Autora: Rosa Rodrigues, Professora Doutora, Investigadora e Docente do ISG – Instituto Superior de Gestão
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onviver diariamente com pessoas difíceis representa um grande desafio, mas é necessário deixar o papel da vítima que se lamenta ou do déspota que procura vingança e entender que as pessoas não são todas iguais e, por isso, a forma de lidar com as mesmas também deve ser diferente. Deste modo, é importante saber tirar proveito das situações complicadas e transformar os problemas em oportunidades de crescimento. Isto implica respeitarmo-nos sem deixar de considerar a outra pessoa como um ser humano, independentemente das suas atitudes e comportamentos, pelo que é fundamental entender os motivos que originam a sua postura. Quando conhecemos melhor a pessoa e as suas experiências de vida, passamos a compreender o que a leva a agir de determinada forma, porque a empatia além de poder ser praticada, também pode ser estimulada.
Somos seres sociais e, como tal, dependemos da interação com os outros, e se queremos estabelecer relações saudáveis, temos que aprender a viver em harmonia com as outras pessoas. Assim, devemos ter consciência de que em qualquer relacionamento há sempre dois intervenientes, dois perfis e dois lados – quem toma a iniciativa e quem se deixa levar –, e quando lidamos com pessoas difíceis é imprescindível saber comunicar.
Na comunicação interpessoal, as palavras não são neutras: umas geram conflitos, outras promovem o diálogo; umas espalham a mentira, outras defendem a verdade; umas provocam o medo, outras fomentam a esperança; umas estimulam o ódio, outras cultivam o amor; umas criam inimigos e outras permitem-nos fazer amigos.
Saber falar é um dom e saber escutar é uma arte.
Todos temos uma lente através da qual vemos o mundo, e que encaramos como sendo a nossa realidade, designadamente: a lente do otimismo realista, a lente invertida e a lente de longo alcance. Na verdade, trata-se de um filtro seletivo que nos ajuda a lidar com as pessoas difíceis com quem lidamos diariamente, e que vale a pena experimentar quando começamos a ceder às emoções negativas.
A lente do otimismo realista faz-nos questionar sobre os factos com que estamos a lidar e sobre o que está por trás desses factos. Ao fazermos esta distinção conseguimos agir em vez de apenas reagir e perceber que existe mais do que uma forma de encarar a situação.
A lente invertida, por sua vez, implica adotar a perspetiva da outra pessoa, mas sem sacrificar o nosso ponto de vista. Significa ser empático, alargar as nossas perspetivas e perceber qual é a nossa responsabilidade naquela situação especifica.
Por último, temos a lente de longo alcance que nos permite ver além do presente e imaginar um futuro melhor. Esta lente leva-nos a refletir sobre o que podemos fazer para evoluir e aprender com a experiência por que estamos a passar, independentemente da forma como a mesma nos faz sentir no momento.
A cultura oriental oferece-nos uma história que nos mostra que o desenvolvimento de relações positivas depende do nosso compromisso em cumprir a “regra de ouro”: fazer antes de exigir.
Uma jovem casou-se e foi viver com o marido para casa da sogra, seguindo a tradição do seu país. Passado algum tempo de convivência, os conflitos começaram a surgir e quando o relacionamento se tornou insuportável, a jovem pensou em livrar-se da sogra. Por conseguinte, foi consultar um velho sábio, que depois de a ouvir queixar-se do inferno em que vivia, pegou numa mão cheia de ervas secas e disse-lhe:
– Misturas estas ervas na comida todos os dias, em pequenas porções, e assim a tua sogra vai-se envenenando lentamente, mas deverás tratá-la bem para que ninguém suspeite de ti, quando ela morrer. Controla os teus impulsos negativos, não discutas com ela, escuta-a com paciência e procura ajudá-la a resolver os seus problemas.
A jovem seguiu o conselho do sábio e começou a preparar cuidadosamente as refeições. Para evitar suspeitas, mostrava-se calma, atenciosa e muito compreensiva. As discussões terminaram e a relação melhorou significativamente. Arrependida, a jovem voltou a procurar o sábio e pediu-lhe:
– Por favor, ajude-me a evitar que o veneno mate a minha sogra. Ela tornou-se uma pessoa agradável e agora gosto dela como se fosse a minha mãe. Não quero que ela morra envenenada por mim.
O sábio sorriu e respondeu-lhe:
– Não te preocupes, as ervas que te dei são vitaminas.
Esta pequena história leva-nos a refletir e ajuda-nos a perceber que não podemos mudar os outros, mas podemos mudar-nos a nós próprios, porque a forma como nos comportamos influencia o modo como se comportam connosco.
Sem os outros não conseguimos viver e cada um colhe o que semeia. Assim, é fundamental avaliarmos o nosso próprio comportamento, porque muitas das vezes a pessoa difícil somos nós!