Entrevista publicada na edição n.º 143 da RHmagazine, referente aos meses de novembro/dezembro de 2022.
Que grandes tendências antecipa para o mercado de trabalho e área dos RH em 2023?
Contratar talento de topo continua a ser essencial para desenvolver o negócio, contudo, o processo necessita de ser adaptado. Caminhamos para um modelo híbrido, assente na flexibilidade laboral, em que se avaliam performances e não horas e local de trabalho. No fundo, empresas mais rentáveis e colaboradores mais felizes.
A distância traz novos desafios à liderança: como garantir a motivação? Como manter um diálogo regular? Devo promover uma vertente mais social nas minhas comunicações? Promover a autonomia dos colaboradores e definir indicadores de atividade concretos é essencial para gerir equipas de uma forma adaptada às circunstâncias. Outro aspeto fundamental é a comunicação, orientada à confiança e proximidade e não ao controlo do colaborador.
À medida que o trabalho remoto ou híbrido se torna cada vez mais a norma, é muito importante que os colaboradores continuem a sentir-se ouvidos e acompanhados. Continuará a ser fundamental recorrer às ferramentas para continuar a partilhar experiências e trabalhar em equipa, virtualmente. Utilizar videoconferências ou o email, para reconhecer publicamente esforços e resultados, ajudará os colaboradores a sentirem que o seu trabalho é valorizado e que são parte da equipa.
Por outro lado, depois do reinado das competências técnicas, termos como competências comportamentais ganharam destaque, sendo cada vez mais importantes na seleção de talento. Atualmente, as empresas enfrentam desafios nunca antes conhecidos e para os superar com êxito deverão contar com profissionais que consigam adaptar- se ao contexto. Assim, as competências digitais serão um requisito praticamente imprescindível para trabalhar num ambiente cada vez mais online. Também soft skills como resiliência, flexibilidade, trabalho em equipa, orientação para resultados serão valorizadas mais do que nunca, assim como a capacidade de inovar e a criatividade. Trata-se de encontrar soluções para novos problemas.
A escassez de talento parece manter-se no mercado de trabalho…
Contratar talento de topo continua a ser essencial para desenvolver o negócio de qualquer empresa. Contudo, é uma tarefa que se torna cada vez mais desafiante.
Como vimos, o COVID-19 impactou empresas e trabalhadores de maneira diferente, dependendo da sua área de atividade. O grau como cada organização e profissional é vulnerável a choques económicos depende significativamente das características do setor. A transformação digital, que podemos incluir na chamada “indústria 4.0”, criou muitas posições novas no mercado de trabalho que não existiam anteriormente e fez evoluir outras para um novo tipo de perfil.
No pós-pandemia, o e-commerce veio para ficar e vai trazer a procura de perfis relacionados com as áreas de logística, marketing digital, estratégia e customer service. Por outro lado, a área de compliance será obrigada a auditar e acompanhar a era digital, resultando na procura de perfis para esta área. Por fim, em engenharia a pandemia e agora os constrangimentos do conflito intensificam a procura por perfis ligados às áreas de logística e supply chain.
Destaco o potencial de crescimento do emprego flexível, com as empresas a recorrer mais (ou pela primeira vez) a perfis temporários, para reforçar o seu capital humano, controlando os custos fixos numa altura de maior incerteza.
Acima de tudo, independentemente do contexto económico e da área de negócio, não se pode perder o foco da atração e gestão do talento humano – ele será o recurso mais valioso de qualquer empresa.
O que devem oferecer atualmente as empresas para conseguir atrair candidatos?
Mais do que o salário, que continua a pesar bastante na atração e retenção de talento, benefícios como o trabalho remoto, prémios de desempenho, seguro de saúde extensível à família, viatura… muito pedidos e valorizados pelos profissionais. As chefias diretas continuam a ter também um peso preponderante e a identificação com a estratégia, valores e cultura da empresa é cada vez mais relevante. Cada vez mais os profissionais procuram conforto e felicidade naquilo que fazem.
O investimento na gestão e captação de talento passou de secundário a indispensável, devendo estar no top of mind das organizações e dos seus decisores. A proposta de valor das empresas tem de evoluir, considerando não só um bom salário e benefícios sociais, como muitos outros fatores. Temas como a flexibilidade, o prestígio da marca, a transparência e compromisso com diversidade, inclusão e sustentabilidade estão na ordem do dia.
Recrutar internacionalmente pode ser uma solução?
Sem dúvida. As empresas nacionais e estrangeiras estão cada vez mais abertas ao recrutamento internacional e recrutam no mercado internacional para amenizar a escassez de talentos e preparar Portugal para atuar num verdadeiro mercado global.
A flexibilidade e a disseminação do trabalho remoto facilitam o desenvolvimento de projetos para outras geografias sem relocalização, o que abre as portas a um maior leque de profissionais, a nível internacional.