Autora: Joana Santos Silva, Diretora de Inovação e Professora de Estratégia do ISEG Executive Education
Nos últimos meses, foram várias as ocasiões em que ouvi debater o assunto do teletrabalho, trabalho em formato híbrido e outros assuntos complementares.
Quando enfrentamos situações de tomada de decisão em que ambas as opções se apresentam como insatisfatórias, tendemos a optar pela solução sofrível. Ora, isto quase nunca apresenta uma solução definitiva e raramente conduz à satisfação dos intervenientes. É isto o que se passa na maioria das organizações quanto ao tema da definição do trabalho
Sou “discípula” de um professor de estratégia e inovação chamado Roger L. Martin, que prescreve uma forma diferente de pensar quando enfrentamos opções sub-ótimas. Na dúvida, sabem que enfrentam uma escolha de compromisso, sempre que sentem uma tensão na tomada de decisão. Essa tensão advém do facto de não termos encontrado uma solução realmente eficaz. Assim, segundo Martin, no lugar de escolher uma opção em detrimento de outra, devemos gerar uma nova baseada nas opções disponíveis, pois o resultado recombinado é melhor do que cada uma das partes.
É importante avaliar qual é o real valor de um emprego. Será apenas financeiro? É um assunto de desenvolvimento pessoal ou de reputação? Julgo que será isto tudo, mas também uma componente extraordinariamente subavaliada, que é o valor social da nossa atividade profissional. Para qualquer indivíduo, o local de trabalho, os colegas e o próprio ecossistema no qual se insere a organização, é uma parte integrante da sua qualidade de vida. Uma parte significativa das nossas relações pessoais e sociais provém do contexto laboral. Quantos bebés, casamentos ou melhores amigos foram formados nos corredores do escritório? Quantos temas de profundidade pessoal foram debatidos durante a hora de almoço com os nossos parceiros de trabalho?
Os anglo-saxónicos até assumem que quase todos têm um “work husband” ou “work wife”. Um inquérito da Vault.com estimou que 27% dos colaboradores têm um “marido” ou “esposa” no trabalho. Estas relações platónicas podem ser fontes importantes de motivação, segurança psicológica e ajudam na retenção. São baseadas em confiança e, na minha modesta opinião, é difícil criar confiança em relações puramente digitais.
O teletrabalho tem muitas vantagens intrínsecas: a poupança financeira e de oportunidade da deslocação, a flexibilidade na alocação de tarefas pessoais e profissionais e, claro, a possibilidade de trabalhar de pijama…. Mas será que estamos a sobrevalorizar o pijama?
O ser humano é intrinsecamente social. Será que um período longo de isolamento em teletrabalho não poderá contribuir e agravar sentimentos de isolamento, depressão e outros distúrbios de saúde mental?
São as gerações mais novas que, em teoria, mais reclamam o teletrabalho. Paradoxalmente, são estes profissionais que se encontram numa fase de carreira que mais necessita de estímulo e de desenvolvimento. A melhor forma de aprendermos é através do contacto com os outros. Há menos de um mês, um líder organizacional partilhou que quando ele ficava em teletrabalho sentia que tinha uma atitude egoísta, pois era um dia em que ele não ajudava a sua equipa a desenvolver-se. Para mim, foi um momento: Aha!
Seja qual for a solução, é necessária uma cultura de inovação, mas acima de tudo uma cultura de coragem. Organizações em que possamos explorar tensões e criar e experimentar novas ideias. É um tema que exige modelos diferentes de pensamento e flexibilidade de ambas as partes. Como diz Roger L Martin: “Eu acho que a razão de existir dos silos é porque as pessoas aprendem o seu próprio modelo e não têm nenhuma ideia de como falar com alguém que usa outro modelo.”
É necessária uma cultura de inovação, mas acima de tudo uma cultura de coragem. Organizações em que possamos explorar tensões e criar e experimentar novas ideias
Para resolver um problema tão complexo como o futuro do trabalho será fundamental abdicarmos dos nossos pressupostos base e procurar integrar novos modelos mentais. Se queremos criar novas formas de trabalhar, não deveríamos estar fixados nos modelos “antigos”, mas antes na procura de uma solução criativa. Criatividade não é inovação, é algo novo, simples, elegante e generativo. A criatividade é iterativa e, na maioria dos casos, surge da combinação de dois ou mais conceitos existentes e essa é a base do pensamento integrativo.
Assim, na próxima semana, quando estiver a organizar as suas tarefas, pense de forma criativa e não de forma linear. Pense como pode ter o melhor dos dois mundos no lugar da opção menos má. Pense qual é o valor dos modelos e o que de melhor pode extrair de cada um. Como diz o especialista em criatividade Richard Foster, ideias criativas geram mais ideias criativas… Assim estará a criar o futuro do trabalho!
E não se esqueça: “a zona de conforto é a grande inimiga da criatividade.” – Dan Stevens
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