Autora: Rita Soares, Head of People Recruiting, Development & Training no El Corte Inglés Portugal
São variadíssimas as teorias que existem sobre cultura organizacional, o seu objetivo e implicações na adaptação das pessoas e no sucesso das empresas. Quem nunca leu as famosas frases “A cultura come a estratégia ao pequeno almoço”, ou a cultura é “a forma como fazemos as coisas por aqui”?
E quem nunca viu, algures numa ação de formação em que heroicamente se tenta explicar a importância da cultura, o tutorial com os macacos como protagonistas? Sim, aquele vídeo em que, repetidamente, um macaco se junta à comunidade, e não entendendo porque é que os restantes evitam o cacho de bananas, toma ele essa iniciativa. Até desistir, depois de tantos jatos de água o impedirem de trepar, acabando por se juntar à mesma comunidade que o demovia cada vez que tentava subir à bananeira.
As questões que andam em redor deste tema da cultura podem parecer muitas vezes demasiado filosóficas. É positivo ou não a existência de uma cultura forte? O que é mais importante, o que é que deve prevalecer, a cultura ou a estratégia (que eu pergunto já, de forma antecipada, têm de ser inimigas?); é mau sinal querer manter a cultura de uma determinada empresa? É isso que impede a inovação?
Na verdade, até podem parecer demasiado filosóficas, mas são de amadurecer. E eu gostava que me acompanhassem na reflexão que faço de seguida. Vejamos: a cultura, de maneira geral (na sociedade) é definida como o conjunto de tradições, comportamentos, crenças, costumes e conhecimento das pessoas de uma determinada região. Caracteriza aquelas pessoas, ajuda a compreender os seus comportamentos, ajuda a entender como podemos conviver melhor com elas, porque passamos a conhecê-las melhor.
Da mesma forma, a cultura organizacional, corporativa ou empresarial pode ser definida como o conjunto de crenças, normas, diretrizes e hábitos praticados por uma empresa. Para que ela seja clara e eficiente, é necessário que seja compreendida e aplicada por todos os seus colaboradores, desde o topo até à operação. Ajuda a alinhar. E estando alinhados, cada um, ao seu nível, com o papel que lhe cabe, caminha no mesmo sentido. A cultura determina comportamentos e atitudes individuais e coletivas, possibilita sentimentos de pertença e segurança.
Isto é mau? Evidentemente que não. Isto é positivo, muito positivo. Mas então porque é que se fala tanto de mudança cultural, organizacional, como condição para maior inovação? É já inegável que as empresas mais robustas em comportamentos que incorporem a mudança, permeáveis a um mindset de aprendizagem contínua, e apetentes à inovação, estão mais preparadas para a sobrevivência e até evolução. Mas isso não tem de comprometer a cultura, não tem de colocar em causa, só porque sim, a história e memória daquela empresa.
As empresas mais robustas em comportamentos que incorporem a mudança, permeáveis a um mindset de aprendizagem contínua, e apetentes à inovação, estão mais preparadas para a sobrevivência e até evolução
Incorporar inovação (a tão famosa cultura de inovação) não tem de significar quebrar com a cultura daquela empresa, quebrar com o ADN daquela empresa, especialmente se ele, o ADN, o gene, aquilo que corre no sangue de todas as pessoas da organização, contribuiu para aquela empresa ser o que é hoje, com o sucesso que tem hoje. Em suma, a reflexão que gostaria de deixar aqui, é que cultura organizacional e inovação não têm de ser entendidas como conceitos separados, pelo contrário.
Eu comecei o meu percurso profissional nesta mesma empresa onde estou hoje. Em 2001. Fiz a abertura das várias lojas, recrutei muita gente, para todas as funções, dei formação a muitas das pessoas que ainda aqui estão, conheço muitos pelo nome. Sei quem são. A muitos conheço-os há duas décadas. Já fiz as mesmas coisas de maneiras muito diferentes, em papel, a digitar a informação tecla a tecla, e agora através de sistemas automatizados. Acertei em muitas coisas, contribui para projetos e práticas que ainda existem hoje, mas também já errei, algumas vezes. E não faz mal. Aprendi, cresci.
Incorporar inovação (a tão famosa cultura de inovação) não tem de significar quebrar com a cultura daquela empresa, quebrar com o ADN daquela empresa
Se tivesse de resumir o meu percurso, diria que foi de crescimento, profissional e pessoal. Tanto que aprendi também pessoalmente. E o palco foi este, esta escola, esta empresa, com as pessoas que dela fazem parte. E continuo a aprender com todas.
Isto, não tem de mudar. Não tem de ser extinto pela inovação. Isto, tem de andar de braços dados com a inovação. E acima de tudo, isto tem de ser transmitido aos que agora iniciam. E isto, isto tudo e muito mais, que se chama de cultura, só se transmite de uma maneira, falando para o coração. Como só o El Corte Inglés sabe fazer.
Por isso, Cultura escreve-se com “C” de coração. Inovação faz-se com “I” de iniciativa. Haverá casamento mais perfeito?
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Gostei muito da coragem de partilhar o que correu bem e o que foram lições aprendidas.