A sua formação de base é financeira e iniciou a sua atividade profissional no setor bancário…
Sim, é verdade. A minha formação académica é nas áreas de Finanças (Licenciatura) e Gestão (Mestrado), ambas do ISCTE. Antes de criar a Science4you tive uma experiência de cerca de um ano na banca de investimento, mas rapidamente percebi que não era isso que queria fazer da minha vida profissional.
Era muito jovem quando avançou para a criação da Science4you. Esta iniciativa foi uma decisão amadurecida ou um impulso juvenil?
A ideia da Science4you existe desde o projeto final de curso da Licenciatura em Finanças, quando o meu grupo de trabalho teve de realizar um plano de negócios para uns kits de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), com a qual existia uma parceria. Na altura, o projeto ficou em stand-by mas, após a primeira experiência profissional na banca de investimento, tomei a decisão de colocar em prática o plano de negócios desenvolvido. Existia, no mercado dos brinquedos científicos, uma lacuna no que se refere à variedade de oferta existente, pelo que esse foi um fator fundamental para a criação da Science4you.
Que apoios tiveram na fase inicial do projeto?
A Science4you foi criada a partir de um investimento pessoal meu de cerca de€1150 e, posteriormente, o financiamento foi realizado através de capital de risco e business angels. A empresa foi criada no âmbito do Programa FINICIA, com um capital social de 55 mil euros, em que 45 mil constituem micro capital de risco, financiado pela Inovcapital.
Dos diversos brinquedos e jogos criados até agora, qual é o mais popular e o que tem tido maior volume de vendas?
Os kits «Fábrica de Sabonetes» e «Fábrica Viscosa – Pega Monstros» são atualmente dois dos mais populares brinquedos da Science4you. A «Fábrica de Sabonetes» é um kit mais dirigido a meninas, e permite descobrir várias curiosidades sobre esta matéria e também criar sabonetes perfumados. A «Fábrica Viscosa – Pega Monstros» é um kit dirigido tanto a meninas como a meninos, que permite criar pega monstros e bolas saltitonas, além de toda a componente educacional que faculta informações sobre átomos e moléculas, viscosidade e gelificação de substâncias, entre outras curiosidades.
Qual é o volume de negócios que a empresa gera atualmente?
No primeiro semestre do ano a Science4you registou uma faturação de 1,05 milhões de euros em Portugal, que reflete a duplicação do volume de negócios face ao período homólogo do ano anterior. Até ao final do ano, o objetivo de faturação é de 5,2 milhões de euros.
As filiais em Londres e Madrid já têm uma expressão significativa?
O mercado dos brinquedos em Espanha e no Reino Unido é totalmente diferente do português. Enquanto aqui a oferta é mais reduzida no que se refere ao segmento dosbrinquedos educativos e científicos, em outros mercados, nomeadamente no Reino Unido, a concorrência é muito maior. Apesar disso, até ao momento, o balanço é bastante positivo e, tal como em Portugal, temos vindo a crescer de uma forma bastante sustentável em ambos os mercados.
Com quantos colaboradores conta atualmente a Science4you?
A Science4you conta atualmente com cerca de 80 colaboradores em Portugal. Anunciámos recentemente a contratação de 200 novos elementos para reforçar as equipas em Portugal, Espanha e no Reino Unido, até ao final do ano.
Que métodos utiliza para motivar as equipas de trabalho?
Todos os meses são realizadas reuniões gerais com as equipas, com o objetivo defacultar a todos os departamentos o overview da empresa, traçar metas, brainstorming, etc. Além disso, realizamos com regularidade convívios informais entre todos como jantares, torneios de futebol, padel e várias surpresas em datas temáticas.
Algumas empresas inovadoras de Portugal, quando atingiram um determinado nível de desenvolvimento, foram vendidas a gigantes mundiais. Admite seguir esses exemplos?
Não está nos nossos planos vender a Science4you. A empresa foi fundada em plena crise económica em 2008 e, ainda assim, ano após ano tem obtido valores de faturação que superam as expectativas e nos permitem ter um crescimento sustentável, entrar em mercados internacionais e apostar em novas linhas de produto, como é o caso da Tech4you.
O pensa acerca da capacidade empreendedora dos jovens portugueses?
Os jovens portugueses são bastante talentosos e têm uma capacidade de inovação fantástica. Existem diversos exemplos de startups portuguesas que se tornaram casos de sucesso internacionais e é, para nós, um motivo de grande orgulho poder fazer parte desse conjunto de empresas. Por outro lado, esta capacidade criativa e empreendedora dos nossos jovens, aliada às elevadas taxas de desemprego em Portugal, têm feito com que nos últimos anos tenhamos perdido muitos talentos para outros países.
Que conselhos daria a jovem que tenha a ideia de lançar uma startup?
É muito importante que o negócio a desenvolver/criar se traduza num produto ou serviço que seja totalmente inovador, ou tenha, pelo menos, características diferenciadoras face à concorrência, de modo a destacar-se no setor em questão. Este é o princípio fundamental para se lançar um projeto de sucesso. Além disso, o empenho, a dedicação e o espírito de sacrifício são algumas das características que um jovem empreendedor deve reunir. E, claro, não desistir à primeira contrariedade.
Para terminarmos a entrevista, peço-lhe para indicar uma figura que seja para si um modelo e uma inspiração.
O Mark Cuban é, sem dúvida, uma das pessoas que para mim mais serve de inspiração, enquanto profissional, investidor e empreendedor.
(Entrevista completa publicada na RH Magazine – 2014)