Por: Rui Barbosa, Doutorado em Engenharia pela U. Grenoble, França [1]
As “maravilhas” da Informática, prenunciadas por “marketeers” declarados ou não, levam-nos a relativizar o respetivo valor humano, e a pensar no futuro a prazo de tantos portugueses que irão ficar potencialmente sem trabalho.
O Ministro do Trabalho Português identificou recentemente [2] uma fratura no Sistema de Trabalho: a Fratura Tecnológica; a Tecnologia tem-se desenvolvido de maneira surpreendentemente rápida, como previsto na Singularidade Tecnológica de Ray Kurtzweil, California, mas vai sobretudo passar a fazê-lo de uma forma acelerada.
Michio Kaku, Físico da U. de Nova Iorque e conhecidíssimo divulgador científico mundial, afirmou que, globalmente, até 2020, a Informática lançaria muitos milhões no Desemprego e causaria a extinção de muitas empresas; nós próprios publicámos, em 2013, no Boletim do Ministério da Solidariedade e Emprego [3] um artigo intitulado “Computadores, Internet, Comunicações, Robôs: Impato nas Profissões” sobre as repercussões da Informatização no Mercado do Trabalho.
Nos “Encontros Ciência Viva”, agosto deste ano, na FIL, um Professor da U. Nova de Lisboa (2017) identificou, num projeto sociológico, as tarefas que seriam atingidas pela Informatização. Ainda no DN, muito recentemente, o Presidente do Instituto Superior Técnico disse que a Revolução Tecnológica das próximas décadas iria destruir até 50% de empregos.
A “Obrigação” Binária e a “Certeza”
Numa lógica natural não há apenas duas possibilidades, verdadeiro e falso, mas também uma 3ª: “desconheço”; ora a quase totalidade (tirando algumas honrosas, mas não tão eficientes extensões) da Informática não contempla este 3º valor.
Wikipedia: “As lógicas polivalentes [4] são aquelas lógicas que permitem que outros valores além de verdadeiro e falso sejam permitidos. Por exemplo, nenhum e ambos são “valores extras” padrões; a “lógica do contínuo” permite que cada sentença tenha qualquer grau de verdade de um número infinito de graus entre verdadeiro e falso.”
Portanto, a Informática, que se baseia nem apenas 2 valores, Verdadeiro e Falso, só consegue traduzir uma parte da Realidade. Muito fica por exprimir ou, melhor, é distorcido para “caber” na lógica proposicional a 2 valores: ou verdadeiro ou falso!
“As lógicas modais [5] também oferecem uma variedade de inferências que não podem ser capturadas pelo cálculo proposicional (N. Autor: o cálculo clássico mais simples). Por exemplo, de “Necessariamente p” podemos inferir que p. De p podemos inferir “É possível que p“. Esta lógica já existe desde, pelo menos, Aristóteles.
Do que explicámos, é evidente que a Informática não poderá, para já, fazer mais do que mimetizar uma parte do tratamento humano da Informação; e as tarefas dos Robôs, embora inspiradas nas tarefas humanas, serão sempre diferentes destas…
Informatizadas algumas Tarefas Humanas, que outras Tarefas restarão aos Trabalhadores?
Reconversão dos Trabalhadores face à Informatização
Com base em Michio Kaku [6], os Setores da Classificação Portuguesa das Atividades Económicas [7] mais atingidos pela Informatização seriam:
- Profissões da Classe média que envolvam vendas, ou seja, Atividades financeiras, Comércio por grosso e a retalho, e Alojamento e restauração.
- Profissões que envolvam a manutenção de inventários, que se situam nos vários Setores, mas sobretudo no Grupo de Pessoal administrativo; no Setor do Comércio, no Grupo dos Técnicos e no Grupo do Pessoal dos serviços; no setor das Atividades financeiras no Grupo dos Técnicos.
- Profissões com tarefas de rotina sobretudo de produção em massa; em Portugal a maior robotização industrial levaria sobretudo à extinção de tarefas dos Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem.
Seguindo algumas respostas dadas por Ana Campos (IEFP) às nossas perguntas, concebemos o seguinte método genérico de Reconversão dos Recursos humanos face à Informatização dos respetivos postos de trabalho:
De um modo geral,
- Para cada um dos Setores da Classificação portuguesa das atividades económicas mais atingidos pela Informatização:
- Para cada um dos Grupos da Classificação portuguesa das profissões de 2010 (CPP/2010) [8] atingidos nesse Setor
- Para cada um dos Subgrupos de Profissões mais atingidos desse Grupo, aplicar-se-á a abordagem que segue.
- Para dada Profissão, “substituir” as Tarefas atingidas por tarefas personalizadas
- Se não for possível, “substitui-las” por tarefas doutras profissões o mais próximas possível delas na CPP, do mesmo nível de qualificação, e do mesmo Subsetor de atividade económica
- Se não for possível, tentar substitui-las por tarefas especializadas de algumas profissões dos setores florescentes [9] ou do Setor dos Serviços…
Para conhecer mais pormenores, o Leitor poderá consultar o artigo de base no qual nos baseámos para escrevermos esta síntese [10]. Mas a síntese que agora apresentamos terá de ser adaptada localmente, mais até do que regional ou nacionalmente… e terá também de ser dinâmica, seguindo o que Ministro do Trabalho Português disse.
[1] Com classificação máxima numa escola tendo um Prémio Nobel por Presidente; Autor de “Informática Futura e Inteligência Artificial”, Amazon Internacional, Seven Virtual Systems.
[2] “Painel 2: entre o futuro do trabalho e o trabalho do futuro – Desafios para um Portugal inclusivo, qualificado e competitivo”, Seminário “Fundo Social Europeu, Comemorações FSE 60 anos”, PT Meeting Center, Lisboa, 13/12/2017.
[3] Ministério do Solidariedade e Emprego, Gabinete de Estratégia e Planeamento, Nº 43/44/45
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%B3gica_multivalorada
[5] https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%B3gica_modal
[6] Michio Kaku, um dos maiores Divulgadores Científicos Mundiais, que entrevistou 15 Prémios Nobel entre 135 Cientistas de topo; in “Visões, Como a Ciência Irá Revolucionar o Século XX e Depois”, Editora Bizâncio.
[7] https://www.ine.pt/ine_novidades/semin/cae/CAE_REV_3.pdf
[8] https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=105174743&DESTAQUESmodo=2
9] Hotelaria e turismo, Indústria do entretenimento, Software, Especialistas das ciências físicas matemáticas e engenharia, Especialistas das ciências da vida, Serviços, Operários especializados, Saude e biotecnologia
[10] Ministério do Solidariedade e Emprego, Gabinete de Estratégia e Planeamento, Nº 43/44/45
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