Autor:
Vasco Barbosa – Senior Consultant
O conceito de job crafting refere-se à prática da reconstrução do significado do trabalho. A ideia do conceito é tornar as atividades de trabalho mais produtivas, através de uma relação simbólica com a função.
O conceito nasceu a partir de uma pesquisa realizada por duas professoras universitárias. Esta pesquisa consistiu num conjunto de entrevistas a equipas de limpeza de hospitais. A conclusão dos resultados observados é a disparidade entre a forma como as pessoas percebiam o seu trabalho. E é aqui que nasce o conceito! Vejamos os exemplos das disparidades de percepções, nos dois grupos estudados:
- O primeiro grupo desempenha a sua função por obrigação, com pouca satisfação, procurando somente o salário ao final do mês;
- O segundo grupo encontra no trabalho, um significado especial. Este grupo entende que o seu trabalho, faz parte da cura das pessoas do hospital “se os pacientes tiverem todas as condições de higiene e segurança, terão uma probabilidade maior de cura”.
Transportar o conceito para a realidade atual nunca fez tanto sentido. Com as novas formas de trabalho (aceleradas pela pandemia) a proliferar nas empresas portuguesas, o distanciamento para com a organização é quase inevitável. Para dar um novo sentido ao trabalho nesta nova era, é importante desenvolver o conceito de job crafting – em paralelo com a área de employer branding. Outros autores, mais tarde, provaram a existência de uma relação positiva entre o conceito de job crafting e os resultados de engagement e produtividade. Ou seja, para além de ser uma ferramenta útil para a nova era que nos espera, é também sinónimo de melhores resultados e engagement das equipas.
Existem três pilares que permitem estimular o job crafting e que são genericamente aplicáveis por todas as organizações:
> Significado do trabalho – Por vezes, bastam pequenas mudanças numa função para alterar fortemente a nossa perceção sobre o trabalho. Muitas das vezes, estas mudanças não têm que passar pelas nossas chefias – temos que ser nós, individualmente, a fazer este assessment e procurar o nosso sentido no trabalho – como vimos no exemplo das autoras. Versões mais complexas destas possíveis alterações podem passar por um assessment organizacional feito por uma consultora ou um mapeamento interno liderado pela equipa de recursos humanos. O coaching é também uma poderosa ferramenta nesta busca individual (e/ou coletiva) pelo sentido do trabalho.
> Maximização dos recursos – Muitas das vezes, os nossos pontos fortes não são utilizados tanto quanto gostaríamos e pensamos “que desperdício”. Se este sentimento existir, então provavelmente, existe espaço para reconstruir o job crafting, com a transformação/aquisição/redesign de responsabilidades. Estas competências subaproveitadas, podem também ser utilizadas em programas de inovação transversais à organização.
> Comunicação e relacionamento – A parte mais dificil nesta era pós-covid, mas possível com todos os canais que temos à nossa disponibilidade. Toda a comunicação que estimule a relação/engagement com a empresa é propícia a aumentar a qualidade da perceção do sentido do trabalho – o job crafting.
Numa altura em que a incerteza aumenta e a recetividade a mudar de função diminui, é importante olhar para o job crafting como uma ferramenta de suporte à adaptação e gestão da mudança que todos teremos que passar nos próximos tempos.