Com uma política de recrutamento dinâmica, a Atos Portugal abraça os valores da diversidade, inclusão e igualdade de oportunidades. Prova disso foi a contratação de uma colaboradora tetraplégica para testar a performance de soluções da marca. A RHmagazine falou com Octávio Oliveira, country manager da empresa, sobre o mercado TI em Portugal e os processos de contratação, onboarding e retenção da organização, e com Inês Rodrigues, que nos mostra que não há impossíveis – mesmo quando os seus 95% de incapacidade pareciam antever o contrário.
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Atos IT Solutions and Services Unipessoal Lda. – empresa global de transformação digital – foi criada em 1997 através da junção de duas companhias de IT francesas e passou a operar em Portugal aquando da aquisição da Siemens IT Solutions and Services, em 2011. Atualmente, a Atos Portugal conta com mais de 400 colaboradores (internos e externos), entre os quais está Inês Rodrigues, uma jovem de 26 anos tetraplégica com 95% de incapacidade, resultado de um AVC que sofreu com apenas 17 anos de idade. Foi em janeiro de 2018 que Inês iniciou um ano de estágio na Atos Portugal e desde 1 de janeiro de 2019 trabalha a contrato a termo certo e a tempo parcial em regime de teletrabalho, desempenhando o cargo de functional analyst. Com este tipo de exemplos, a Atos Portugal lança o repto para que mais empresas possam dar esta oportunidade a outras pessoas em situações similares.
A seu ver, como tem evoluído o mercado TI em Portugal?
O.O. O mercado das TI em Portugal tem evoluído no sentido de proporcionar pleno emprego, alta especialização e crescimento de projetos tecnológicos. A pandemia veio acelerar a evolução tecnológica para o suporte à desmaterialização, contribuindo assim para a digitalização. Hoje, estamos mais próximos de tudo estando simultaneamente mais afastados socialmente e as TI têm sido, inequivocamente, o suporte desta transformação.
Qual foi o impacto desta transformação digital para a Atos Portugal?
O.O. A Atos estava particularmente bem preparada para o impacto que a digitalização trouxe ao posto de trabalho – já promovíamos o teletrabalho, disponibilizando todas as ferramentas de suporte ao mesmo, pelo que foi possível de forma imediata adaptarmo-nos a uma nova realidade e continuar a suportar os nossos clientes sem disrupções.
Com a crescente digitalização dos negócios, aumentou também a procura por profissionais de TI – perfis especialmente difíceis de recrutar e reter. Na Atos Portugal sentem esta dificuldade?
O.O. Creio que hoje todos sentimos esta dificuldade; ela sempre existiu apenas se agudizou. Não há fórmulas milagrosas de solucioná-la, há apenas um conjunto de iniciativas e boas práticas que ajudam a mitigar o problema, mas não tenhamos ilusões: enquanto o mercado for muito sensível ao preço tal como continua a ser, esta dificuldade irá manter-se, até porque hoje é ainda mais fácil trabalhar-se para fora cá dentro – o teletrabalho veio encurtar distâncias e riscos.
Como é que a Atos Portugal gere a contratação, o onboarding e a retenção dos seus profissionais?
O.O. A Atos Portugal tem vindo a trabalhar a forma como gere a sua contratação, onboarding e retenção do talento, em função da rápida evolução do mercado. Isto pressupõe a capacidade de sermos proativos e atrativos.
Do ponto de vista da contratação, e face aos desafios em contratar profissionais de TI, a Atos trabalha sobretudo de forma proativa no mercado. A contratação destes profissionais assenta num pilar que acreditamos ser game changing – darmos a melhor experiência ao candidato. É, para a Atos, importante que os candidatos tenham uma experiência positiva durante todo o processo de recrutamento e contratação e onboarding. O processo de onboarding é igualmente planeado para garantir que quando a pessoa entra na organização tem tudo pronto para a receber, desde equipamentos e contas pessoais, até a uma receção e introdução à empresa, aos seus sistemas e áreas de suporte. Receber e acompanhar é, com certeza, a forma mais humana de gerir as nossas pessoas e proporcionar, não só a melhor experiência ao candidato, como também ao nosso colaborador.
A retenção ocorre todos os dias e está associada à vontade que um colaborador tem de permanecer na organização. Esse é o único elemento que importa e para o qual trabalhamos diariamente em diversos domínios para garantir que é aqui que queremos trabalhar.
A Atos obteve a certificação Great Place to Work (GPTW), que a qualifica como um excelente local para trabalhar. A certificação alcançada pela Atos em Portugal tem por base os resultados de um inquérito realizado aos colaboradores – especificamente, os resultados da pesquisa revelam que os seus profissionais valorizam a empresa pelo bom ambiente de trabalho, pela confiança nos seus gestores e pelo orgulho no seu trabalho, entre outros aspetos. Também destacam o trabalho que a empresa realiza nas questões relacionadas com a diversidade, o que a torna num ambiente inclusivo e garante igualdade de oportunidades.
Ainda sobre a política de recrutamento da Atos Portugal, e por falar em diversidade e inclusão, a RHmagazine teve conhecimento de que contrataram uma colaboradora tetraplégica para testar a performance de soluções. Qual a importância/relevância deste tipo de oportunidades?
O.O. Creio que a inclusão da Inês na Atos Portugal tem sido uma lição de vida para todos os que com ela mais partilham. Ainda me lembro de ter reunido uma equipa multidisciplinar para avaliarmos onde e como a Inês poderia colaborar connosco; todos queriam fazer algo, mas as dificuldades eram imensas, até que percebemos que a resposta estava à nossa frente: testar software na ótica do utilizador. Apenas foi necessário proporcionarmos um monitor touch screen em ligação ao laptop e hoje é um elemento que trabalha na equipa de testes como qualquer outro. Saber que contribuímos para a realização profissional da Inês é uma satisfação que é partilhada por todos nós; apenas foi necessário interessarmo-nos em tornar possível o que era desejável.
Na sua opinião, o mercado de trabalho em Portugal é inclusivo? Que medidas acha que se poderiam adotar nas organizações?
I.R. Não, não acho que o mercado de trabalho seja inclusivo em muitas empresas para pessoas com grande incapacidade. Acredito que para pessoas com um grau de dificuldade médio seja um pouco mais fácil a integração no mercado de trabalho e que algumas empresas integrem essas pessoas, apesar de achar que tenham de adotar algumas outras medidas no âmbito social que ajudem e apoiem a integração. Acho que nem sempre as empresas percebem as dificuldades que os outros têm no desempenho da função – estão disponíveis para ajudar, têm paciência, entre outras coisas, mas na prática pouco fazem.
Antes de se juntar à Atos Portugal, candidatou-se a mais empresas?
I.R. Não, a Atos foi o meu primeiro emprego. Porém, teria tido grandes dificuldades em encontrar um trabalho compatível com as minhas dificuldades e habilitações académicas (área de saúde) e sem experiência profissional. São poucas as empresas que conseguem proporcionar as condições de que necessito.
Como foi recebida na empresa? Que significado tem tido para si esta experiência profissional?
I.R. Fui muito bem recebida. Para mim, tem sido muito gratificante, tanto a nível profissional como a nível pessoal. Ter tido a oportunidade de trabalhar em teletrabalho na Atos, a meio tempo, foi o ideal para mim, pois com o nível de incapacidade que eu tenho (sou tetraplégica com 95% de incapacidade) teria sido uma tarefa muito difícil ou teria sido quase impossível integrar uma empresa, sem obrigar a grande custo pessoal. Tenho de ter sempre uma pessoa a dar-me assistência, tenho de ter instrumentos de trabalho adaptados e condições físicas de trabalho específicas e necessito, por vezes, de ajustar as rotinas diárias aos meus problemas de saúde.
Está a testar a performance de soluções da marca. Como tem corrido?
I.R. Os testes de software que tenho realizado têm corrido muito bem. Sempre que me surge alguma dúvida, tenho podido contar com um rápido esclarecimento por parte dos meus colegas que trabalham em conjunto comigo e tenho sentido bastante apoio por parte deles em qualquer dificuldade que tenha.