Chegado o momento de refletir sobre as tendências no setor RH, não poderíamos descurar a formação, que também enfrentou grandes desafios durante a pandemia, sobretudo ao nível da transição ágil e rápida para o digital. A RHmagazine falou com Maria José Amich, Diretora Executiva do The Lisbon MBA Católica | Nova, e com Catarina Costa, responsável pelo campus de Lisboa da Ironhack, que abordam os principais desafios enfrentados pelas duas instituições de ensino durante os tempos de maior crise, bem como a forma como a eles se adaptaram. Fique igualmente a par das reflexões acerca das tendências para a Educação em 2022.


Quais os principais desafios enfrentados pela academia nestes últimos quase dois anos de pandemia?
Maria José Amich (MJA) Perante um cenário de pandemia, respondemos de forma ágil e em colaboração com alunos e professores, garantindo a continuidade dos programas Executive MBA (programa part-time de 22 meses, destinado a profissionais com um mínimo de cinco anos de experiência e média de 12, que desejam evoluir para posições de top management nas suas organizações ou mudar de carreira) e International MBA (programa intensivo full-time de 12 meses, destinado a profissionais de alto potencial, com um mínimo de três anos de experiência e média de oito, que pretendem acelerar ou mudar as suas carreiras), com o mínimo de disrupção e tendo sempre como objetivo garantir a qualidade e o rigor do ensino, não perdendo o foco na nossa promessa de uma experiência de transformação única, holística, num contexto internacional e empreendedor.
De referir que a classe do International MBA 2021, que iniciou em janeiro passado e que acabou de se graduar, teve a oportunidade de se deslocar aos Estados Unidos em outubro e realizar o programa de imersão no MIT Sloan, com foco em disciplinas ligadas a inovação tecnológica, novos modelos de negócio e empreendedorismo, sendo que a classe do Executive MBA 2020-22 terá a oportunidade de ir no mês de junho de 2022. A nossa parceria com o MIT Sloan, que já data de 2007, reflete o nosso compromisso em proporcionar aos nossos alunos de MBA uma verdadeira experiência multicultural, mesmo em tempos desafiantes como os que vivemos.
Catarina Costa (CC) À semelhança das outras escolas, e numa primeira instância, tivemos de encerrar temporariamente os nossos campus físicos, um pouco por todo o mundo, e adaptar-nos ao remoto. Um dos grandes desafios foi mesmo fazer uma transição ágil e rápida dos cursos para o digital, sem criar perturbações no ensino. Já no ano passado, quando reabrimos as portas, voltámos a passar por mais uma reinvenção, para assegurar que, num momento em que vários queriam viver o ensino presencial, todas as regras de segurança eram cumpridas, sem exceções. Assim, foi necessário instaurar um protocolo rigoroso e em conformidade com as normas oficiais, que ainda hoje se mantém.
Por outro lado, tendo em conta que, durante o primeiro confinamento, surgiu uma “onda” de eventos e workshops online, tivemos de nos adaptar e criar uma forma de sobressair e criar interesse nas pessoas, para que participassem nas iniciativas que fomos promovendo. Tivemos de reaprender muita coisa, mas foi um desafio – acreditamos – superado.
Como é que a sua instituição se adaptou a estes novos desafios?
MJA Conforme referido, perante um cenário de pandemia, respondemos de forma ágil e toda a comunidade (escolas, professores, alunos, alumni e equipa de gestão) mostrou uma grande resiliência e capacidade de adaptação, que junto a uma liderança ágil e focada, permitiu-nos ultrapassar juntos os obstáculos que fomos encontrando pelo caminho.
De salientar a comunicação reforçada com os alunos, nomeadamente através de webinars e conteúdos ligados a aspetos comportamentais e emocionais, com sessões online de mentoring e de coaching one-to-one e em grupo, que focavam em aspetos ligados a motivação em tempos de crise, organização e gestão do tempo em teletrabalho, assim como sessões de mindfulness, com o intuito de apoiar os alunos a melhorar a sua compreensão e gestão das próprias emoções e inclusive evitar o burnout.
Apesar do contexto gerado pela pandemia, continuamos a privilegiar o ensino presencial e o valor da componente de action learning, na qual os alunos aprendem através da experiência em gestão real de projetos corporativos e empreendedores, o que caracteriza e diferencia a aprendizagem do The Lisbon MBA Católica | Nova.
CC Sempre tivemos a certeza de que no momento em que as escolas abrissem queríamos voltar ao método de ensino presencial, ainda que isso nos levasse a um cuidado redobrado. Para nós, o mais importante foi sempre garantir a melhor experiência aos alunos e, estando distantes, a solução foi implementar momentos de lazer pós-aulas com algumas atividades que unissem toda a escola. O nosso mecanismo de recolha de feedback, que já existia antes, mostrou-se bastante eficaz e foi fulcral para a evolução dos nossos bootcamps.
Enquanto instituição global, a Ironhack abriu um novo campus, o Ironhack Remote, por percebermos que seria uma oportunidade de levar o nosso método de ensino, que tem características muito particulares, como é o caso da personalização e da eficiência, a locais onde ainda não tínhamos operações.
Quais os aspetos positivos que retiraram destas mudanças?
MJA A procura da formação executiva tende a evoluir quando a economia desacelera, já que momentos de crise são incentivos para o investimento no upskilling e reskilling e os últimos dois anos não foram exceção.
De facto, em ambos os programas de MBA verificamos um efeito de contraciclo: mesmo mantendo elevados critérios de rigor de admissão, registámos um aumento do número de alunos nas nossas turmas, quer do The Lisbon MBA International, quer do The Lisbon MBA Executive, em comparação com o ano anterior. Tivemos turmas muito diversas em termos de nacionalidade, género e background. A título de exemplo, o International MBA teve em 2021 perto de 55% de alunos internacionais, com uma representação de 15 nacionalidades diferentes, o que traz perspetivas e pontos de vista muito diversos, enriquecendo a discussão em classe e a aprendizagem coletiva da turma.
O bom trabalho realizado reflete-se também nos últimos resultados de rankings internacionais: no Financial Times, subimos para a posição 24 em Europa e 82 no mundo, e somos por quarto ano consecutivo o número um no mundo no critério de “International Course Experience”; pela primeira vez, marcamos presença nos melhores do mundo no prestigiado ranking da revista The Economist, alcançando o 89 lugar no mundo e 36 a nível europeu.
The Lisbon MBA Católica | Nova é o único MBA em Portugal a estar presente nos rankings internacionais dos Top MBA no mundo.
CC Resiliência, atitude positiva e vontade de aprender rápido de modo a dar a melhor experiência possível a todos os nossos alunos! Ficou provado que a digitalização faz cada vez mais parte das nossas vidas, e este é um fator que teve, e continua a ter, um impacto muito positivo no crescimento da Ironhack e dos nossos estudantes.
Acreditamos que a pandemia teve um efeito forte de introspeção nas pessoas e muitas começaram a analisar a sua vida, percebendo que não tinham o work-life balance, ou até a carreira que queriam. Além disso, muitas pessoas ficaram, infelizmente, desempregadas, por isso o nosso objetivo foi ser parte da solução, sendo uma extensão do novo caminho que várias pessoas adotaram e apostando no reskilling, para que os nossos estudantes pudessem mudar com alguma facilidade de carreira, entrando numa área com muita oferta e salários competitivos.
Também a Ironhack Remote, inicialmente criada devido aos confinamentos, revela ser uma abordagem benéfica. Apesar de, hoje, estarmos a ter as aulas em formato presencial, mantivemos um bootcamp completamente remoto, o que nos permite chegar a mais pessoas e ajudá-las a adaptarem- se aos desafios do setor tecnológico.
Quais as tendências que prevê que marquem a Educação em 2022?
MJA Quando falamos em tendências no setor da Educação torna-se inevitável salientar que a pandemia acelerou mudanças, provocadas pela disrupção tecnológica, que já estavam em curso nas empresas e também nos programas de MBA, e que irão manter-se para 2022.
Empresas e líderes têm de ser mais ágeis e resilientes, focados na inovação, transformação digital, capazes de partilhar uma visão com propósito, inspirando e mobilizando equipas para a mudança numa cultura empreendedora, de empowerment e de accountability.
No The Lisbon MBA Católica | Nova, desenvolvemos o potencial dos nossos alunos para se tornarem líderes com impacto, principled leaders, promovendo o pensamento crítico e estratégico e a resolução de problemas complexos, através de uma formação focada em novos modelos e métodos para uma gestão empresarial eficaz, assim como o desenvolvimento de competências interpessoais e de liderança, com foco no action learning.
CC 2022 vai ser um ano de recomeço e, esperamos nós, de retorno a um contacto mais pessoal.
À medida que os modelos híbridos, ou mesmo completamente remotos, de aulas vão-se instaurando, começa a existir, de uma forma generalizada, uma despersonalização na educação.
Assim, a aposta na humanização, nas soft skills e na reflexão crítica, aliada ao reaproximar entre professores e estudantes, irá marcar o próximo ano.
Também o uso de tecnologias no ensino vai-se manter, capacitando os alunos com valências digitais. Adicionalmente, o ensino mais prático e rápido fará parte do nosso quotidiano, através de modelos de educação que permitam o reskilling e a entrada rápida no mercado de trabalho, como é o caso da Ironhack.
De que forma é que a academia está a preparar os profissionais para os desafios do futuro?
MJA Desenvolvemos o potencial dos nossos alunos para se tornarem líderes com impacto, principled leaders, promovendo o pensamento crítico e estratégico e a resolução de problemas complexos, através de uma formação focada em novos modelos e métodos para uma gestão empresarial eficaz, assim como o desenvolvimento de competências interpessoais e de liderança, com foco no action learning.
Assim, temos uma proposta de valor que assenta em cinco componentes: Truly Global Experience (um programa de imersão num dos melhores MBAs do mundo, o MIT Sloan nos EUA), programas de Exchange com business schools de topo, uma classe muito International, bem como um corpo docente com formação e experiência internacional, a Outstanding Action Learning (aprendizagem “hands-on”), Holistic Development (desenvolvimento das competências comportamentais, interpessoais e de liderança) e a Meaningful Career Advancement (acompanhamento personalizado, para ajudar os alunos na descoberta do seu propósito). Nestes cinco pilares estratégicos, implementámos constantemente mudanças nos projetos integrantes de cada um, sendo que o seu desenvolvimento e inovação têm sempre como objetivo o reforço da nossa proposta diferenciadora de valor.
Além da componente académica dos programas, os alunos têm inúmeras oportunidades de fazer crescer a sua rede de contactos, seja através das The Lisbon MBA Talks – sessões realizadas durante todo o ano com CEO’s e com executivos seniores dos mais diversos setores e áreas funcionais -, seja através das ações implementadas pela comunidade de alumni.
CC Dado que os nossos cursos intensivos oferecem um ensino rápido e incisivo, onde usamos muitos casos reais com empresas durante as aulas, os nossos estudantes conseguem obter valências essenciais, as chamadas hard skills, para o mercado de trabalho. Também nos focamos bastante no desenvolvimento de soft skills, nomeadamente a empatia e o gosto por trabalhar em equipa. Além disso, todos os nossos professores têm uma relação próxima com os estudantes, atuando quase como seus mentores e explicando-lhes a forma mais adequada de se estar no mercado de trabalho. É por isso que o nosso foco passa muito pelo ensino presencial.
A nível mais operacional, é importante para nós continuar a trabalhar nos currículos técnicos das diferentes áreas e mantê-los o mais atualizados possível, de modo a conseguirmos salvaguardar a nossa vantagem competitiva não só com os alunos, mas também com as empresas.
A Ironhack oferece bootcamps de Web Development, Data Analytics, Cybersecurity e UX/UI Design – vertentes estruturantes tanto no setor tecnológico, como na própria sociedade e que têm vindo a emergir em todas as empresas.
Acreditamos, por isso, que estamos a criar a próxima geração de criadores digitais.