Diogo Alarcão
CEO da Mercer Portugal
De acordo com o estudo da Mercer, Global Talent Trends, realizado este ano, as organizações perceberam que existe a necessidade, num futuro muito próximo, de expandir o seu ecossistema de talento e atualizar os seus modelos de gestão adaptando-os à era digital e a um mundo em mudança acelerada. Esta tendência é claramente uma consequência de vários pressupostos, nomeadamente a escassez de talento, a otimização dos custos, o surgimento de estruturas organizacionais mais horizontais, as expectativas das novas gerações e o impacto que a tecnologia tem na ligação entre o talento e a execução de tarefas críticas para as organizações.
As empresas têm tradicionalmente centrado a gestão de pessoas no ecossistema interno, isto é, as iniciativas são pensadas em função das pessoas que têm um vínculo estável à organização e destinam-se exclusivamente aos seus quadros. Naturalmente dependerá de setor para setor, mas na maioria dos casos este é o modelo tradicional. Contudo, de acordo com o estudo da Mercer, este modelo vai sofrer alterações significativas no futuro. São diversas as razões em que assenta esta conclusão mas destacaria duas: 1. a crescente recetividade das novas gerações, nomeadamente os millennials, as relações de trabalho assentes no conceito do self-employment, em que em vez de trabalharem apenas para uma organização se constituem como prestadores de serviços multi-cliente e 2. o impacto positivo que as novas tecnologias têm nos modelos de organização do trabalho
facilitando de forma exponencial o trabalho colaborativo à distância ou o idea sourcing, entre outros.
Neste novo modelo, as empresas não poderão limitar-se a uma gestão apenas virada para o interior da organização. Antes pelo contrário, as empresas terão de criar um universo mais alargado de recursos
recorrendo a pools externas de talento nas suas diferentes vertentes, nomeadamente tecnológico e humano. Mas isto acontecerá no curto prazo? A resposta mais óbvia é dizer que não porque o mindset da maioria das
empresas ainda não está preparado para esta alteração. Mas, na realidade, de acordo com o referido estudo, 78% dos colaboradores já consideram a hipótese de trabalhar como freelancers. A reforçar esta tendência está o facto de muitos executivos, que participaram no estudo da Mercer, acreditarem que melhorar a capacidade de gestão de talentos (internos e externos) de acordo com as experiências que são necessárias em determinado momento será o investimento em talento que terá maior impacto no desempenho dos negócios. Ou seja, obter maior acesso ao talento através de um ecossistema mais abrangente será parte da solução para os desafios que antecipam.
É assim necessário começar a adotar (para quem ainda não o está a fazer) uma mentalidade de plataforma para o talento, tendo a noção de que o talento pode ser utilizado em benefício de todos, mais do que “pertencer” a um gestor, departamento, função ou até mesmo à organização. É uma mudança radical de mindset, mas vivemos num período em que temos de nos adaptar a uma realidade em que os paradigmas estão a ser alterados e onde devemos combater a nossa resistência à mudança. Como é natural, esta tendência terá impacto em vários modelos que temos vindo a defender, mas que começam a ficar obsoletos e se insistirmos em não mudar podemos pôr em causa o futuro dos nossos negócios. É crucial não fecharmos os olhos às evidências da mudança e devemos ter a consciência clara de que temos de nos adaptar ao novos tempos. E esta deve ser uma reflexão em que procuro repensar, de forma holística, como otimizar o meu negócio e preparar-me para esta mudança tão relevante de paradigma.