Hoje celebra-se o Dia Internacional da Mulher (8 de março) e a RHmagazine não poderia deixar de assinalar a efeméride – não fôssemos nós uma equipa composta exclusivamente por “Humanas”. Falámos com várias mulheres que, contra todos os obstáculos, chegaram a cargos de liderança, algumas num universo dominado por homens. À primeira vista, poderia parecer intimidante, mas elas são a prova de que não…não somos o sexo fraco!
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á lá vai o tempo em que as mulheres eram remetidas aos afazeres do lar, sem qualquer direito a trabalhar ou a participar em decisões importantes na sociedade. Pouco a pouco, foram ocupando o seu lugar no mercado de trabalho e, hoje, são cada vez mais aquelas a ocupar cargos de liderança – e com sucesso. Não somos nós quem o diz. Os estudos comprovam-no.
A título de exemplo, um estudo da consultora Boston Consulting Group, baseado numa análise a 350 startups, revela que mesmo recebendo, em média, 80% do total dos salários dos homens nas mesmas posições, e tendo ofertas menores de investimentos para criarem os seus próprios negócios, empresas fundadas e geridas por mulheres apresentam uma receita 10% superior à de empresas a cargo de homens.
Do setor tecnológico ao petrolífero, falámos com dez mulheres, que – mais ou menos recentemente – assumiram cargos de liderança. Até lá chegarem, terão sido muitos os desafios a enfrentar? Há, pelo menos, um que salta à vista: o equilíbrio entre a maternidade e o seio profissional. Leia os testemunhos.
“A minha carreira profissional começou no México, na área financeira, onde várias vezes fui a única mulher em grandes reuniões. Em 2002, saí do México para fazer um MBA em Londres, onde a proporção de homens e mulheres era já muito mais equilibrada. E a verdade é que, daquele momento em diante, sempre tive a sorte de estar em situações onde nunca foi relevante ser homem ou mulher. Na Coca-Cola temos fortes valores sobre a igualdade de género e acreditamos que os cargos devem ser atribuídos às pessoas mais competentes para o lugar, independentemente do género. A nossa aposta é na diversidade e inclusão de todo o tipo.
Enquanto mulher, penso que o desafio mais óbvio é combinar a vida pessoal e profissional. É essencial procurar um equilíbrio entre ambas, pelo menos a longo prazo, uma vez que há sempre fases em que alguma pode exigir mais dedicação do que a outra. Para mim, o segredo é saber como criar uma rede que nos acompanhe. E aqui incluo não só a família e os amigos, mas também as instituições para as quais decidimos trabalhar.
Por exemplo, em 2008, a Coca-Cola criou o Global Women’s Leadership Council, cujo objetivo é criar iniciativas que ajudem a desenvolver e promover o talento feminino na empresa. E exemplo disso é que mais de metade dos nossos cargos de gestão na Península Ibérica são ocupados por mulheres”, Ana Claudia Ruiz, Diretora-Geral da Coca-Cola Portugal.
“Ao revisitar a História, creio que muito já se alcançou quando o tema é a liderança no feminino. Se é suficiente? Seguramente não é e o facto de continuarmos a assinalar o Dia da Mulher significa que há ainda trabalho a fazer, embora, felizmente, já tenhamos muitos bons exemplos de mulheres na liderança nas empresas, na política, na educação, nas artes ou na ciência.
Entendo, assim, que muito já se evoluiu pela positiva ao longo dos anos. A conciliação da vida profissional com a vida familiar será mais integrada, fazendo parte da construção de um equilíbrio holístico, muito enriquecendo o talento das organizações e o seu capital humano. A igualdade de oportunidades deve existir, tendo sempre por base a meritocracia, independentemente do género, e a liderança deve ser feita pelo exemplo.
A formação e a experiência profissional e de vida adquiridas deixaram-me preparada para enfrentar os desafios organizacionais diários e trouxeram-me ensinamentos e orientações que levo sempre comigo e que procuro transpor para as equipas com quem trabalho”, Ana Trigo Morais, CEO Sociedade Ponto Verde.
“Quando decidi optar por uma carreira na área da engenharia informática, esta era ainda uma profissão praticamente desconhecida e já maioritariamente masculina. Só me apercebi dessa realidade na universidade e confesso que foi algo que me preocupou, pois tive receio de não conseguir ou de não ser feliz nessa profissão.
Ultrapassado o desafio académico, surgiu o primeiro desafio profissional numa empresa multinacional onde cresci enquanto profissional e enquanto líder. Aí, aprendi a valorizar todos os profissionais pelo seu mérito e especialização, pelos seus valores e atitudes e não pelo seu género ou nacionalidade. Também aí, penso que comecei a ser reconhecida de igual forma pela minha formação e pelos contributos que aportava à organização. E tive a sorte de, ao longo do meu percurso profissional, trabalhar em organizações que sempre representaram e promoveram esses valores.
Claro que ainda existe trabalho a fazer no caminho da igualdade de género, principalmente em termos culturais, porque a sociedade continua a esperar que a mulher mantenha o seu papel extremamente exigente no seio familiar. Mas acredito que este caminho se continuará a fazer com melhor educação, mais formação, e a autoconfiança e determinação de muitas mulheres e jovens. Porque todas e todos somos o tamanho dos nossos sonhos”, Ângela Brandão, Vice-Presidente da PRIMAVERA.
“Educada no seio de uma família tradicional no que tocava ao papel da mulher, sempre encontrei espaço para ser valorizada pelo que queria fazer e em quem me queria tornar, pelo risco e pelo trabalho árduo. Cresci numa família onde havia ‘Mulheres sábias, trabalhadoras e agregadoras’, onde nunca nada me foi barrado – total liberdade com responsabilidade. Sempre tentei, talvez por isso, mostrar que era igual aos outros e, desde cedo, provei a mim mesma que conseguia ultrapassar as barreiras de ser mulher, mesmo em contextos nem sempre profícuos às mesmas. Tive a sorte de desenvolver o meu percurso em empresas que valorizam a performance, a entrega e o desempenho, não importando o facto de ser mulher ou a fase da vida em que me encontrava. Nunca deixei, por isso, que o facto de ser mulher fosse uma pedra no meu caminho, mas, antes, um motivador adicional para ser melhor pessoa, melhor profissional, melhor mãe, esposa, filha e cidadã. Aceitei todos os desafios, dentro e fora das empresas onde cresci e que sempre me apoiaram. Sempre acreditei que apesar de ser mulher ‘I am the master of my fate; I am the captain of my soul’ e, por isso, é tão importante continuarmos a assinalar o Dia da Mulher”, Graça Borges, Diretora de Comunicação, Relações Institucionais e Sustentabilidade do Super Bock Group.
“O convite para ser reitora da Universidade Europeia representou um dos grandes desafios da minha vida, que aceitei porque a universidade demonstrou ter uma visão com a qual me identifico totalmente: orientada para o futuro, com a capacidade de inovar na oferta em áreas estratégicas para o desenvolvimento do país e do mundo (saúde, ciência de dados, tecnologia, formação online).
O grande desafio do meu mandato é qualificar ainda mais a oferta e consolidar o posicionamento da Universidade Europeia como instituição de conhecimento, moderna, inovadora e que é capaz de, com credibilidade, desafiar pela positiva o status quo que tantas vezes ainda se faz sentir no setor, num mundo que está a mudar rapidamente, onde temos novos alunos, novas profissões e, por isso, a obrigação de garantir uma formação superior adequada aos novos tempos”, Hélia Gonçalves Pereira, Reitora da Universidade Europeia.
“Tenho mais de 15 anos de experiência profissional, desempenhando atualmente o cargo de Diretora de Pessoas e Cultura Organizacional. Acredito que a cooperação, seja entre géneros, crenças, culturas ou gerações, é determinante para o sucesso do todo. No meu percurso, sempre acreditei que não devemos abdicar nunca daquela que é a nossa essência, pois só respeitando a nossa essência é que conseguiremos dar um melhor contributo a nós mesmos e àqueles que servimos. E o tempo tem comprovado que esta convicção tem ajudado a derrubar barreiras e a superar desafios. O percurso profissional é sempre recheado de desafios, que encaro sempre com uma abordagem positiva. O maior desafio que senti como mulher passa pelo facto de a nossa sociedade esperar que as mulheres trabalhem como se não tivessem filhos, mas que criem os seus filhos como se não trabalhassem. Cabe-nos (mulheres e homens) não viver em função destas ou de outras etiquetas e promover isto mesmo no meio em que estamos inseridos”, Irene Vieira Rua, Diretora de Recursos Humanos do Doutor Finanças.
“Considero que os desafios de ser uma mulher em posição de liderança na atualidade são diversos. As mulheres são as primeiras a colocar-se em desafios quase impossíveis, por acreditarem que se espera mais delas do que dos homens nas mesmas posições. Os vários ‘chapéus’ que têm de usar no dia-a-dia, ao mesmo tempo que mantêm a equipa motivada e produtiva são outros dos desafios que identifico, assim como toda a adaptação que teve de ocorrer no trabalho de RH com a entrada da pandemia, do teletrabalho e das necessidades crescentes dos colaboradores.
No meu caso pessoal o grande desafio foi a ‘ginástica’ entre vida familiar e vida profissional que me obrigou a trabalhar na eficiência/organização, quer de uma vertente como da outra. Felizmente, não sinto que os desafios que tenho de enfrentar na empresa na qual trabalho hoje em dia sejam diferentes dos desafios dos meus colegas (homens)”, Lina Jesus, Diretora de Recursos Humanos da Webhelp Portugal.
“Ao longo da minha carreira profissional, as opções que tomei foram sempre norteadas pela oportunidade de desenvolvimento que via em cada novo desafio. Comecei por trabalhar em vendas, fui percorrendo novas etapas, acumulando experiência e crescendo até começar a gerir equipas. Foi nesta paixão pelo desenvolvimento de gerir pessoas que decidi abraçar um desafio em Recursos Humanos. Hoje, olho para trás, e fico feliz por ter tido a ousadia de sair da minha zona de conforto para continuar a aprender. Nunca senti que ser mulher fosse impedimento de poder crescer profissionalmente, mas sim, uma oportunidade, uma vez que temos mais desafios para superar e isso torna-nos mais resilientes”, Marta Rocha, HR Board Director da Makro Portugal.
“Chegar a um papel de liderança na BP Portugal foi um objetivo e, apesar de o setor das petrolíferas ser tradicionalmente dominado pelo sexo masculino, senti sempre ser possível chegar onde queria. Acredito nos valores da integridade, competência e respeito, como basilares para qualquer percurso, seja no masculino ou feminino, e defendo que não devem nunca ser comprometidos. No entanto, sei que para que fosse possível existirem mulheres em cargos como o que agora ocupo, foi fundamental toda a luta de várias gerações pela diversidade e a igualdade de direitos, que se assinala no Dia da Mulher. Enquanto mulher num lugar de chefia sei que tenho a responsabilidade de dar continuidade a esse trabalho pelas gerações futuras e para que a diversidade seja uma realidade em todos os setores de atividade e da vida em geral. Todos nós podemos e devemos dar o nosso contributo no caminho de uma sociedade mais justa e igualitária”, Sílvia Barata, Presidente do Conselho de Administração da BP Portugal e Diretora das Operações de Retalho.
“Nestes 17 anos na Michael Page, tive a oportunidade de crescer a nível pessoal e profissional, chegando ao atual cargo de Diretora. Tenho atualmente a meu cargo o recrutamento e gestão de equipas nas áreas de Sales & Marketing, Retail, Information Technology, Secretarial & Management Support e Interim Management, participando ainda em diversos projetos de mentoria, sustentabilidade e diversidade & inclusão. Felizmente, a cultura da Michael Page é extremamente meritocrática e inclusiva, pelo que nunca senti grandes desafios por ser mulher. O mais desafiante terá sido, talvez, a gestão da maternidade e sua conjugação com as responsabilidades de uma função de gestão de equipas. É fundamental ter uma grande organização e sentido de prioridades para conseguir ter um bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, Sílvia Nunes, Diretora da Michael Page.
As “Humanas” do IIRH – Instituto de Informação em Recursos Humanos desejam a todas as nossas leitoras um Feliz Dia Internacional da Mulher!
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