Autora
Joana Santos Silva, Diretora de Inovação e Professora de Estratégia do ISEG Executive Education.
Estamos numa época em que fazemos o balanço do ano que termina e nas aspirações para o ano seguinte. Refletir e sonhar sobre um futuro desejado, seja ele repleto de saúde, paz, dinheiro, uma nova carreira…, é um exercício mais ou mais constante, mas que em última instância geralmente se prende com a busca da felicidade.
Sonhar acordado ou divagar com a mente é caracterizado por pensamentos desconectados do ambiente e da tarefa presente. A pesquisa nesta área estima que 30-50% do nosso tempo acordado é passado a sonhar acordado. A professora de psicologia de NYU, Gabriele Oettingen, acredita que sonhar acordado é essencial para o atingimento dos nossos objetivos. Ela afirma que mantemos a motivação e compromisso com o objetivo futuro ao sonhar com o mesmo.
A neurociência consegue demonstrar que sonhar acordado também estimula a criatividade. Quando não estamos a “fazer nada” estimulamos a rede de modo padrão do cérebro e é por isso que temos momentos de grande inspiração quando escovamos os dentes…
Sonhar acordado também estimula a nossa paciência e consequentemente melhora a nossa capacidade de tomada de decisão. É uma tentativa de dar sentido à vida. Estudos demonstram que pessoas com cérebros eficientes têm demasiada capacidade cerebral para impedir que as suas mentes vagueiem. Se forem como eu, e tiverem tendência para viagens mentais durante reuniões longas, esta informação servirá de consolo…
Como estamos numa fase especial do ano, partilho convosco que sou voluntária da Make-a-Wish Portugal, e se aprendi algo com esta experiência, foi o poder do desejo ou do sonho de forma prática e real. A Make-a-Wish tem como missão conceder um desejo a crianças que padecem de doenças graves, progressivas, degenerativas ou malignas, proporcionando-lhes um momento de força, alegria e esperança.
Os desejos têm um poder transformador nas crianças e nas famílias que se encontram numa fase de extrema fragilidade, de angústia e de desafio de superação. Por mais empáticos que sejamos, é impossível sentir verdadeiramente o que estas crianças e suas famílias passam.
O desejo visa estabelecer uma meta, um objetivo associado a emoções e recordações positivas. Não se limita ao momento da concretização do mesmo, perdura ao longo de toda a jornada (Wish Journey) desde a captação até muito após a realização. Pretende dar ânimo, motivação, capacidade de abstração do contexto negativo, tema de conversa à hora de jantar além de tratamentos e cirurgias… É uma “bolha” de energia positiva que deve crescer ao longo do tempo mostrando que tudo é possível. Assim, se é possível realizar o desejo, também é possível enfrentar a doença. A Make-a-Wish Israel efetuou um estudo que demonstrou que a concretização do desejo melhorava a esperança e motivação das crianças, assim como, o seu estado de saúde emocional e físico.
Todavia, o mais curioso do poder transformador do desejo é de que ele não impacta apenas as crianças e suas famílias, mas de forma igualmente forte (ou até mais) os voluntários e as instituições envolvidas. Poderiam pensar que lidar com uma criança gravemente doente seria uma fonte de ansiedade e de tristeza, contudo o ímpeto criado é de força positiva.
Se estamos todos na busca (muitas vezes não realizada) da felicidade, sabemos que ajudar outros tem um impacto direto, mensurável e significativo na nossa satisfação pessoal. Por outras palavras, se quiserem ser mais felizes pensem nos outros.
Um estudo efetuado no Reino Unido, seguiu 70 000 pessoas, de1996 a 2014, e avaliou saúde mental, níveis de stress, satisfação com o dia-a-dia e se faziam ou não voluntariado. Concluíram que as pessoas que participavam em projetos de voluntariado estavam mais satisfeitas com as suas vidas e reportavam melhores níveis de saúde geral. Adicionalmente, quanto mais tempo dedicavam a estas atividades mais beneficiavam do efeito positivo.
A Universidade de Berkeley conduziu um estudo que concluiu que idosos que praticavam voluntariado viviam mais tempo. Em suma, o voluntariado é intrinsecamente gratificante, ou seja, quando ajudamos os outros sentimo-nos individualmente melhores. Num outro ângulo, se não puderem dar tempo, podem sempre dar dinheiro. A Universidade de Harvard demonstrou que dar dinheiro a outros resulta num aumento de felicidade maior do que se o valor fosse gasto com o próprio.
O National Institutes of Health dos EUA, demonstrou que doar a instituições ativa as regiões do cérebro associadas ao prazer, à conexão social e à confiança. Consequentemente, sentimo-nos bem. Os mesmos cientistas acreditam que comportamentos altruístas libertam endorfinas que produzem o efeito “euforia do ajudante”. E ainda um investigador de medicina preventiva demonstrou que dar a outras pessoas resultava num efeito benéfico para pessoas com problemas de saúde crónicas.
Nesta fase do ano em que pensamos em dar prendas, sabemos que dar estimula sentimentos de gratidão, que é essencial para a felicidade, o nosso estado de saúde e ligações sociais. Investigação na área da ciência da felicidade tem ligado o sentimento de gratidão à nossa felicidade pessoal.
Por fim, dar, contagia. Quando temos comportamentos altruístas inspiramos outros a mimetizar esses mesmos comportamentos. Assim, sugiro que usem a quadra natalícia para estimular uma “cascata de altruísmo”.
Se sonham com felicidade, deixo o repto de fazer acontecer os vossos sonhos, mas também os dos outros. Podem ser voluntários, atuar como parceiros institucionais, envolver equipas de colaboradores, participar com contribuições financeiras, seja na Make-a-Wish ou noutra instituição de impacto, serão certamente beneficiados pelo ato. Por último, nesta quadra e no próximo ano, desejo a todos as maiores felicidades e que sonhem sempre porque “eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer…” – por António Gedeão.
Boas Festas! Sejam Felizes!