Pediram-me um comentário e eu avanço com aquilo que nos anos 80 foi a antevisão do que faria parte da realidade de hoje, em pleno seculo XXI.
“Os analfabetos do futuro já não serão os que não souberem ler ou escrever, mas sim aqueles que não conseguem aprender, desaprender e voltar a aprender…” escrevia Alvin Tofler, professor e escritor norte – americano, no seu livro “The 3rd Wave”, dedicado à análise da Sociedade de Informação e que foi editado nos anos 80.
Foi também Tofler, juntamente com um grupo de outros estudiosos da Sociedade da Informação, quem, com uma enorme capacidade antecipatória alertava para a evolução do mercado de trabalho, antevendo que no “futuro” apenas um terço da população activa teria um emprego estável, por conta de outrém. Dos restantes… um terço trabalharia por conta própria, caso tivesse capacidade de criar e manter o seu próprio negócio. Quanto aos outros enfrentariam longos períodos de inactividade e/ou desemprego.
Esta nova configuração permite antever que seriam as gerações mais jovens a enfrentar as maiores dificuldades na entrada no mercado de trabalho e que apesar de serem muito mais qualificadas, o seu destino seria, numa grande maioria de casos, incorporarem enormes jazidas de mão-de-obra, barata, disponível para qualquer ocupação indiferenciada e temporária…
A EY tem sido, nos últimos 3 anos, um dos maiores empregadores em Portugal de jovens universitários ou recém-graduados. Este facto tem-me levado a contactar, ano após ano, com um número cada vez maior de candidatos com uma preparação académica notável, há procura de uma oportunidade de trabalho, preferencialmente, notem bem, nas suas respectivas áreas de formação.
Neste mesmo contexto tenho-me dado conta do esforço, positivo por sinal, de “marketing pessoal” que estes jovens universitários são instados a fazer, na tentativa de conseguirem romper a barreira dos 40% de desemprego juvenil, ou a barreira de “trabalho não, mas estágios sim”, ainda que muitos deles em condições questionáveis, ou ainda a barreira do “aqui em Portugal não consegues, tens que ir para lá para fora”… ou porque, de repente, damo-nos conta que as tais jazidas se globalizaram!
Mas afinal, onde quero chegar? Muito simples. Gostava de refletir um pouco sobre o que temos andado e o que teremos de fazer para ajudar as gerações mais novas, em particular as que se prepararam mais arduamente, a conseguirem realizar os seus sonhos, a alcançarem a sua independência económica (o Tofler, que eu saiba, não anteviu o que alguns já chamam de geração marsupial, ou seja, um número cada vez maior de jovens que vivem, até cada vez mais tarde, em casa dos pais – a média está perto dos 30 anos! -), o que passa necessariamente por um emprego.
Tenho assistido e até participado em muitas iniciativas exactamente nessa área do “marketing pessoal”, quer sejam organizadas pela própria escola, por empresas ou por organizações juvenis, entre outras entidades.
Inicialmente pareceu-me ser uma boa ideia ensinar a fazer um curriculum, a “antecipar”, ou pelo menos treinar, o que perguntar ou responder numa entrevista de emprego…, incentivar a aprendizagem de línguas estrangeiras ou maior proficiência como utilizador de tecnologias. Parece-me tudo certo e até pode ser este um caminho. Mas de repente, em contexto real de trabalho dei-me conta que há uma nova vaga de candidatos que deixaram de se distinguir pela “diferença”. Passaram a ser todos iguais!
Explicitando: Passei a ter que avaliar pela “semelhança de padrões…, a palavra desafio passou a ser jargão de candidato, em vez das suas expectativas pessoais. As perguntas que fazem são “iguais”, os currículos que apresentam vêm todos estruturados à “europass”…. a “carta de motivações” é enviada mas, pasme-se…não se distinguem umas das outras….a “ambição mais frequente” é a de um “estágio de verão” não interessa porquê e para quê…..
Foi aí que dei por mim a pensar: Mas afinal o que é que andamos a fazer? Queremos ajudar esta nova geração “à rasca” (como dizem os Deolinda)? Como ajudá-los a evitar o “analfabetismo do futuro”? Não têm que ser capazes de “aprender, desaprender e voltar a aprender…”?
Ajudemo-los a serem genuínos, a cultivar a diferença, a consultar e triar cuidadosamente o excesso de informação disponível, a conhecerem-se melhor para se darem a conhecer melhor também. Assim as escolhas serão mais certeiras para todos!