Autora:
Rocío Cervino
CEO – MOLA Human Lab
Em 2010 um estudo do Instituto para Estudos Futuros de Copenhagen sobre Inovação e Liderança concluiu que em 2027 mais da metade das empresas que fazem parte do Standard & Poor´s (as 500 maiores empresas do mundo) não estariam mais no ranking, por falta de Liderança Criativa, cedendo lugar a startups com modelos de negócio e modus operandi mais flexíveis, adaptáveis e disruptivos.
A Liderança Criativa é um modelo holístico de Liderança que abrange o Líder como um todo. É suportada por valores morais elevados que produzem uma influência em qualquer ambiente de trabalho, pelo exemplo de autenticidade, transparência, fluidez e serviço. Um serviço altruísta que tem em conta as necessidades dos outros, que os envolve na sua força de rede inclusiva, através da conexão e da motivação. Por isso, falar de Liderança Criativa é falar de Liderança Consciente.
Este é um momento de imenso potencial e contribuição – não de inércia – para implementar uma Liderança viva, onde é necessário um mix de human skills que já não são mais hard ou soft e sim um conglomerado, consequência da experiência de vida pessoal e profissional de cada Líder.
Neste momento mais VUCA do que nunca, a Liderança Criativa e Consciente é a resposta necessária ao impacto que como Pessoas, Empresas e Sociedade estamos a ter. A volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade precisam de vulnerabilidade, inovação, colaboração e responsabilidade respectivamente; um VICA que se apresenta como horizonte. Estando o mundo como está, surge a necessidade de assumir uma Liderança human centered e com Propósito.
O Propósito, tão falado como confundido, não opera para o Líder ou para a Organização e sim através deles. Quando existe Propósito, é porque existe também uma identificação com uma causa maior que gera força motriz de ação em si mesma. Isto obriga a perguntar-se: Quem sou EU? Eu Rocío, Eu Nestlé, Eu Danone ou Eu EDP…e o que estou a fazer aqui? A resposta vai ser bem diferente da que teria sido 10 anos atrás, 2 anos atrás ou 6 meses atrás, antes desta pandemia.
Este Propósito que transcende a própria Pessoa e/ ou Organização – é por isso que lhe chamamos de Propósito, se não lhe chamaríamos plano estratégico ou modelo de gestão – às vezes não é tão evidente e requer algum trabalho de “curagem”. Requer o que o mundo nos está a pedir agora: abandonar a sensação de controle e abraçar o que é, tal e como é, sem resistências, apegos nem defesas. Neste processo, cada Pesssoa e Organização vai localizar-se no nível de consciência em que está, nem mais nem menos, e a partir daí podemos vislumbrar os Líderes e as Empresas que teremos futuramente.
O nível de consciência é o estado em que o Ser Humano toma as suas decisões. O modelo de D. Hawkins que utilizo como base no trabalho que realizo na MOLA, apresenta uma escala numérica dos diferentes níveis de consciência, conforme as emoções predominantes. Líderes com um nível de consciência mais elevado irão criar equilíbrio e balanço nas Organizações e praticar uma Liderança pelo serviço, fundamental na Liderança Consciente.
Criei uma fórmula simples para apresentar a Liderança Consciente
Nesta fórmula a Autoliderança e a Ultraprodutividade representam o leading solo e a Inovação e Inspiração o leading others, que se apresentam diferenciados, mas complementares. A Autoliderança é o ponto de partida para a integração plena do mundo interno do Líder com o mundo externo da Organização.
A Liderança Consciente vai além das paredes do escritório e dos domínios do impacto social. Atua como fio condutor na colaboração entre pessoas, negócios, empresas, países… nos diferentes campos: político, econômico, tecnológico, social e ambiental, para garantir um futuro sustentável através de um estilo baseado num sistema dinâmico onde as ações a curto prazo são orquestradas e alinhadas à visão a longo prazo, prevendo possíveis evoluções e contribuições, e possíveis contratempos nesse timing. Um claro exemplo disto poderá ser a revolução digital inclusiva, como fenómeno-resposta desta pandemia.
Centrada num presente-futuro desejável para todo o ecossistema onde opera, a Liderança Consciente é o oposto a uma visão estática da vida, da sociedade, das pessoas. É divergente, versátil e transcendente. Livre de julgamentos, acredita em si mesma e aporta novas visões e formas de fazer as coisas, ao desenvolver ideias inovadoras com a ambição de melhorar o mundo através da funcionalidade, do pragmatismo e da generosidade.
Características desta Liderança Consciente:
- É vulnerável e faz da experiência, conhecimento, que transmuta naturalmente para sabedoria aplicada.
- Autoconhecimento: foco no SER; SER melhor para FAZER melhor.
- Cria momentos de introspeção para silêncio e meditação, que aportam clareza e nutrem o seu potencial criativo e o da(s) equipa(s).
- Honra os seus próprios valores e a sua essência natural. Reafirma a sua personalidade, que alinha com o contexto no qual opera. Alguns destes valores são: curiosidade, cumprimento, honestidade, disciplina, humildade, coragem, compaixão, autoconfiança, assertividade, acessibilidade.
- Right Performer vs. High performer; ultrapassa os seus próprios limites. Tem impacto positivo e inspira os outros com as suas atitudes e ações.
- Gere a sua energia mais do que o seu tempo, conforme as prioridades estabelecidas.
- Alinha com a(s) equipa(s) a visão do que é verdadeiramente importante.
- Problem solving criativo; novas e diferentes soluções que são human centered.
- Quebra o status quo: faz a coisa certa vs a coisa correcta.
- A Intuição faz parte das competências em uso.
- Obsessão com o desenvolvimento holístico e com uma conciliação sustentável: work-life-one
- Pensamento crítico. Tem discernimento, clareza e foco.
- Vive no agora. Mentalidade mindful para tomada de decisões ágil e assertiva.
- Ouve e cuida. Está presente.
- Mais do que comunicar, transmite.
- Aplica o PERMA – positive, emotion, relationships, management, achievement – na sua relação consigo mesmo e com os outros.
- Os demais importam. Empatia. Doação de human skills para criar uma força de rede onde prevalece o serviço.
- Perfil colaborativo e integrador; atende aos talentos e preferências individuais de cada membro da(s) equipa(s) – liderança personalizada para trabalhar na complementaridade e não na competitividade –
- Contribui para o employer branding da Organização; aporta equilíbrio na insatisfação permanente das pessoas e no sentimento de que “falta alguma coisa”, com a consequente redução dos índices de burnout e turnover.
- Inspira e apaixona quem trabalha com eles.
Os Líderes Conscientes são um elo essencial no desdobramento da Cultura Organizacional das Empresas Humanizadas, que por sua vez são responsáveis por criar algum space-time para promover iniciativas, práticas e programas, que permitam este desdobramento.