Autor: Ana Rita Sousa
Diretora de Recursos Humanos e Diretora Técnica da Unidade de Cuidados Continuados Integrados na Santa Casa da Misericórdia de Mortágua. Licenciada em Serviço Social e Pós-Graduada em Gestão de Pessoas e Equipas pela Coimbra Business School. Consultora Sénior, área onde desenvolve projetos para a capacitação do terceiro setor, com uma vasta experiência em organizações da zona centro e ilhas do arquipélago dos Açores.
O
terceiro setor tem uma importância incontornável na nossa sociedade. É neste setor que se trabalha para atenuar as desigualdades socais e efetivar os direitos dos cidadãos. É só por isto inquestionável a sua importância.
Nas organizações deste setor, o ativo são pessoas, são pessoas que trabalham para e com pessoas, os recursos humanos são, por esta razão, cruciais para o desenvolvimento da atividade das instituições, no entanto, existe um sentimento reiterado de falta de reconhecimento do trabalho desenvolvido.
Como nos diz Francisco Branco, “as Organizações Sociais Sem Fins Lucrativos constituem, hoje, um importante campo de trabalho para os assistentes sociais, uma vez que estas entidades são um dos principais prestadores de serviços sociais. Na maioria destas, este profissional ocupa o lugar de diretor técnico, onde tem que desempenhar as funções inerentes à gestão dos recursos humanos”.
Refere ainda Francisco Branco, que “com a restrição da admissão de efetivos na administração pública e o crescimento da oferta de serviços sociais convencionados entre o Estado e as IPSS, este setor apresenta-se, atualmente, como o maior empregador dos assistentes sociais em Portugal, estimando-se que o seu contingente tenha já ultrapassado o constituído pelo emprego público. (…), a criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, que articula as áreas da saúde e segurança social, veio igualmente contribuir para este processo de crescimento”.
Continua dizendo que, “importa assinalar a forte dualização do mercado de trabalho verificada entre o setor público (e empresarial) e o setor das organizações particulares de solidariedade social. Esta dualidade tem impactos a vários níveis profissionais:
- estrutura de carreiras;
- condições remuneratórias;
- mecanismos de regulação profissional nas situações de trabalho”.
Todas estas conclusões do artigo “A profissão de assistente social em Portugal” de Francisco Branco vêm corroborar a sensação de desmotivação e alicerçar as conclusões dos diversos diagnósticos realizados.
Urge repensar a função de diretor técnico e dotar os/as assistentes sociais de ferramentas para que a desempenhem da melhor forma possível. O projeto de capacitação para o terceiro setor desenvolvido em diversas instituições traçou intervenções à medida das necessidades de cada uma das organizações com o objetivo de colmatar as falhas detetadas ao longo do diagnóstico, intervenções estas que facilmente se adaptavam a outras instituições e às suas realidades, já que constatámos vários denominadores comuns nas intervenções, nomeadamente os referidos, de forma transversal, pelos diversos diretores técnicos:
- Acumulação de funções;
- Falta de formação para assumir as funções de diretor técnico;
- Desconhecimentos na área da gestão financeira;
- Desconhecimentos na área da gestão de recursos humanos;
- Desmotivação;
- Baixos salários vs. responsabilidades;
- Dificuldade em gerir a desmotivação dos colaboradores;
- Dificuldade em gerir os conflitos internos.
Neste âmbito, e de forma a resolver as lacunas identificadas, foram realizadas formações para a capacitação dos diretores técnicos na área da gestão de recursos humanos, gestão financeira, gestão da qualidade, entre outras mais pontuais e adaptadas a cada uma das realidades, como ferramentas para a realização e otimização das escalas de serviço, gestão financeira, controlo de stocks, realização de manual de funções, recrutamento e seleção de candidatos, criação de sistemas de avaliação de desempenho, entre outras.
Facilmente constatámos que as lacunas existentes e transversais à maioria das instituições alvo da intervenção do projeto de capacitação para o terceiro setor poderiam ser colmatadas com alguns conceitos básicos de gestão, mais em concreto de gestão de recursos humanos, ao nível da formação base em Serviço Social.
Este artigo pretende ser um humilde contributo, para uma reflexão que necessita de ser aprofundada, no que concerne ao desempenho das funções de assistente social enquanto diretor técnico e, em consequência, gestor de recursos humanos das instituições do terceiro setor, onde se torna imperioso que a formação seja complementada por alguns conhecimentos na área da gestão, mais em concreto na gestão de recursos humanos.
É por todas estas razões imperioso que se repense a formação base de Serviço Social e se equacione a hipótese de introduzir uma unidade curricular específica que dote estes profissionais de competências que lhes permitam desempenhar as funções de diretor técnico com maior segurança, eficácia e eficiência.
Parabéns pelo artigo.
Revejo-me a 100%.
Mais, não somos devidamente reconhecidos nem valorizados pelas direcções nem familiares dos utentes.
Obrigada Carla!
É importante que se escreva e fale sobre estes temas para que tenham visibilidade. Só se muda o que se conhece <3