Autor: Rui Ramiro, professor de Português para Estrangeiros e Inglês, igualmente certificado em Gestão de Recursos Humanos e “Professional Coaching”. Carreira profissional desenvolvida em Portugal e em mercados como Angola, China, Reino Unido e Estados Unidos, em setores como Minas, Construção Civil e Futebol Profissional, tanto na área do Ensino de Idiomas como em Formação de Liderança e Desenvolvimento de Equipas.
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”
Nelson Mandela
A Educação é sem dúvida uma arma! Uma arma fundamental para que as sociedades evoluam e os seus cidadãos sejam conscientes e profissionais competitivos. Portugal tem vindo, nos últimos anos, a trabalhar no sentido de reforçar o combate ao abandono escolar, que desde 2017 evoluiu favoravelmente de cerca de 13% para 8,9% (2020), de acordo com dados da PORDATA. Neste capítulo, o Ensino Profissional assume um papel fundamental, com mais de 40% dos alunos matriculados nesta opção, de acordo com dados de 2018/2019, sendo a empregabilidade superior a 80%. Em países cuja economia possui uma forte componente industrial, como é o caso da Alemanha, 46% dos jovens entre os 25 e 34 anos possuem certificações de cariz profissionalizante, de acordo com dados de 2020.
Face à competitividade do mundo atual, a Escola deverá necessariamente ser um local de preparação dos futuros cidadãos para esse mesmo mundo, aproximando-se dele enquanto instituição, para que os alunos possam a partir daí consolidar-se enquanto profissionais e pessoas. Torna-se, por conseguinte, importante refletir sobre como essa aproximação se pode materializar, assim como que vantagens e obstáculos existem para que tal desiderato se atinja, pelo que se deixa seguidamente um contributo para a reflexão sobre este tema da ligação Escola – Mundo do Trabalho, baseado em algumas práticas do seu autor.
O início do percurso formativo é uma fase fundamental para os jovens, na medida em que possuem um conhecimento pouco sólido da sua área de estudo e são ainda dotados de pouca maturidade. Por conseguinte, assume-se como fundamental que os alunos construam referências credíveis no âmbito da sua área científica/de estudos. Nesse sentido, o contacto com figuras e instituições relacionadas com a sua opção académica serão essenciais. A organização de visitas de estudo e de palestras com convidados deste perfil assumem-se como algumas das soluções a ter em conta neste âmbito. Desta forma, os alunos constroem de modo consistente o seu quadro mental, atitudes e práticas, algo essencial para o seu sucesso académico e futura inserção no mundo profissional.
Já numa fase intermédia do seu percurso escolar e dotados de base teórica/técnica mais desenvolvida, os alunos podem e devem ser desafiados a apresentar soluções! Soluções que as organizações do mundo exterior podem e devem colocar às instituições de ensino, pois são elas os efetivos centros de conhecimento. Deste modo, trabalhando em verdadeiro contexto de Gestão de Projeto, os alunos desenvolvem competências comportamentais e técnicas que lhes serão de enorme valia no seu futuro profissional, além de que muitos verão já aqui as suas capacidades reconhecidas por parte das organizações exteriores à sua instituição de ensino.
Ainda nessa fase intermédia do percurso, as aulas no exterior são uma ferramenta de desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais dos alunos. Definindo tarefas de curta duração que os jovens realizarão fora do espaço da instituição escolar, os professores poderão também deste modo fazer com que os alunos consolidem as suas capacidades.
Para a concretização de ambas as propostas anteriormente referidas será essencial um corpo docente com ligação ao mundo real. Um corpo docente que de forma regular desenvolva laços com instituições externas à escola, que lhes permita contribuir de modo consistente para o desenvolvimento dos alunos e a sua futura inserção no mundo profissional.
Atente-se no caso de uma escola profissional da região de Lisboa e Vale do Tejo, que oferece só no seu polo de Oeiras seis cursos das áreas tecnológica, audiovisual e marketing. Alunos do curso de Vídeo, do curso de Marketing e do curso de Gestão de Equipamentos Informáticos foram desafiados a realizar um projeto de desenvolvimento de aplicações que correm na plataforma de uma das empresas de IT mais conceituadas de Portugal. Foram constituídas equipas de alunos da turma de Gestão de Equipamentos Informáticos, que depois de formados por técnicos da empresa anteriormente mencionada e pelo seu professor de Aplicações Informáticas, desenvolveram ferramentas que depois seriam colocadas na plataforma da empresa, que as comercializaria. Deste modo, os alunos conseguiram realizar várias aulas em ambiente real e o produto final constituiu-se como a avaliação final de dois dos seus módulos. Alunos da turma do curso de Vídeo produziram uma reportagem deste projeto e os alunos do curso de Marketing desenvolveram a estratégia de promoção e comercialização das aplicações produzidas pelos colegas.
Saliente-se que os professores que dinamizaram este projeto de aulas em ambiente real são profissionais da área de IT, da Televisão e de Marketing. Um outro professor trabalha em Recursos Humanos, além de ensinar Inglês, pelo que muitos deles possuem ligações ao mundo corporativo, assim como experiência de cariz multinacional. Estes mesmos professores promoveram visitas de estudo a estações de televisão e conferências com personalidades de referência do panorama das empresas portuguesas, nomeadamente de IT, para que os alunos tivessem desde o início do seu percurso formativo contacto com o que de melhor existe e acontece em Portugal.
São por conseguinte inegáveis as vantagens do desenvolvimento de percursos formativos desta natureza, no que ao envolvimento dos alunos e à consolidação das suas aprendizagens diz respeito, sem esquecer a sua formação cívica e enquanto futuros profissionais. O momento da entrada nos estágios e no contexto de trabalho será deste modo concretizado com uma solidez acrescentada por parte dos alunos, mais familiarizados com toda esta envolvência. No entanto, num contexto de pressão face ao cumprimento dos programas, elevada carga de burocracia e desmotivação dos professores pelos bloqueios na sua evolução profissional, há sem dúvida alguns obstáculos no que ao envolvimento destes profissionais diz respeito.
Não obstante todos os obstáculos, importa salientar que a Escola é e sempre será uma instituição essencial na formação dos futuros cidadãos e profissionais, num ambiente de cada vez maior complexidade, exigência e competitividade, no mundo global que vivemos. Por conseguinte, será essencial que as instituições de ensino promovam estratégias de aproximação dos seus alunos ao mundo real, tornando-os cada vez mais preparados para a sua inserção no competitivo contexto que vivemos.