Autor: Ricardo Ferreira, CEO da ACEDE
Asustentabilidade é a palavra de ordem do dia. Numa conjuntura em que este termo parece ser aplicável a todas as ações que integram o nosso quotidiano, o mundo corporativo não pode ficar de fora. Mas como concretizá-la efetivamente nas empresas e ultrapassar o mero emprego de um léxico desprovido de aplicação prática – sobretudo quando o risco de ser acusado de práticas de greenwashing está tão presente?
Creio que o ponto fulcral desta questão passa, desde logo, por abandonar pretensões meramente performativas e procurar projetar uma imagem verosímil, agindo em conformidade com os princípios ESG de uma forma que denote transparência, honestidade e compromisso.
Num cenário em que cada vez mais se fala de capitalismo consciente, a adoção de medidas de sustentabilidade ambiental parece ter, de facto, efeitos benéficos, que quando bem aplicada pode aliar a performance empresarial à gestão ambiental responsável. Para além disso, o bem-estar dos trabalhadores, motivados pela perspetiva de integrar uma organização com um impacto positivo na sociedade, traduz-se em produtividade e motivo para reter talento nas organizações, que é hoje um dos grandes desafios do mercado de trabalho.
Começar por práticas simples e acessíveis pode ser uma boa maneira de fomentar esta dinâmica nas organizações. A uma menor escala – porque acredito que a sustentabilidade começa nos pequenos detalhes – a redução do impacto ambiental no transporte de produtos e pessoas por parte das empresas é uma boa medida, que pode ser implementada através da utilização de veículos ambientalmente menos poluentes, como os veículos elétricos, cujo uso traduz se numa maior eficiência energética, numa redução da poluição sonora e, dadas as suas características, numa baixa manutenção, que se reflete num menor uso de líquidos poluentes.
Neste contexto, uma prática que parece também surtir efeitos extremamente positivos é o regime de trabalho híbrido, quando aplicável. O contexto pandémico alterou significativamente o paradigma laboral, trazendo novas dinâmicas, e a possibilidade de diminuir a frequência com que os colaboradores se deslocam fisicamente ao escritório. Esta redução traz seguramente uma redução da sua mobilidade diária, o que se traduz numa redução do tráfego automóvel diário e na consequente redução da emissão de gases de efeito de estufa. Para além desta eficiência ambiental, esta medida proporciona aos colaboradores uma gestão mais eficiente do seu tempo, o que beneficia seguramente o colaborador e a sua gestão familiar. Trata-se, pois, de uma win-win situation que, neste sentido, demonstra uma preocupação, por parte das empresas, com a eficiência ambiental e com o bem-estar dos próprios trabalhadores. De facto, delegar ao colaborador essa confiança quanto à gestão do seu fluxo de trabalho é uma prova indubitável da visão humanista e responsável de todos os agentes do mercado de trabalho.
A capacidade que as organizações têm de ajudar a criar uma sociedade ambientalmente mais saudável aliada à produtividade é incalculável. Aliar atividades de team building que promovam a união e o trabalho em equipa a atividades que incutam a utilização responsável dos recursos naturais e a eficiência energética é seguramente uma forma de criar bases para um impacto positivo na sociedade, quer a nível do desempenho empresarial como na criação de uma mentalidade eco friendly.
De qualquer modo, a prossecução dos fins de ESG implica um compromisso com medidas de responsabilidade social corporativa que ultrapassa o escopo ambiental, daí ser fundamental uma perspetiva integrada de recursos humanos em conformidade com uma visão estratégica de negócios.