada da fase seguinte.
Esta metodologia tinha foco em planos detalhados definidos no princípio do projeto, com o custo, escopo e um cronograma detalhado, baseados em processos cada vez mais complicados e com extensa burocracia, bem como na centralização de decisões numa única pessoa. Neste modelo, as mudanças são fortemente indesejadas.
Se parássemos por aqui, já seria possível a muitos de nós começar a questionar a “agilidade” das nossas organizações, ou ficar perplexos com os inúmeros exemplos (e micro exemplos) de empresas e departamentos, completamente, tradicionalistas face às exigências dos nossos tempos, em especial depois da pandemia ter acelerado a era digital para um patamar só expectável em uma
década.
Para aqueles que sempre olharam para um departamento de recursos humanos, como uma estrutura que vai muito além do departamento que paga salários, marca férias, gere faltas, e a elabora contratos, e que sempre se focaram nas áreas de desenvolvimento, a fim de potenciar os talentos da organização, a metodologia agile é o reforço positivo de todas estas crenças.
As novas exigências do mundo de trabalho, no pós-pandemia, fazem perceber que mais que nunca são as pessoas (e sempre elas) o ativo mais precioso da organização, e que são elas que fazem a marca, dão valor ao produto final a entregar ao cliente, e que são o cerne de qualquer processo.
Tomam cada vez mais relevo os quatro valores que estão por trás da metodologia agile, e que recrio abaixo:
• Pessoas e interações mais que processos e ferramentas;
• Software em funcionamento mais que documentação abrangente;
• Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;
• Responder a mudanças mais que seguir um plano.
Destaco em especial o primeiro dos valores enunciados da metodologia agile: pessoas e interações mais que processos e ferramentas.
Valorizar as pessoas e interações mais que processos e ferramentas leva em conta que, em última instância, quem gera produtos e serviços são os indivíduos, que possuem características únicas individualmente e em equipa, como talento e habilidade. As pessoas que compõem uma equipa são mais importantes do que seus papéis em diagramas e fluxogramas de processos.
Assim, embora descrições de processos possam ser necessárias para o início de qualquer trabalho, as pessoas envolvidas nos processos não podem ser trocadas como peças ou seres inanimados.
Qualquer projeto depende das questões humanas para seu sucesso. Como exemplo, tenhamos em conta que a vida social e familiar dos membros da equipa são afetadas pelo excesso de trabalho, e isso não é um fato que deva ser ignorado. Este é um dos motivos pelos quais as grandes multinacionais que praticam esta metodologia se preocupam tanto em promover o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos seus colaboradores.
Nunca é demais mencionar que são críticas para o sucesso dos projetos as habilidades, personalidades e peculiaridades dos membros de cada equipa. Esta reflexão leva nos para a questão da qualidade da interação entre os membros da equipa que muito relevante para o sucesso e resolução de problemas no desenvolvimento do projeto.
O uso da comunicação e do feedback é uma diretiva essencial para a prática agile, especialmente no que toca ao feedback individual e de grande proximidade. As habilidades individuais e o trabalho em equipa são duas premissas inseparáveis no desenvolvimento de qualquer projeto.
A metodologia agile reforça ainda a ideia de simplificação dos processos, uma vez que determinadas ferramentas podem guiar e apoiar o desenvolvimento do projeto, mas é com a capacidade e conhecimento dos indivíduos que se pode contar para tomar decisões críticas.
Bons processos ajudam a equipa ao invés de ditar como seu trabalho deve ser feito, e desta forma
são os processos que se devem adaptar à equipa, e não o oposto.
Mais uma vez, o foco são as pessoas, já que o processo, por melhor que seja, não é um substituto para a aquisição e prática efetiva de competências.
Estamos na era do conhecimento, e esse já seria um argumento bastante para colocar a tónica
nas pessoas, no capital humano dentro de qualquer organização.
Tentar gerir pessoas, cada vez mais preocupadas com o equilíbrio entre a sua vida pessoal e profissional, cada vez mais atentas ao reconhecimento dentro da organização, a um clima organizacional saudável, e a benefícios que compõem hoje o conceito de “salário emocional”, dando lhes grande importância na hora de decidir pela continuidade ou não dentro de uma empresa, através de processos hierárquicos burocráticos e normas complexas, é condenar qualquer
organização ao fracasso no que toca à retenção de talentos.
A metodologia ágile reforça a importância de acrescentar valor ao negócio, de criar ciclos curtos e
promover a melhoria contínua.
Cabe agora aos departamentos de capital humano promover flexibilidade, adaptabilidade e inovação para apoiar incondicionalmente a experiência do colaborador. O objetivo agora é estar mais perto das equipas, permitindo que elas possam identificar facilmente os problemas que precisam ser resolvidos. Isso diminui o tempo necessário para desenvolver e implementar uma resposta e, logo, a tomada de decisão mais rápida.
Em jeito de conclusão, é preciso esclarecer que: os recursos humanos não precisam ser rápidos para ser ágeis, mas precisam sim, de ser, adaptáveis.
Esta característica lembra-nos o quarto valor desta metodologia: responder às mudanças. Cada projeto deve mudar e reorganizar-se, dependendo do nível de incerteza inerente a ele. Em projetos onde há alta incerteza, a investigação e a conceção mental predominam sobre o planejamento e a execução restrita de tarefas planejadas.
Cada aos recursos humanos ajudar os colaboradores a enfrentar a turbulência da incerteza do mundo volátil em que vivemos; tornando-se cada vez mais indispensável dentro das organizações que estes profissionais possam assumir tarefas de planeamento estratégico.