Recentemente, realizou-se mais uma edição do “Digital Business Congress” da APDC – associação que reúne as maiores empresas presentes em Portugal de Telecomunicações, TIC e Media – e a RHmagazine assistiu a uma das mesas redondas do evento, na qual se refletiu sobre a atração, retenção e requalificação de talentos na área das TI: “Talent Management in the digital age: coupling education, training and foreign labour”. No painel de oradores esteve Hugo Bernardes, Managing Partner da The Key Talent Portugal – consultora em recursos humanos, employer branding e marketing digital.
O 31.º Congresso da APDC teve lugar no Auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, na Cidade Universitária, e contou com a apresentação e condução do jornalista João Adelino Faria. Foram dois dias de muitos debates e reflexões assentes na Tecnologia e seus impactos nos negócios e nas pessoas, bem como no futuro da economia portuguesa, além dos já tradicionais Estados da Nação dos Media e das Comunicações. A RHmagazine marcou presença na mesa redonda “Talent Management in the digital age: coupling education, training and foreign labour”, que tomou lugar no segundo dia do evento. O painel de oradores foi composto por: Charles Huguet, Managing Director da Airbus GBS; Francisco Cabral Matos, Partner of the Tax practice da VdA; Hugo Bernardes, Managing Partner da The Key Talent Portugal; Manuel Garcia, National Coordinator do Programa UPskill – Digital Skills & Jobs, e Pedro Marcelino, Co-Founder e Chief Executive Officer da TreeTree2.
Como atrair e reter jovens para a área das TI? É com esta questão que João Adelino Faria inicia o debate.
Para Pedro Marcelino, muita coisa já está a ser feita nesse sentido, contudo ainda não é o suficiente. De acordo com o Co-Founder e Chief Executive Officer da TreeTree2 – organização educacional sem fins lucrativos com a missão de despertar e desenvolver talentos nas áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática –, existem muitas atividades de divulgação da área, como os dias abertos nas universidades, as Olimpíadas da Informática ou a Semana Europeia da Programação, porém trata-se de ações pontuais, finitas no tempo. “Depois dessas atividades de divulgação, normalmente, não se faz mais nada. Temos de começar a apostar em atividades de desenvolvimento, contínuas, que permitam expandir e explorar estas áreas”, diz. “Posso dar o exemplo do programa ‘AfterSchool’ da TreeTree2, que oferece cursos nas mais diversas áreas ligadas à tecnologia, permitindo aprofundá-las e explorá-las”, acrescenta Pedro Marcelino.
Ao longo do debate, foram vários os testemunhos partilhados de jovens que participaram em cursos da TreeTree2 e o feedback não poderia ser mais positivo. A opinião foi unânime: graças aos cursos da TreeTree2, com uma forte componente prática, os jovens perceberam qual o caminho académico – e, posteriormente, profissional – a seguir. Engenharia Informática, Matemática Aplicada… São estas as áreas em que, hoje, estes jovens se especializam no ensino superior.
“A mentalidade está a mudar e nesse aspeto o nosso trabalho é muito importante. Muitas vezes, não se pode experimentar uma área de interesse antes de ingressar no ensino superior e nós oferecemos aos jovens uma ferramenta que lhes facilita a escolha”, diz Pedro Marcelino.
O “lago aumentou”
Hugo Bernardes, por sua vez, ressalva que, com a concorrência global a aumentar, mais do que atrair e reter há que cuidar das pessoas e, “acima de tudo, ser muito ágil naquilo que é o desenvolvimento da proposta de valor das nossas pessoas”. “Temos visto várias empresas nacionais a reagir muito rapidamente, nomeadamente na relação com o cliente, mas não necessariamente na gestão das pessoas e aqui a liderança vai ter um papel fundamental”, defende. O “lago aumentou” e as empresas deverão adaptar-se de forma ágil para dar resposta a este desafio.
E como se seduz talentos para a área tecnológica? O Managing Partner da The Key Talent Portugal, consultora em recursos humanos, employer branding e marketing digital, destaca as temáticas ligadas ao work-life balance, à sustentabilidade e ao propósito. “Na The Key Talent ajudamos as empresas a desenvolverem estratégias para reposicionarem a sua marca empregadora e a repensarem os seus processos e a sua cultura interna. Os jovens, hoje em dia, procuram autonomia e flexibilidade e a verdade é que a grande maioria das empresas não está preparada para isso. Temos de as ajudar a pensar de forma diferente”, refere. Por seu turno, Charles Huguet, Managing Director da Airbus GBS, centro de serviços global da Airbus instalado em Lisboa há um ano (que conta com 80% de mão de obra portuguesa), destaca as perspetivas de progressão de carreira e a flexibilidade associada ao espaço e horário de trabalho, bem como aos benefícios, como fatores-chave para reter.
“Na The Key Talent ajudamos as empresas a desenvolverem estratégias para reposicionarem a sua marca empregadora e a repensarem os seus processos e a sua cultura interna. Os jovens, hoje em dia, procuram autonomia e flexibilidade e a verdade é que a grande maioria das empresas não está preparada para isso. Temos de as ajudar a pensar de forma diferente” (Hugo Bernardes, The Key Talent Portugal)
Indo além da atração e retenção de talentos para a área das TI, cada vez mais também a requalificação assume grande importância. E é sobre isto que nos fala Manuel Garcia, National Coordinator do Programa UPskill – Digital Skills & Jobs. Este programa surge com o propósito de dar resposta à falta de recursos humanos qualificados nas áreas das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), perfis especialmente difíceis de recrutar, face à grande competitividade, impulsionada pelo “boom” da transformação digital. “Temos alguns exemplos de pessoas que estavam ligadas a outras áreas, como a música ou a restauração, por exemplo, e que hoje estão a trabalhar numa tecnológica”, revela Manuel Garcia.
Para Francisco Cabral Matos, João Adelino Faria direciona a seguinte questão: “Até que ponto a carga fiscal é um desincentivo para a mão de obra ser retida em Portugal?” Como refere o Partner da empresa de advocacia VdA – Vieira de Almeida, já existem alguns mecanismos para mitigar a tributação, mas que nem sempre são divulgados da melhor forma. “A carga fiscal é um problema, mas já temos um conjunto de iniciativas que foram postas à disposição das pessoas, sobretudo neste setor; porém não têm sido divulgadas para atrair e reter talento”, aponta. Dessas iniciativas são exemplo o StartUP VISA, para jovens empreendedores que querem iniciar as suas incubadoras), e o regime de residentes não habituais, que, tal como refere Francisco Cabral Matos, “desde o primeiro momento valorizou o setor tecnológico, mas infelizmente sempre foi divulgado como um regime para pensionistas, detentores de grande capital…”. Ainda assim, para além dos benefícios que acompanham este tipo de incentivos fiscais, deverá ser considerada a outra face da moeda: o impacto na fiscalidade e Segurança Social. Para o orador, há que tornar estes benefícios mais genéricos, uma vez que ainda favorecem determinados grupos.
João Adelino Faria encerra o debate reforçando que Portugal é um país com muito talento e, também, muitas oportunidades.
Espreite algumas fotografias do 31.º Digital Business Congress da APDC
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