Existem profissões declaradamente mais stressantes, com atividades comprovadamente muito pressionantes, causadoras de vários sintomas e situações de stresse não só físico mas também psicológico.
Hoje em dia, as questões do stresse profissional estão declaradamente alteradas, pois as situações de stresse são causadas mais pelas questões de instabilidade económica e social. Existe uma pressão geral de manter o posto de trabalho, de não se ir para o desemprego e de se aguentar um determinado compromisso financeiro, muitas vezes difícil de manter.
Como tal, a insegurança e a incógnita de se ter trabalho hoje e amanhã são, de certa forma, uma generalidade, independentemente de se ter contrato ou não. Posto isto, o trabalho temporário abarcou novos contornos, ou seja, no passado recente era uma situação nitidamente de instabilidade e insegurança para a maioria das pessoas (exceto para aqueles que o tinham como opção). Hoje em dia, quem viveu na situação de trabalho temporário durante algum tempo habituou-se a viver sem uma certeza para amanhã e, como tal, tem uma maior capacidade de viver a incerteza dos tempos atuais.
Estudos recentes (da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa) indicam que atualmente existe uma maior tendência de diminuição do stresse nos trabalhadores temporários do que nos permanentes. Na atualidade, com a mudança do mercado e da situação económica, é preferível ter um trabalho temporário do que estar desempregado!
Nos trabalhadores temporários, o stresse existente é um pouco diferente do que nos trabalhadores efetivos. Para além do stresse da atividade em si, que depende de qual seja, pois existem atividades profissionais às quais estão aliados níveis de stresse elevados, a motivação e a capacidade de olharem para o emprego como uma oportunidade são maiores nos trabalhadores temporários.
Por outro lado, o desafio constante de novas tarefas, novos locais, novas chefias e colegas leva a uma forma permanente de adaptação a uma nova realidade, que para muitos é um fator gerador de stresse, mas que pode ser diluído com os fatores positivos.
Normalmente, nas empresas de trabalho temporário, as condições e os contratos são claros e cumpridos. A falta de motivação, muitas vezes inerente a fazer parte de uma organização e conviver sempre com as mesmas pessoas, e um certo tédio e rotina, que muitas vezes matam a motivação, não existem no caso do trabalho temporário.
A forma como os trabalhadores temporários são valorizados é superior à dos trabalhadores permanentes (na maioria dos casos), tal como nos call centers em que o papel do supervisor é fundamental.
A questão da formação em várias áreas diferentes é mais constante e é outro fator valorizado. O estar sempre em contacto com novas pessoas e não entrar nas engrenagens (nem sempre positivas) dos relacionamentos e incompatibilidades de uma empresa permanente que causa bastante desgaste são fatores que também não existem.
A perspetiva de desempenho é superior, pois existe sempre o desafio de poderem ficar com novo contrato ou de serem chamados para outra empresa, com nova tarefa. Há uma ligação afetiva relevante com a empresa e com a atividade que estão a desempenhar. De certa forma, é uma caraterística do ser humano, que quando tem algo ou alguém como seguro deixa de investir e de dar o seu melhor, acomodando-se e instalando-se na tão conhecida «zona de conforto».
Como costumo referir, a tão conhecida zona de conforto tornou-se muitas vezes zona de acomodamento, que, neste momento, foi difícil deixar e alterar. Os trabalhadores temporários não tiveram esta possibilidade de se acomodar a esta zona e, como tal, as mudanças introduzidas pelas alterações económicas e sociais dos tempos atuais poderão ter sido de menor dificuldade de adaptação. Já estão habituados a não terem trabalho permanente e a viverem com uma certa instabilidade.
A perspetiva de que o trabalho temporário não é seguro e para sempre faz com que se trabalhe mais a motivação, a criatividade, no fundo não se caia num acomodamento que muitas vezes acontece quando se tem um contrato e se está há muito tempo a trabalhar no mesmo sítio.
Até há cerca de dois anos, o stresse do trabalho temporário estava muito ligado à insegurança e incerteza de se ter trabalho hoje e amanhã não se saber. Com a mudança económica e conjuntural do país, esta situação alterou-se e há a noção e consciência de que é preferível ter um trabalho temporário do que estar desempregado! Há também a noção e necessidade de se dedicar mais e ser mais eficiente, pois começa-se a estar grato por ter um posto de trabalho, que pode vir a abrir outras portas no mercado de trabalho e de novos contactos para o futuro imediato.
O que era insegurança e instabilidade de há dois anos a esta parte tornou-se uma realidade e a instabilidade foi relativizada, pois, perante o desemprego, ter um posto de trabalho e salário durante um tempo já é segurança.
De qualquer forma, havia trabalhadores temporários para quem não ter contrato não era um fator de stresse, mas sim uma opção. Para eles, o fator de manter o mesmo posto de trabalho não era a questão e, como tal, apresentavam menores níveis de stresse do que aqueles que tinham que manter o seu contrato e posto de trabalho.
É evidente que esta situação dependia também se o trabalho temporário era uma opção ou uma necessidade e, consoante o posicionamento, o agente stressante da insegurança tinha o seu efeito.
Estas questões são comuns a todas as pesquisas e inquéritos feitos, mas, como em todo o tipo de stresse e de atividade, variam de indivíduo para indivíduo, pela forma como se encara o trabalho temporário, quais os objetivos e o que se pretende, o nível etário, a experiência de vida, a fase de vida familiar em que se encontra (se tem filhos ou não), os fatores stressantes do resto do contexto de vida em que está, etc.
Como sublinho várias vezes, os efeitos que os fatores stressantes têm nos indivíduos variam de pessoa para pessoa, consoante a sua personalidade, faixa etária e história de vida. O que pode ser muito stressante para um pode não ser para outro e vice-versa.
A forma como se reage ao stresse é também diferente de pessoa para pessoa e, como tal, tudo depende um pouco da história de cada um. Se ter trabalho temporário for o único meio de subsistência de uma família, é evidente que esta pessoa está mais pressionada do que uma outra cujo trabalho contribui mas não é o único meio de subsistência da família. É importante reforçar que o stresse nos indivíduos não é só gerado pela atividade profissional, mas também pelo stresse pessoal e familiar e hoje, mais que nunca, assiste-se a um stresse social que abrange o coletivo.
É evidente que, à medida que o tempo do contrato está perto de finalizar, o nível de stresse causado pela incerteza e insegurança aumenta.
Para todos os tipos de stresse, há uma série de sintomas mais conhecidos, com os quais é necessário lidar e sobretudo ter a capacidade de autodiagnosticar, para os poder menorizar. Quando os sintomas não são devidamente encarados e menorizados, corre-se o risco de se entrar em situações de stresse crónico e, aí sim, é muito mais difícil lidar e tratar as situações. Quando se está em situação de stresse crónico, em que a maioria das pessoas não tem noção do seu estado, as situações agudizam-se, pois são como bolas de neve. O stresse profissional transmite-se para o stresse pessoal e vice-versa, criando por vezes situações irreversíveis.
Os sintomas mais conhecidos são:
– insónias ou dificuldade em ir dormir;
– dores de cabeça;
– dores de costas, sobretudo na zona cervical;
– problemas digestivos;
– mau funcionamento renal;
– tensão alta, taquicardia, arritmia;
– falta de apetite ou vontade de comer compulsiva;
– impaciência;
– irascibilidade;
– aumento de consumo de tabaco, álcool, cafeína;
– dificuldade de concentração;
– falta de memória;
– cansaço permanente;
– medo, pânico;
– apatia e dificuldade em socializar;
– falta de autoestima,
– falta de tempo para si próprio.
É importante que se adquiram pequenos hábitos, simples, mas que ajudam a menorizar o stresse no trabalho. Se tem uma atividade muito repetitiva ou sedentária (sentado ao computador ou ao telefone) várias horas, é importante que se façam pequenas pausas de estiramento físico e exercícios de respiração. É fundamental que se beba muita água ao longo do dia, mesmo que isso implique muitas idas à casa de banho. Os rins necessitam de funcionar e libertar toxinas e o stresse é uma toxina acumulada; como tal, é necessário libertar as toxinas através dos rins.
O tempo que se necessita e que é permitido na maioria das empresas para fumar um cigarro é superior ao sugerido para se distender o corpo e a mente.
Aconselha-se também a que se encontre tempo para algum tipo de atividade física e/ou lúdica para desenvolver o lado criativo do cérebro (hemisfério direito) e abrandar o hemisfério esquerdo, mais racional e mecânico. Quem tem uma atividade desportiva ou criativa tem maior capacidade de resposta aos fatores stressantes.
O equilíbrio da vida familiar e social é fundamental, sempre que possível: abster-se de passar muitas horas do seu tempo livre ao computador ou a ouvir notícias ou documentários negativos. As novas tecnologias vieram revolucionar as comunicações, mas também vieram causar novos fatores de stresse. Está provado que se criam dependências dos telemóveis e Internet, que tornam as pessoas obsessivas e com dificuldade de contactos para além dos virtuais. O excesso de tempo passado na Internet e no computador, para além do que já se passa profissionalmente, aumenta substancialmente os níveis de stresse.
É fundamental a prevenção do stresse, pois uma sociedade stressada é uma sociedade doente e consequentemente uma organização stressada é uma organização doente. Os níveis de stresse dos nossos dias são elevadíssimos, devido à situação económica e social não só do país mas da Europa e do mundo em geral. As organizações têm de intervir a este nível, tendo em conta o bem-estar físico e psicológico dos seus colaboradores, ajudando-os a prevenir e gerir o seu stresse, para que se tornem organizações mais efetivas, motivadas, valorizadas. As empresas de maior sucesso mundial são empresas em que o bem-estar dos colaboradores enquanto pessoas é uma premissa fundamental.
Se for incrementado um espírito de gestão de stresse, explicada a sua importância nas próprias organizações, as próprias pessoas enquanto indivíduos vão começar a ter uma postura diferente perante as situações de stresse. Ou seja, em vez de se deixarem chegar a níveis de stresse elevadíssimos, achando que é isso que a empresa pretende e valoriza, começam a ter um cuidado maior com a sua saúde física e mental para que possam ter um melhor desempenho.
Investir no bem-estar das pessoas devia ser uma prioridade das organizações nos tempos atuais, pois trabalhadores deprimidos e stressados não vão poder alterar a situação económica e moral do país!
Ser eficiente, motivado e produtivo não é igual a ser stressado. Quanto mais tranquila estiver a sua mente e melhor for a sua condição física, melhor será o seu desempenho.
Também existem muitos estudos que demonstram o contrário do que esta senhora diz, ou seja, que a precariedade no trabalho é hoje uma das fontes principais de stresse. Por outro lado a senhora joga apenas com a dicotomia desempregado ou trabalhador temporário, dando como certo que serão essas as relações de trabalho normais…Aliás, se ouvirmos os trabalhadores temporários não estão assim tão felizes, ou melhor não têm uma visão tão posiitiva do trabalho temporário nem das empresas de trabalho temporário…em particular os jovens dos call centers!!Pode crer!!