Maria João Lopes é Software Engineer for Industry 4.0 Applications na Bosch Termotecnologia Aveiro e foi distinguida pela Portuguese Women in Tech. Estivemos à conversa com a responsável para perceber o que é ser mulher no mundo das tecnologias.
Maria João Lopes começou como estagiária na Bosch Termotecnologia em 2016 com o objetivo de implementar um MES (Manufacturing Execution System) na fábrica de Aveiro. Desde 2017, encontra-se a trabalhar na equipa central que promove a digitalização em fábricas da Bosch Termotecnologia um pouco por todo o mundo.
A Maria João começou na Bosch Termotecnologia enquanto estagiária e é hoje Software Engineer for Industry 4.0 Applications. Para completar este “accomplishment”, foi distinguida pela Portuguese Women in Tech. Sabemos que, por defeito, o setor de IT tem um gender gap… A primeira questão que lhe faço é: o que é ser mulher no mundo das tecnologias? Em algum momento da sua carreira sentiu que ser mulher foi, ou poderia vir a ser, um desafio?
Penso que é uma posição de uma grande responsabilidade, pois é muito normal que, devido à reduzida representatividade, sejamos vistas como um exemplo a seguir. Esta é uma área muito interessante com vastas oportunidades e que nos consegue desafiar diariamente.
Nunca deixei que o facto de ser mulher me impedisse de seguir este tipo de profissão e sempre achei que era um mundo em que me encaixaria muito bem, mesmo que não encontrasse tantos pares como eu – e assim foi.
A pandemia acabou por apontar um holofote aos setores das tecnologias e às profissões relacionadas com IT. Acredita que este será o momento em que veremos mais mulheres a ingressar neste setor, tendo em conta a elevada procura?
Na minha perspetiva, sim. Aliás, é notório que estamos já a assistir a uma mudança no paradigma. Por exemplo, neste momento, e falando do caso concreto da Bosch, temos muitas mais candidatas, algo que não se verificava há alguns anos. Às vezes, não havia uma única candidatura feminina, e isto é um exemplo do tipo de progressão que vejo todos os dias.
Por que razão acredita existir este gender gap? É uma questão de interesses pessoais ou vai além disso? É possível que as próprias mulheres olhem para o setor das tecnologias como um setor “de homens”?
Por vezes, nós somos as nossas piores inimigas e aí falo por experiência própria.
Conseguimos ser tão exigentes connosco mesmas que muitas vezes criamos expectativas extremamente irrealistas, e não é justo colocarmos sobre nós toda essa pressão. É importante reconhecer que estamos a dar o nosso melhor e que não controlamos, de maneira alguma, todos os fatores que nos rodeiam. Devemos ser realistas, mas também confiantes quanto às nossas capacidades.
Na minha ótica, existem também muitos outros fatores que contribuem para o “gender gap”, como pressões sociais e familiares para optar por outro tipo de áreas, falta de representatividade e até mesmo um desconhecimento do que é uma carreira em IT e do quão fascinante é este mundo.
Quais diria que foram as suas principais conquistas, principalmente na empresa onde se encontra, sendo mulher e estando agora ligada a um cargo de topo?
Apesar de considerar que não ocupo propriamente um cargo de topo, é verdade que a minha equipa tem em mãos um grande desafio, que é trazer a digitalização às fábricas da nossa divisão um pouco por todo o mundo. O caminho faz-se caminhando e, agora que já passaram quase quatro anos desde que iniciei a minha função, é muito recompensador ver tudo o que já conseguimos atingir enquanto equipa.
Uma das coisas de que mais me orgulho é que já fiz muitos projetos, alguns em áreas muito distintas, e essa polivalência agrada-me muito. É muito interessante ver como todas as peças do puzzle se vão encaixando. A gratificação que se sente em saber que temos um impacto real nas nossas fábricas e que estamos a ajudar a melhorar a forma de trabalhar e a ser cada vez mais eficientes é realmente incrível.
Que dicas deixaria a outras mulheres, tanto da sua área como até de outras, que desejam alcançar um cargo de topo?
Nunca percam a curiosidade! Acho que é muito difícil fazermos um bom trabalho se não gostamos genuinamente daquilo que fazemos profissionalmente. Invistam na vossa formação e tenham o mindset de que a universidade é só o início. É a vossa rampa de lançamento, mas depois há todo um mundo por descobrir, e é muito natural que ao longo da vossa carreira se vão conhecendo melhor a vocês próprias assim como a outras áreas. Vistam verdadeiramente a camisola da vossa organização, seja ela uma grande empresa ou uma startup. É importante acreditar na visão e embarcar, todos juntos, na aventura.
Finalmente, não descurem o vosso work-life balance. Guardem um tempo para vocês, para refletir, para rir, para usufruir dos vossos hobbies e da companhia dos vossos amigos e familiares. Todas essas coisas são importantes e fazem de nós pessoas mais felizes e realizadas!
O que significou ser distinguida pela Portuguese Women in Tech?
Acho que é importante haver este tipo de iniciativas. Não só pelo reconhecimento, mas como ponto de partida para outras mulheres que gostariam de trabalhar nestas áreas e que se possam sentir desencorajadas devido ao elevado “gender gap”. Penso que a situação está a melhorar, mas é importante continuar a apoiar das mais diversas formas, seja através de mentoria, seja através de um contacto próximo com a comunidade.
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