Autora: Alexandra Barosa-Pereira, Coordenadora Executiva da Pós-graduação em Coaching Executivo
O coaching entrou em Portugal, de uma forma mais formal, há cerca de 20 anos, e, desde então, este conceito tem sido explorado de várias formas, por vezes, em direções distintas, provocando eventuais dúvidas sobre a sua essência.
Alguns profissionais trazem o coaching para o plano de desenvolvimento pessoal e profissional de lideranças e talentos, outros abordam o coaching como uma metodologia de gestão de “vida” no geral (carreira, relacionamentos, percursos, etc.), e contamos ainda com muitas outras abordagens do conceito, contribuindo algumas vezes para o seu descrédito pelo excesso de soluções oferecidas.
Não são raras as vezes em que se explica o coaching através do que não é, comparando com outras práticas de desenvolvimento pessoal e profissional, como a formação, o mentoring ou o aconselhamento de carreira. Na verdade, o coaching ganha força, porque surge precisamente para dar respostas que as outras práticas de desenvolvimento não dão, nomeadamente por se tratar de uma prática com flexibilidade para ajustar timings, metodologias e respostas às necessidades especificas dos indivíduos, grupos ou equipas.
O coaching é um processo personalizado que visa necessidades particulares de indivíduos ou equipas. Surge como resposta à complexidade que o contexto atual nos coloca, e não para soluções de resposta única, resposta essa que surge não do coach, mas sim do cliente (indivíduo ou equipa em coaching), que é o verdadeiro especialista e detentor dos recursos necessários a uma resposta válida e alinhada com o seu contexto, o qual apenas o indivíduo ou a equipa conhece bem.
O coaching ganha força, porque surge precisamente para dar respostas que as outras práticas de desenvolvimento não dão, (…) com flexibilidade para ajustar timings, metodologias e respostas às necessidades especificas dos indivíduos, grupos ou equipas
O indivíduo ou a equipa em processo de coaching observa regularmente os limites da formação tradicional ou da sua experiência de vida. O que adquiriram no seu percurso pessoal ou profissional é bastante, no entanto, não estão a conseguir passar para o nível seguinte de desenvolvimento ou para o estado que ambicionam.
O coaching, como um processo que prioriza a tomada de consciência, oferece um novo espaço de integração, que permite trabalhar na fronteira da experiência, dos conhecimentos e das competências adquiridos. O coaching proporciona um espaço para estimular a criatividade individual e coletiva, por forma a encontrar novas possibilidades e perspetivas.
Na azáfama do dia-a-dia, indivíduos e equipas adotam um modo de funcionamento específico, que, de uma forma ou outra, resultam num momento específico. O coaching é o espaço de questionamento e reflexão sobre esse modo de funcionamento e as crenças que lhe estão associadas, conduzindo a novos lugares não utilizados ou, mesmo, ainda não explorados.
Ora, ao profissional (seja coach profissional ou líder a utilizar a função de coaching) ao qual o indivíduo ou equipa (cliente) oferece a confiança para entrar nesse espaço, devem ser exigidos requisitos de qualidade e rigor tais como:
- Trabalho de tomada de consciência sobre si – nenhum profissional pode utilizar o coaching sem ter passado pela experiência como cliente. Este é um dever, mas também um sinal de que o profissional confia no processo. Mas não é de todo um processo terminado, ou seja, o profissional que utiliza coaching deverá fazer um trabalho de tomada de consciência contínuo, quer através de coaching, de terapia ou supervisão. Da mesma forma que o contexto muda para os clientes também mudará e deverá ser questionado regularmente pelo coach;
- Ter um percurso sólido de formação em coaching – a formação em coaching deverá ser um contínuo para um profissional que utilize coaching. Contudo, uma formação inicial robusta é indispensável, porque significa que o profissional teve um período médio-longo de tempo de reflexão sobre si e sobre os referenciais teórico-conceptuais que sustentam a sua prática no coaching;
- Subscrever um código de ética de coaching – como em qualquer outra atividade que se trabalha diretamente com pessoas, é imprescindível seguir um código de ética que sirva de guia para a reflexão/prevenção de dilemas éticos que surgem em coaching, como sejam: a partilha sobre informação obtida em espaço de coaching, garantindo confidencialidade e respeito pela relação criada; os deveres e responsabilidades dos intervenientes em coaching, assegurando parceria no processo e ausência de posições de poder ou tentativas de interferência externa; o relacionamento com outros profissionais e mesmo com a sociedade; entre outros.
Se está na dúvida sobre o que o coaching lhe pode proporcionar, experimente! As explicações por vezes são insuficientes – o melhor é sempre experimentar!
No entanto, tenha sempre em consideração estes três pontos que lhe deixamos, quer esteja a pensar: a) em recorrer a um processo de coaching como cliente, b) em começar a utilizar a função de coaching no seu papel de liderança, de forma a melhorar o seu estilo de comunicação, de tomada de decisão ou de gestão interpessoal, ou c) oferecer serviços de coaching profissional.
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Gostei muito do artigo da Alexandra. A primeira pessoa em Portugal a investigar sobre coaching e a fazer uma tese de doutoramento sobre team coaching.