Autora: Maria Ferreira, Psicóloga Clínica | TEAM 24
Não é possível pensar na subjetividade humana como uma desconexão entre o indivíduo e os seus ecossistemas. Estamos integrados em sistemas e a forma como eles se harmonizam é um elemento fundamental ao nosso bem-estar.
Setembro é o mês dos recomeços, de voltar a rotinas e à agitação mental e física da gestão de um dia onde, por vezes, sobram tarefas e faltam horas. Porque não ver este recomeço como uma oportunidade de gerir os problemas de sempre com novas abordagens? Se leva os trabalhos de casa dos filhos para o trabalho e os novos projetos para o quarto e acorda sem saber se está na cama ou na cadeira do escritório, talvez seja altura de conciliar tarefas e integrar o “eu” num equilíbrio saudável entre os vários domínios da vida.
Sabemos que o trabalho, além de fonte de rendimento, é um elemento constitutivo da realização pessoal, contribuindo para o autoconceito e a perceção de autoeficácia. Não obstante, percebemos, cada vez mais, um efeito pervasivo do trabalho sobre os restantes domínios das nossas vidas, que resulta da importância socialmente atribuída à carreira e ao sucesso profissional. O desafio está, então, em como integrar a carreira com o “eu” não laboral.
A expressão work-life balance remonta à década de 70 do século passado e diz respeito ao equilíbrio na capacidade de priorizar as exigências laborais e as alusivas à vida pessoal, devendo o indivíduo estar ativa e salutarmente envolvido nas várias dimensões que compõem a sua vida. Apesar da teoria, o termo é, na prática, muito mais dinâmico e pessoal do que pode parecer. Está dependente dos objetivos e das prioridades de cada um, embora fundamental seja mesmo saber ouvir-se e não esperar por uma crise para atuar.
Qual o papel das organizações?
Ora que, se somos elementos influenciados por sistemas, também o nosso estado tem influência sobre o funcionamento do sistema. Desta forma, o meio organizacional vem sendo paulatinamente mais sensível à relação entre bem-estar físico e mental dos seus colaboradores e à produtividade dos mesmos.
A literatura indica que empresas que promovem um adequado work-life balance têm maior facilidade em reter talentos, estabilizar e motivar equipas. Percecionam, ainda, maior satisfação, competência e produtividade dos seus colabores, bem como menor absentismo e presentismo na organização.
Desta forma, as empresas têm um papel fundamental na conciliação dos domínios laboral e pessoal, podendo, para isso, adotar medidas como a criação de um ambiente empático e aberto à comunicação, no qual haja espaço para estratégias como horários flexíveis e regimes híbridos de trabalho.
Que estratégias podemos adotar para promover a reorganização familiar e do trabalho?
Neste caso, o relógio é um ótimo conselheiro. Vejamos: o dia tem 24 horas, das quais 8 devem ser dedicadas ao sono, e outras 8 dedicadas à atividade laboral, sobram-nos, precisamente, 8 horas para lazer. Esta distribuição sugere que, se o tempo dedicado a cada uma das atividades é o mesmo, então a importância e a produtividade que lhes dedicamos deverá ser, também, semelhante. Devemos, por outro lado, olhar para este desafio de forma tolerante e aceitar que não há gestões perfeitas. A improdutividade pontual em qualquer dos contextos é normal e deve servir para que se redirecione e volte às suas prioridades.
Saiba estabelecer limites e horários de trabalho, para que se desconecte sem culpas. Defina objetivos alcançáveis e cumpra-os. Poderá, para tal, agendar tarefas que lhe permitam tirar partido do tempo que dedica a si e aos seus e usufruir com qualidade de umas merecidas férias. Procure conhecer os elementos da sua equipa e retirar prazer de pequenos detalhes da sua atividade laboral. Desta forma, prioriza a sua saúde e será mais fácil dar o exemplo, cumprindo as metas que estabeleceu para encontrar o seu equilíbrio dinâmico.
Quando um ganha, ganhamos todos!
O sistema é resultado da soma dos seus elementos e da interação que entre eles se estabelece. Assim, elementos saudáveis resultam em equipas saudáveis e em empresas funcionais. Manter um bom work-life balance aumenta a satisfação com a vida, a saúde mental e física dos indivíduos, enquanto lhes diminui o stress e a ansiedade. Tudo isto se reflete na motivação para o trabalho e na produtividade das empresas.